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Maria Clara abraça a mãe Josélia, ao lado do pai, Airton, e do irmão, Airton Neto | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Maria Clara abraça a mãe Josélia, ao lado do pai, Airton, e do irmão, Airton Neto| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo

Quando a filha Maria Clara, hoje com cinco anos, nasceu, de seis meses e 630 gramas, a microempresária Josélia Cronthal Gallego, de 41 anos, se esforçou para ser forte. Apesar da tristeza de não poder levá-la para casa, ela sempre pensava que seu sofrimento era "nada" se comparado ao da menina. "Por serem muito pequenos e frágeis [os prematuros], os médicos não podem dar anestesia, pois não se sabe se eles irão suportar. Então, alguns procedimentos eram feitos sem anestesia. Como é que eu poderia ter dó de mim?".

A história da família poderia ser tema de um filme sobre superação. Há 12 anos, Josélia engravidou do primeiro filho com o marido, o microempresário Airton, mas sofreu uma pré-eclâmpsia e o bebê não resistiu. Naquela época, o hospital de Telêmaco Borba (nos Campos Gerais), onde moravam, não possuía UTI neonatal. Pouco depois, o casal teve Airton Neto, hoje com 11 anos, que nasceu saudável. Seis anos depois, Josélia resolveu ter outro filho, e então, aos seis meses de gestação, os problemas começaram.

Numa certa tarde, quando faltavam seis dias para uma consulta, a visão de Josélia ficou turva e ela sentiu um peso insuportável na barriga. Perdeu muito liquido amniótico. Três dias depois, foi trazida para a capital, e teve uma pré-eclâmpsia. Foi preciso antecipar o parto, e Maria Clara, logo que nasceu, precisou tomar uma injeção para amadurecer os pulmões.

A situação era desesperadora para o casal, pois a carência do plano de saúde para parto não havia vencido, e a menina havia nascido em um hospital particular. Após 20 dias com a filha internada, Josélia que era funcionária de uma secretaria do município, foi pedir ajuda a políticos, pois a conta estava se tornando "astronômica". "Fui a uma regional de saúde e pedi para falar com o responsável. Ele me disse: ‘a única coisa que posso fazer é incluir vocês nas minhas orações’. Saí arrasada".

Na época, a UTI neonatal do Hospital Evangélico de Curitiba, especializado em gestação de alto risco e referência em neonatologia, estava interditada por conta de uma bactéria. Ainda assim, o casal insistiu para que a menina fosse aceita. A chefe do Setor de Neonatologia da instituição, Evanguelia Athanasio Shwetz, aceitou o desafio. Foram quatro meses de UTI, dos quais três meses e meio entubada.

Durante esse tempo, Josélia via a filha através de vidros, e não podia abraçá-la ou acariciá-la. A menina teve problemas no pulmão, que se encheu de bolhas de sangue, pegou uma bactéria e chegou a perder peso – dos 630 gramas com os quais nasceu, perdeu 70 gramas e chegou a pesar 560 gramas.

Nesse período, a mãe abandonou tudo – o emprego, o marido e o filho. Ficava das 8h às 17h no hospital. A família sentiu o baque. O filho ainda fica magoado ao se lembrar daquela época, quando dizia que a mãe não lhe dava atenção. Airton Neto até hoje frequenta sessões com psicólogos para enfrentar o problema, e costuma dizer: "Eu sou do pai, a Maria é da mãe". O casamento de Josélia se fortaleceu, mas a intimidade do casal ficou abalada. "Essas coisas ficam em segundo plano, mas posso dizer que nós nos fortalecemos como marido e mulher, e pouco depois tudo se normalizou".

Quando a menina teve alta, a situação ainda era "dramática", segundo a mãe. Como Maria não havia mamado no peito durante o período na UTI (era alimentada por meio de sondas), era preciso dar-lhe leite num copinho de xarope – eram cinco ml a cada meia hora. Uma noite, a menina se afogou, ficou "escurinha" e a mãe precisou ter calma e sangue frio para fazê-la voltar a respirar.

Durante um ano após a alta, a mãe sentia tanto medo que mal permitia visitas à bebê. "Também não tirei fotos dela, porque tinha medo que as pessoas comentassem que ela era feia ou estranha, pois ela era só ossinhos e cabecinha... Hoje me arrependo, pois não temos muitas recordações, mas na época eu pensava assim", diz.

Por ter passado e sobrevivido por tamanho drama, Josélia dá dois conselhos importantes aos pais: o primeiro é que a mãe precisa ter forças, e o pai, paciência. "O bebê prematuro exige muito da mãe. Já o pai precisa estar junto, dar apoio, ter paciência".

O segundo conselho é que as mães precisam se preparar para enfrentar o que for necessário pelos filhos. "É preciso ter a consciência de que nem tudo sai como imaginamos. Se você quer ser mãe, tenha ciência de que esse ser humano que você carrega pode ter problemas. Mas isso não é o fim do mundo. Seja forte. Pelo seu filho".

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