
Todos os anos, 400 mil brasileiros enfartam. Para quem sobrevive, o risco persiste, principalmente pela falta de informação e pela resistência em se livrar dos maus hábitos. Isso é o que mostra uma pesquisa do Datafolha feita em seis capitais com 610 pessoas que sobreviveram a um enfarte, a grande maioria acima dos 63 anos de idade. Segundo o levantamento, mais da metade dos enfartados (57%) não sabe reconhecer com clareza os sintomas da Síndrome Coronariana Aguda (SCA). "O paciente que já sofreu um enfarte pode ter outro e com características diversas do primeiro evento, com dores que se manifestam de forma totalmente diferente. Por isso é preciso estar sempre alerta", observa o cardiologista Jorge Ilha, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
Os males do coração são a maior causa de morte no Brasil. Eles vitimam 300 mil pessoas por ano. Para sobreviver a eles, além do acompanhamento médico de rotina, feito por 80% do público, e da medicação contínua, a vontade do paciente em modificar hábitos é crucial. Porém, mesmo depois do susto de um enfarte, 20% dos participantes da pesquisa não mudaram os hábitos alimentares e sedentários. Além disso, 19% deles continuaram a fumar.
Foi o que aconteceu com Luiz Carlos Landuche, 58 anos, que, como 33% dos entrevistados, teve dois enfartes: o primeiro aconteceu aos 36 anos de idade e, quando completou 49 anos, um novo susto o obrigou a colocar quatro pontes de safena. Somente após o último ataque cardíaco ele largou o cigarro, vício que o acompanhava há 35 anos. "Tudo aconteceu por conta do tabagismo e pelo excesso de trabalho. Foi por necessidade e por vontade própria que parei de fumar", conta ele, que admite não ter conseguido colocar exercícios físicos em sua rotina de engenheiro civil. "Sempre fui sedentário, não consigo fazer exercícios, porque o trabalho é uma loucura", justifica.
Idade
O avanço da idade é um fator que torna mais difícil a identificação dos sinais de um infarte. "A dor torácica é muito forte, opressiva. É bem típica deste tipo de evento, mas pode haver dores em vários locais do tórax ou mesmo pouca dor, principalmente em idosos. O eletrocardiograma muitas vezes não detecta o enfarte, tornando o diagnóstico mais difícil. A certeza será dada apenas por exames de sangue", esclarece Jorge Ilha, presidente da SBC.
Há sete anos, o aposentado Manuel Pereira Costa foi ao cardiologista devido ao cansaço extremo que sentia no dia a dia. Por meio de exames, foram detectadas quatro artérias obstruídas e o registro de um enfarte que ele nem percebeu. "Até hoje eu não sei quando aconteceu, não senti dor alguma. O médico não me assustou, só me disse que eu já havia enfartado", conta ele que, hoje, aos 80 anos, recuperou a qualidade de vida com quatro pontes de safena e uma rotina de caminhadas.
Se o mal-estar for detectado, o socorro rápido faz a diferença no momento de salvar uma vida, tanto que 68% dos entrevistados reconhecem a importância de um atendimento eficaz. No entanto, 5% deles chamariam o próprio médico diante de uma emergência atitude comum, mas que precisa ser desencorajada. "É comum recebermos telefonemas no meio da noite. Quando falamos para levar o paciente ao hospital muitos imaginam que a gente não quer sair de casa, mas não se pode perder tempo. O mais importante é chegar rápido à emergência, pois a angioplastia primária, procedimento para desmanchar o coágulo, só funciona nas primeiras horas", alerta Jorge. Depois de um ataque cardíaco, a pessoa precisará de cuidados pelo resto da vida, além de usar medicamentos que inibem a formação de coágulos nas artérias, como fazem 77% dos entrevistados pela pesquisa.



