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Landuche teve dois enfartes, mas só no segundo largou o cigarro. Agora, para fugir do estresse, ele vai para a rua com o carrinho de controle remoto | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Landuche teve dois enfartes, mas só no segundo largou o cigarro. Agora, para fugir do estresse, ele vai para a rua com o carrinho de controle remoto| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Mal-estar

Sufoco no peito até na hora do descanso

Sentindo um sufoco no peito e formigamento mesmo em momentos de descanso, o advogado Osny Schmal, 78 anos, sofreu por anos de angina instável, uma característica da Síndrome Coronariana Aguda (SCA). "A pessoa pode até ter uma placa de gordura na artéria e viver relativamente bem, com alguma dor diante de um esforço maior, mas com o passar do tempo as plaquetas podem se agregar neste local e formar um trombo que bloqueia a coronária, o que pode acontecer a qualquer instante", afirma o cardiologista Otávio Rizzi Coelho, Chefe da Unidade de Cardiologia da Unicamp. Ele lembra que já avaliou pacientes de manhã, que estavam bem, e à noite apresentaram o quadro de enfarto.

Quando Osny tinha 50 anos de idade, antes que o quadro evoluísse para um enfarto, ele descobriu três artérias obstruídas e se submeteu à colocação de pontes de safena. "Eu era um fumante inveterado, fumava mais de uma carteira por dia", conta. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Jorge Ilha, o problema pode ser evitado desde que o paciente procure um médico especializado. "Uma pessoa que tem colesterol alto, é hipertenso e fuma tem 16 vezes mais chance de ter um enfarto", reforça. Com isto em mente e seguindo recomendações médicas, Osny largou o fumo e há mais de trinta anos mantém o peso médio de 85 quilos com a ajuda de exercícios físicos feitos sem exageros e recomendados por um ortopedista e pelo seu cardiologista de confiança. (DT)

Fique atento

Algumas informações importantes sobre as possibilidades de enfarte:

Maus hábitos

Um em cada cinco entrevistados pelo Datafolha não mudaram os hábitos após sofrerem enfarte. Entre eles, 19% continuam fumando uma média de 14 cigarros ao dia. Entre os principais temores em relação à saúde estão os problemas do coração (47%), seguido do câncer (43%) e do derrame cerebral/acidente vascular cerebral (35%).

Reconhecimento

A maioria dos enfartados não sabe reconhecer com clareza a ocorrência de um enfarte: 39% sabem reconhecer apenas alguns sintomas e 18% não sabem reconhecer. Somente 43% conseguem reconhecer bem os sintomas.

Sintomas

Desconforto no peito, dor nos braços, costas, pescoço, mandíbula ou estô­ma­go. Respiração curta antes ou jun­­to com a dor no peito. Enjoo e suor frio.

Grupos de risco

Pessoas com colesterol alto, hipertensos, fumantes, diabéticos ou com histórico de doenças cardiovasculares na família.

Todos os anos, 400 mil brasileiros enfartam. Para quem sobrevive, o risco persiste, principalmente pela falta de informação e pela resistência em se livrar dos maus hábitos. Isso é o que mostra uma pesquisa do Datafolha feita em seis capitais com 610 pessoas que sobreviveram a um enfarte, a grande maioria acima dos 63 anos de idade. Segundo o levantamento, mais da metade dos enfartados (57%) não sabe reconhecer com clareza os sintomas da Síndrome Coronariana Aguda (SCA). "O paciente que já sofreu um enfarte pode ter outro e com características diversas do primeiro evento, com dores que se manifestam de forma totalmente diferente. Por isso é preciso estar sempre alerta", observa o cardiologista Jorge Ilha, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Os males do coração são a maior causa de morte no Brasil. Eles vitimam 300 mil pessoas por ano. Para sobreviver a eles, além do acompanhamento médico de rotina, feito por 80% do público, e da medicação contínua, a vontade do paciente em modificar hábitos é crucial. Porém, mesmo depois do susto de um enfarte, 20% dos participantes da pesquisa não mudaram os hábitos alimentares e sedentários. Além disso, 19% deles continuaram a fumar.

Foi o que aconteceu com Luiz Carlos Landuche, 58 anos, que, como 33% dos entrevistados, teve dois enfartes: o primeiro aconteceu aos 36 anos de idade e, quando completou 49 anos, um novo susto o obrigou a colocar quatro pontes de safena. Somente após o último ataque cardíaco ele largou o cigarro, vício que o acompanhava há 35 anos. "Tudo aconteceu por conta do tabagismo e pelo excesso de trabalho. Foi por necessidade e por vontade própria que parei de fumar", conta ele, que admite não ter conseguido colocar exercícios físicos em sua rotina de engenheiro civil. "Sempre fui sedentário, não consigo fazer exercícios, porque o trabalho é uma loucura", justifica.

Idade

O avanço da idade é um fator que torna mais difícil a identificação dos sinais de um infarte. "A dor torácica é muito forte, opressiva. É bem típica deste tipo de evento, mas pode haver dores em vários locais do tórax ou mesmo pouca dor, principalmente em idosos. O eletrocardiograma muitas vezes não detecta o enfarte, tornando o diagnóstico mais difícil. A certeza será dada apenas por exames de sangue", esclarece Jorge Ilha, presidente da SBC.

Há sete anos, o aposentado Manuel Pereira Costa foi ao cardiologista devido ao cansaço extremo que sentia no dia a dia. Por meio de exames, foram detectadas quatro artérias obstruídas e o registro de um enfarte que ele nem percebeu. "Até hoje eu não sei quando aconteceu, não senti dor alguma. O médico não me assustou, só me disse que eu já havia enfartado", conta ele que, hoje, aos 80 anos, recuperou a qualidade de vida com quatro pontes de safena e uma rotina de caminhadas.

Se o mal-estar for detectado, o socorro rápido faz a diferença no momento de salvar uma vida, tanto que 68% dos entrevistados reconhecem a importância de um atendimento eficaz. No entanto, 5% deles chamariam o próprio médico diante de uma emergência – atitude comum, mas que precisa ser desencorajada. "É comum recebermos telefonemas no meio da noite. Quando falamos para levar o paciente ao hospital muitos imaginam que a gente não quer sair de casa, mas não se pode perder tempo. O mais importante é chegar rápido à emergência, pois a angioplastia primária, procedimento para desmanchar o coágulo, só funciona nas primeiras horas", alerta Jorge. Depois de um ataque cardíaco, a pessoa precisará de cuidados pelo resto da vida, além de usar medicamentos que inibem a formação de coágulos nas artérias, como fazem 77% dos entrevistados pela pesquisa.

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