Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
pirâmide etária

100 anos de vida desregrada?

Pesquisa revela que grupo de centenários alcançou a longevidade mesmo sem rigores à mesa ou exercícios físicos. Especialistas desencorajam o comportamento

Iva, 99, e Abdon do Nascimento, 101 | Fotos: Daniel Castella no/ Gazeta do Povo
Iva, 99, e Abdon do Nascimento, 101 (Foto: Fotos: Daniel Castella no/ Gazeta do Povo)
Benedicta Worms Barbosa Campelo, 103 |

1 de 1

Benedicta Worms Barbosa Campelo, 103

O número de centenários no Brasil passou de 14 mil para 23 mil em uma década, de acordo com dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo com o aumento, é difícil pensar que para chegar lá algum deles tenha vivido sem se preocupar com a saúde, fazer exercícios físicos ou cuidar da alimentação. No entanto, um estudo do Instituto de Pesquisas sobre o Enve­lhe­cimento da Universidade de Yeshiva, nos Estados Unidos, mostrou que uma parcela considerável de pessoas que passaram dos 95 anos consumiram frituras, bebidas alcoólicas, fumaram e deixaram de lado a prática de exercícios físicos.

De acordo com o estudo, 57% dos centenários e 53% das centenárias não praticaram exercícios regularmente durante a vida. Cerca de 60% dos homens, ainda, fumaram ao menos 100 cigarros durante a vida. A obesidade também foi recorrente no grupo. Do total, 48% dos homens e 44% das mulheres eram obesos.

A pesquisa foi feita com 477 judeus – grupo considerado geneticamente mais homogêneo – entre 95 e 109 anos. Eles foram questionados sobre seu estilo de vida até os 70 anos e as respostas foram comparadas àquelas dadas por 3.164 pessoas com idade entre 65 e 74 anos (ver info).

Os resultados poderiam encorajar muitos a afrouxar a rigidez nos cuidados com a saúde no caminho para a velhice, mas a hipótese para explicar o alcance de uma vida longa mesmo com um estilo de vida pouco saudável estaria na genética de uns poucos privilegiados. "Isto não significa que se alguém quiser chegar aos 100 anos poderá fumar e deixar de praticar atividades físicas. Isto quer dizer que existem pouquíssimas pessoas que chegarão aos 100 anos e para elas ter bons ou maus hábitos não importa – elas vão chegar lá de qualquer maneira", disse o médico e autor do estudo Nir Barzilai, em entrevista para a revista Time.

Eles somam 303 anos

Contrariando os dados da pesquisa americana, Benedicta Worms Barbosa Campelo, 103 anos, e o casal Iva do Nascimento, 99 anos, e Abdon do Nascimento, 101 anos, tiveram uma vida bastante regrada. Eles são três dos cerca 140 centenários da cidade de Curitiba.

A vida de dona de casa de Benedicta sempre foi muito caseira, mas ela era acostumada a fazer longas caminhadas para visitar os parentes. Nas refeições, o exagero nunca esteve à mesa. "Gosto muito de arroz, feijão, verduras. Minha alimentação sempre foi muito normal", diz Benedicta.

Apesar de ser diabética há 20 anos, ultimamente ela não abre mão dos doces – único deslize que diz se permitir. "Todos os dias como um pouco de sobremesa, mas não é nada exagerado. Em casa, meus pais faziam muitos doces, tachos de goiabada, e comíamos bastante, mas hoje não é assim", conta ela que é a única remanescente de 10 irmãos.

Na vida de 73 anos de casados de Iva e Abdon a saúde foi mantida ao custo de ficar longe do cigarro e dos excessos do álcool – segundo a esposa, esse é o motivo da longevidade de ambos. No dia a dia, a comida brasileira sempre fez parte da rotina da família, com espaço para algumas frituras como pastéis, mas em pouca quantidade, garantem.

Juril Campelo, filha do casal, se lembra dos pais como um casal bastante ativo. "Eles caminhavam muito, meu pai fazia ginástica com pequenos pesos de areia e usou a esteira mecânica até os 90 anos", conta.

Na família Nascimento, viver por muito tempo está no sangue: o pai de Iva viveu 100 anos, seus oito tios passaram dos 80 e cinco primas passaram dos 90. Entre encarar o centenário como um fardo, por dizer adeus à maioria que passou pela vida de forma mais rápida, ou como uma dádiva, por terem visto o mundo se desenvolver e a família aumentar, os três preferem a última opção. "Vivi uma vida feliz, cercada por pessoas muito boas", diz Benedicta.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.