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No Hospital Pequeno Príncipe, a música é usada para aliviar as dores dos pacientes e para animar as crianças internadas que ficam angustiadas. Na sequência, os pacientes Rafaela, Pablo e Paulo com o músico Ricardo Pacheco | Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
No Hospital Pequeno Príncipe, a música é usada para aliviar as dores dos pacientes e para animar as crianças internadas que ficam angustiadas. Na sequência, os pacientes Rafaela, Pablo e Paulo com o músico Ricardo Pacheco| Foto: Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

A ?Quinta Sinfonia? composta pelo alemão Ludwig van Beethoven, entre 1804 e 1808, tornou-se uma das mais populares e intensas peças da música erudita europeia. Os acordes, compostos pelo músico que teve sérias crises depressivas depois de ficar surdo, além de serem reconhecidamente uma invenção de gênio, ajudam a destruir células tumorais ligadas ao câncer de mama (MCF-7). Foi o que concluiu uma pesquisa do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Caderno SAÚDE - Música no Hospital

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Uma cultura de células foi exposta, em laboratório, durante meia hora a uma canção de Beethoven. Foram usadas nos testes composições também do húngaro György Sándor Ligeti e do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. A equipe de pesquisadores aguardou 48 ho­­ras para ga­­rantir que as células tumorais tivessem ao menos um ciclo de reaplicação. Uma em cada cinco delas morreu. A ação, de acordo com a coordenadora do estudo e professora da UFRJ, Marcia Alves Marques Capella, ocorre por conta da onda mecânica, já que o estudo é feito diretamente com as células e não com o paciente. ?Sua interação [das ondas] com a matéria certamente envolve fenômenos de absorção, reflexão e ressonância?, explica.

A ideia do estudo surgiu justamente para desvincular a ação das emoções do paciente, já que é costume creditar respostas como as do estudo ao sentimento despertado. ?A nossa abordagem foi muito simples: se existir realmente um efeito direto, podemos observá-lo em cultura de células e estudar a resposta ao som e aos mecanismos pelos quais essas respostas acontecem?, salienta a coordenadora.

No entanto, Márcia ressalta que não há nenhum dado que sugira que a música possa tratar o câncer. ?Nossos estudos ainda são iniciais e não temos condições de falar absolutamente nada sobre um possível uso da música. A medicina atual conta com radioterapia, quimioterapia e cirurgia, que conseguem tratar a maioria dos tumores com grande eficiência. Não temos a pretensão de mudar isso?. O grupo, que também conta com o músico e professor de canto Marcos de Castro Teixeira, pretende usar outros estilos musicais e avaliar a influência do timbre dos instrumentos.

Crianças

Em outra esfera, a música é utilizada para alívio da dor e de sentimentos como tristeza e apatia, mas sem embasamento científico. No Hospital Pequeno Prín­­cipe, a música das atividades da área de educação e cultura não tem a pretensão de servir diretamente para tratamento. Porém, acaba auxiliando no combate aos problemas citados, principalmente para quem passa um período longo no hospital. ?Para as crianças é mais traumático do que para o adulto sair da sua rotina e ficar hospitalizado. Por isso, a música ajuda muito, mas jamais impusemos alguma atividade. Buscamos a conquista da criança?, diz a pediatra e médica da dor do hospital Luciane Valdez.

Em um dos projetos, chamado de ?Música para bebês e crianças?, um músico passa nos quartos com um ?cardápio musical?, onde a criança escolhe a canção e interage com os instrumentos. ?Embora seja de difícil mensuração na parte científica, temos retorno das crianças, com alegria e energia, e no depoimento de pais que dizem que o filho estava deprimido e a música o fez levantar da cama?, diz o coordenador de educação e cultura do Pequeno Príncipe, Cláudio Teixeira.

Os companheiros de quarto Pablo Daniel Rodrigues, 8 anos, e Wagner Nascimento, 7, esqueceram um pouco da cirurgia que realizarão nos próximos dias quando o músico Ricardo Pacheco atendeu aos pedidos dos meninos de tocar ?O Trem das 11?. Já Rafaela Marques, de 10 anos, foi uma das mais animadas com a visita e pediu canções de Roberto Carlos. Ela faz tratamento há seis anos no hospital contra a síndrome de Beçet (que atinge o sistema imunológico e causa inflamações). Por causa da doença, Rafaela perdeu parte da visão aos três anos e ficou completamente sem enxergar há um ano e meio. A música ajuda na distração dos longos períodos que passa no hospital. ?Ela interage muito bem com os músicos e adora as atividades diferentes?, diz a mãe, Márcia de Moraes Marques.

Paulo Truppel, de 10 anos, que recebeu alta após 15 dias internado, se interessou pelo violão assim que o músico chegou à brinquedoteca do hospital. Ele perdeu parte do movimento na perna direita após uma queda e ainda não tem um diagnóstico concluído. ?Se ele ficasse só no quarto, estaria triste e agressivo. É isso que ajuda a seguir com o tratamento?, diz a mãe Merelis Aparecida Truppel.

Música auxilia no tratamento de dependentes

O Hospital Samaritano, de São Paulo, que tem clínica pública para tratamento de jovens dependentes de álcool e drogas (parceria com a Secretaria Estadual de Saúde), iniciou há um mês aulas de violino para as pessoas que estão em tratamento.

As três horas de aulas estão ajudando no resgate do papel social desses jovens. O projeto tem parceria com o Ministério da Saúde. Apesar de o projeto ter sido implementado há pouco tempo, a equipe já observa melhora na autoestima e desenvolvimento do raciocíniológico dos pacientes. ?Aprender o instrumento exige disciplina, algo que eles precisam desenvolver?, ressalta a coordenadora de responsabilidade social da Coor­­­denação de Ciência, Educação e Cultura do hospital, Eliseth Leão.

As aulas duram cerca de três meses (o tempo de internação), mas a intenção do hospital é realizar um acompanhamento posterior por dois anos.

Eliseth desenvolve pesquisas científicas sobre os benefícios da música na saúde humana e pontua que, além do sensação de relaxamento, diminuição da frequência cardíaca e respiratória, a música clássica também gera, sem indução, que a pessoa projete imagens mentais de paisagens, por exemplo.

Em uma de suas pesquisas, ela colocou pessoas hospitalizadas para audição de uma ópera de Wagner. Todas relacionaram a música com a visualização de alguma perda. ?Isso gerou uma liberação de emoções reprimidas, o que aliviava a dor?. Outro projeto encabeçado por ela foi ?Uma Canção no Cuidar?, que atendeu mais de 8 mil pessoas entre 2003 e 2008 e possibilitou cinco projetos científicos.

Semanalmente, um grupo formado por funcionários do hospital cantava um repertório para os pacientes. ?O estado de apatia e depressão que a internação causa melhoravam. Além disso, as enfermeiras relatavam que as pessoas que participavam tinham uma noite de sono mais tranquila e precisaram de uma quantidade menor de analgésicos? relata Eliseth.

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