
Pode parecer exagero e manha, mas nem sempre a dor de cabeça alegada pelas crianças é apenas um motivo para fugir de provas na escola e de tarefas diárias. Existem vários tipos de "cefaleia", nome clínico para a enfermidade, e problemas como a enxaqueca afetam em torno de 15% da população brasileira, incluindo os pequenos. "Os pais precisam ficar atentos ao comportamento do filho. Dá para perceber quando existe um problema real e é importante sempre ouvir atentamente o que a criança diz", sinaliza o neuropediatra Paulo Liberalesso, médico do Hospital Pequeno Príncipe.
A mesma orientação é dada por Denize Fagundes, mãe da estudante Nicolly Fagundes Ferreira. A garota, hoje com 19 anos e com as crises de enxaqueca controladas, apresentava sintomas desde os 7 e sofria com dores de cabeça semanalmente, o que dificultava o acompanhamento das aulas. "Eu demorei a notar porque sempre achei que era exagero. Quando a Nicolly repetiu a 6.ª série, conversei com ela e com os professores e a levei ao médico", conta. Liberalesso aponta três quesitos que podem indicar que a dor de cabeça é mais séria: a intensidade e a frequência da dor, e a queda na qualidade de vida. "Se a criança para de brincar, pede para dormir ou come menos, as famílias precisam ficar atentas", alerta a neurologista infantil Ana Crippa, do Hospital de Clínicas.
Histórico
Entre as causas mais comuns para as dores de cabeça estão a enxaqueca que afeta principalmente meninas , a cefaleia tensional e a decorrente de falta de lentes corretivas para os olhos (ver infográfico), consideradas "cefaleias primárias". Para detectá-las, não é necessário exame. "O histórico da família é analisado e trabalhamos com o Diário de Crise, no qual se incluem informações como a duração da dor ou quando ela foi sentida", explica Liberalesso.
A situação fica mais séria quando há uma "cefaleia secundária", categoria em que se encontram condições como o tumor cerebral e as sinusites agudas. "Essas condições podem ser detectadas com uma mudança repentina na característica da dor ou um início abrupto e de forte intensidade", explica Ana. "A perda de força em algum membro ou alteração da fala também podem indicar cefaleia mais séria", exemplifica Liberalesso.
Quando a criança é pequena demais para conseguir se expressar e não há a possibilidade de fazer exames clínicos, a alternativa é fazer exames de imagem. "Há o risco de a radiação repetitiva trazer lesões, mas são casos raros. Procedimentos como a tomografia são os mais indicados nesses casos", garante a neurologista infantil.



