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A família Kestering com as pernas de fora: fator hereditário fez com que Kátia, 36 anos, tivesse varizes desde os 23 | Hedeson Alves/Gazeta do Povo
A família Kestering com as pernas de fora: fator hereditário fez com que Kátia, 36 anos, tivesse varizes desde os 23| Foto: Hedeson Alves/Gazeta do Povo

Tira-dúvidas

Esclareça algumas questões sobre varizes e doenças venosas:

Há varizes internas?

A doença é do sistema venoso superficial, mas isso não quer dizer que as veias sempre estarão visíveis. Pessoas com sobrepeso ou com as pernas mais grossas podem ter varizes não aparentes.

Extrair veias altera a circulação?

Quando uma veia está compro­me­tida ela perde a função. O sangue passa a circular por outros caminhos. A extração só evita que o sangue acumule no local.

As meias elásticas evitam o surgimento de varizes?

O uso ajuda a amenizar os sintomas (inchaço e cansaço nas pernas) e evita que as veias compro­metidas se dilatem mais, porém não impede que a doença se desenvolva em outros locais.

Quem tem varizes pode fazer musculação?

Depende. Exercícios com carga pesada não são indicados para pacientes mais graves. Nesse caso, o recomendado são as atividades físicas na água, caminha­das ou musculação com carga leve. Para quem tem microvarizes ou varicoses, todo exercício é liberado. Quem deve receitar é o médico.

Colocar os pés para cima ao fim do dia ajuda?

Sim. Facilita o retorno sanguíneo, mas não impede o avanço da doença.

Depilação com cera pode ser um fator agravante?

Não. Nem cera quente nem fria contribui para o agravamento ou surgimento de novas varizes.

Drenagem ou massagem são tratamentos eficazes?

Não. As massagens são apenas coadjuvantes em situações de pré ou pós-cirúrgicos e devem ser receitadas pelo médico.

Quem tem varizes pode ter hemorroida?

Sim. É uma patologia relacionada a problemas circulatórios. O especialista que cuida do tratamento de hemorroidas é o proctologista.

Fontes: médicos Cláudio Jacobovicz e Jorge Timi.

Quem nasceu para ter varizes, mais cedo ou mais tarde as terá. A doença, que atinge pelo menos 20% da população adulta, tem como fator determinante a predisposição e o histórico familiar. Mas antes de sair culpando avôs e avós pelas incômodas veias azuladas, um aviso: o aumento e a quantidade de varizes também dependem dos hábitos do paciente. "O problema é de responsabilidade de quem o tem. A pessoa deve seguir as recomendações médicas e ter uma vida saudável", diz Nicolau Malluf Dabull Júnior, cirurgião vascular e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Hábitos bem comuns da vida moderna entram na lista de rotinas condenáveis pelos angiologistas e fazem com que, de um modo geral, as varizes apareçam cada vez mais precocemente. "São os chamados agravantes. O excesso de peso e o sedentarismo são os principais", afirma Mário Martins, chefe do serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da UFPR.

A popularização do uso de anticoncepcionais, o aumento da expectativa de vida e longas jornadas de trabalho sentado ou em pé são outros fatores importantes. "Se alguém tem predisposição genética, os agravantes fazem com que as veias dilatem mais cedo do que iriam dilatar, em um número maior, dando mais sintomas e mais complicações", explica Martins.

Para a tristeza do público feminino, as varizes são muito mais comuns em mulheres do que em homens. A proporção é de um para cinco e os motivos para isso são vários. "Elas estão expostas mensalmente a um ciclo hormonal que altera o calibre das veias. Antes da menstruação, elas ficam mais dilatadas", diz José Fernando Macedo, médico angiologista e cirurgião vascular presidente da Associação Médica do Paraná.

Com o tempo, esse estica-e-volta contribui para que as veias percam a elasticidade e dilatem permanentemente. Os hormônios dos anticoncepcionais ou os usados na reposição durante a menopausa alteram a viscosidade do sangue e dificultam o trabalho dos vasos sanguíneos dos membros inferiores, que funcionam contra a ação da gravidade. O último motivo (e mais decisivo) é a gravidez. "É quando a mulher passa de 36 a 40 semanas exposta a um alto nível hormonal. O útero fica maior e comprime veias importantes, aumentando a pressão interna e fazendo com que elas fiquem mais dilatadas do que o normal", complementa Macedo. Várias gestações, próximas uma da outra, são capazes de causar varizes até em mulheres sem predisposição genética.

Não é o caso da contadora Kátia Eliana Kestering, de 36 anos, que, além do fator hereditário forte (na família do pai quase todas as mulheres já passaram pela operação), somou-se gravidez e estilo de vida. "Desde os 23 anos tenho varizes. Nunca procurei tratamento, só depois que engravidei, há quatro anos, que engordei 23 quilos e vi que as varizes pioraram bastante", diz ela, que operou há seis meses e hoje não sente mais dores nem queimação nas pernas.

Quanto antes, melhor

Quem tem varizes não pode sossegar. Mesmo as varicoses, chamadas de telangiectasias, presentes em oito em cada dez mulheres, são consideradas estágios iniciais da disfunção venosa e o primeiro sinal de alerta de que o sistema circulatório não está em plena forma. "A formação das duas é a mesma, o que muda é o tamanho e o local. As varicoses são mais superficiais. Nem sempre quem tem vai ter varizes, mas muitas vezes os vasinhos escondem uma veia maior, principalmente se houver algum sintoma", diz Martins.

A telangiectasia é o primeiro estágio da escala internacional CEAP de gravidade clínica venosa, que classifica a doença. Nessa fase, a preocupação é só estética. O número dois na escala é a pessoa que já tem veias com o funcionamento comprometido; o três tem varizes e mais alguns sintomas, como inchaço e peso nas pernas. "É quando o problema deixa de ser só estético e passa a ser funcional", afirma Dabull Jr.

Se o tratamento não for realizado no momento certo, o paciente fica exposto a inúmeras complicações, a começar pelo maior risco de infecção nos locais afetados. "Varizes em estágios avançados são relacionadas com tromboflebite superficial ou tromboses superficiais. A circulação comprometida também facilita a formação de coágulos, que, em casos mais graves, pode evoluir para embolias pulmonares", explica Marcio Miyamotto, médico angiologista e cirurgião vascular do Hospital Nossa Senhora das Graças.

A dona de casa Monica Helena Zadra, 45 anos, tem 20 anos de acompanhamento das varizes com o mesmo médico. "Todo ano eu procurava o angiologista para secar as varicoses e ele avisava que eu deveria operar", conta. A cirurgia não estava nos planos de Monica até que, depois de uma gravidez temporã, suas varizes complicaram a ponto de ela desenvolver uma trombose superficial. "Senti um ardume bem forte nas pernas e vi que ficou uma mancha vermelha. Levei o maior susto e operei no dia seguinte", lembra ela, sem esconder o arrependimento de não ter operado antes. "A cirurgia da perna com trombose foi muito mais complicada e a recuperação mais dolorosa."

Matemática imprecisa

Sabine Thiessen, 27 anos, percebeu que tinha varizes logo no começo da adolescência. "Vi que tinha veias saltadas atrás do joelho, mas na época fazia atividades físicas na escola e não tinha sintomas", conta. Quando ela parou de fazer exercícios, aos 18 anos, os inchaços e o cansaço nas pernas começaram. "As veias ficaram mais aparentes e apareceram varicoses nas coxas". Foi quando ela procurou um médico para se informar sobre a escleroterapia, injeções que secam varicoses. "Na época, decidi não fazer nada e continuei sedentária."

Os sintomas aumentaram e só no ano passado ela buscou orientação. A recomendação foi clara: mudança de hábitos. "Voltei à academia, parei de usar saltos, roupas apertadas e não sinto mais cansaço", diz ela, que aprendeu a levar mais a sério essa doença progressiva.

Mesmo com a mudança de comportamento de Sabine, a Medicina não tem como prever como estarão suas varizes daqui dez ou 15 anos. Não se sabe exatamente o que desencadeia a doença, mas sabe-se o que a agrava. Mesmo que as veias comprometidas não aumentem de tamanho, outros grupos venosos podem ser afetados. Não é por isso, porém, que o tratamento deve ser adiado, como se pensava 20 anos atrás. "Tinha médicos que recomendavam que as mulheres tivessem todos os filhos e só depois fossem procurar tratamento para operar de uma só vez. Hoje não existe mais isso de esperar para tratar. Tratamos a doença naquele momento, porque assim evitamos complicações e eliminamos os sintomas", diz Jorge Barros Timi, médico angiologista e cirurgião vascular do Centro Médico Plínio de Mattos.

O tratamento mais eficaz ainda é a cirurgia de extração, que hoje tem recuperação mais rápida e incisões menores. "Quando bem indicada, a cirurgia parece que tira a dor com a mão. São procedimentos extremamente estéticos, com incisões puntiformes, que não deixam cicatrizes. O pós-operatório está mais simples e rápido. Dependendo da cirurgia o paciente fica em repouso por uma semana, ou até menos, por cinco dias", diz Cláudio Jacobovicz, médico angiologista e cirurgião vascular da clínica Angioplástica.

Operar ou não operar

A presença ou não de sintomas e o resultado de uma ecografia que determina o calibre venoso e a quantidade de refluxo sanguíneo são fundamentais para determinar a hora certa de fazer a cirurgia. A opinião médica, no entanto, diverge. "Há especialistas que indicam que ela seja feita o quanto antes, outros tentam primeiro o tratamento clínico. O que é avaliado é o grau da doença, a idade do paciente, a profissão. O indicado é sempre buscar uma segunda opinião", diz Denise Bermudez Kubrusly, angiologista clínica do Hospital Vita.

A dentista Roberta Novaes, 23 anos, tem varicoses e varizes desde os 18 e já foi a cinco médicos em busca de uma resposta à pergunta: faço a cirurgia agora ou espero? "Esperar está ganhando por 3 a 2", diz ela. Apesar de Roberta ser de uma das profissões mais propensas a ter problemas circulatórios pelos longos períodos na mesma posição, suas varizes ainda estão no início. "Vou fazer acompanhamento, decidi que não vou operar agora."

A cirurgia tem contraindicações para pacientes muito idosos com problemas de saúde como diabete e hipertensão. O tratamento elimina as veias comprometidas, mas nada impede que outros vasos sejam afetados posteriormente. "Há pesquisas que dizem que a recidiva é de 100%, mas nem sempre é necessária mais de uma cirurgia, às vezes uma só é suficiente", diz Martins.

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