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Alcoolismo atinge quase 6 milhões de brasileiros | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Alcoolismo atinge quase 6 milhões de brasileiros| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Danos

O alto consumo de álcool pode causar danos no cérebro, trato digestivo, coração, sangue, músculos e glândulas hormonais, e ainda causar ainda demência alcoólica.

Serviço

Para mais informações sobre datas e endereços de reuniões do AA ou ter uma lista de profissionais e locais para tratamento médico do alcoolismo é possível procurar ajuda dos Alcoólicos Anônimos: (41) 3222-2422, aa@aapr.org.br, www.aapr.org.br

Alcoólicos Anônimos

Grupo teve início com um corretor e um cirurgião

O grupo Alcoólicos Anônimos foi criado em 1935, em Ohio, EUA, com o encontro de dois alcoólatras: Bill W, corretor da Bolsa de Valores de Nova York, e Dr. Bob, cirurgião de Akron. Fazendo um trabalho de apoio e assumindo a doença os dois conseguiram parar de beber. Em seguida, começaram a trabalhar para disseminar o processo para outros alcoólatras. Em quatro anos, 100 alcoólicos sóbrios utilizavam o método criado por Bob e Bill. Em 1939, a Irmandade publicou um texto básico, o Alcoólicos Anônimos, explicando a filosofia e os Doze Passos de recuperação. "No começo, os integrantes distribuíam fichas de telefone. A ideia era que antes de alguém beber ela ligasse para pedir ajuda. Hoje produzimos fichas próprias, simbolizando a entrada de um membro novo para a Irmandade", conta Wilson. As fichas iniciais são amarelas, trocadas por outras cores de acordo com a recuperação.

O AA chegou ao Brasil em 1948 e em Curitiba em 1968, com a fundação do Grupo Independência, na Saldanha Marinho (hoje os encontros acontecem na Rua Vicente Machado, 738, sobrado 01).

A cada 100 mil mortes, 12,2 poderiam ser evitadas se não houvesse consumo de álcool, mostra uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Por ano, o álcool aparece na causa de morte de 80 mil pessoas nas Américas. O Brasil tem a quinta maior taxa – a mais alta é a de El Salvador, com 27,4/100 mil mortes, e a mais baixa é a da Colômbia, com 1,8.

O estudo foi realizado entre 2007 e 2009 e os resultados foram publicados na revista Addiction em janeiro de 2014. Os dados examinados são de casos em que o álcool foi especificamente mencionado na causa de morte – como doenças do fígado vinculadas ao álcool. Segundo as pesquisadoras, isso representa apenas "a ponta do iceberg de um problema mais amplo".

Segundo o psiquiatra Marco Antônio Bessa, entre outras causas de morte por uso de álcool estão acidentes de trânsito, afogamentos e ações violentas provocadas por embriaguez. "A dependência em álcool não é o único dano provocado pelo consumo de bebidas", explica.

Dados do Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Dro­­gas Psicotrópicas no Brasil, realizado em 2005, mostram que o alcoolismo é uma doença que atinge 5,8 milhões de pessoas no país.

Destruição

Segundo o professor de terapia ocupacional da UFPR Luís Felipe Ferro, que atua na área de saúde mental, o alto consumo de álcool pode causar danos no cérebro, trato digestivo (incluindo pâncreas e fígado), coração, sangue, músculos e glândulas hormonais. "O uso contínuo pode causar ainda demência alcoólica, prejuízo na memória e capacidade de julgamento e pode até alterar a personalidade do sujeito", acrescenta.

"Uma das coisas que me assustou e me fez querer procurar tratamento foi como eu percebi que meu corpo e saúde estavam sendo prejudicados. O médico falou que talvez não conseguisse engravidar. Fiquei com medo e comecei a repensar o que eu estava fazendo comigo", conta Elisa*, em processo de recuperação há cinco anos. Ela procurou ajuda médica e psiquiátrica e, algum tempo depois, foi para as reuniões dos Alcoólicos Anônimos.

Dificuldades

Uma das maiores dificuldades de tratamento dos alcoólatras é a negação da condição entre os doentes. Nesse processo, a família e amigos têm um papel essencial, conversando com o doente para conscientizá-lo. Em seguida, é necessário encaminhar essa pessoa para o tratamento de saúde – para ser tratado pelo SUS, é necessário passar por uma Unidade de Saúde e, para tratamento particular, é necessário procurar médicos, psiquiatras ou grupos de ajuda.

Ocupar o tempo destinado para a bebida é um grande passo

Mudar o estilo de vida é um dos pontos mais difíceis do processo. "Aos poucos a vida dos alcoólatras volta-se para o consumo de álcool. Parar de encontrar amigos no bar ou de ter atividades de lazer voltadas à bebida é fundamental", explica o psiquiatra Marco Antônio Bessa. Outra parte da recuperação é resolver os problemas que levam as pessoas a beber. "É necessário perceber e intervir nesses motivos para que os incentivos para beber fiquem menores", explica Luís Felipe Ferro, da UFPR.

A mudança de hábitos de vida faz parte também do trabalho realizado pelo AA. "Os doze passos são um programa espiritual para promover a modificação da vida, ajudam as pessoas a encontrar um equilíbrio e um crescimento", explica Wilson*, membro do grupo.

O trabalho do grupo se baseia também no compartilhamento das experiências pelas quais os membros passaram. "Os depoimentos fazem com que eles se sintam mais motivados ao ver que outras pessoas passaram pelo mesmo que eles", explica Wilson, assinalando que o alcoolismo é uma doença física, emocional e espiritual.

Fernando*, que está sem beber faz 19 anos, conta que evitou recaídas ocupando seu tempo. "Quando eu saía do trabalho sempre tinha vontade de encontrar os amigos no bar. Ficar em casa não ajudava. Comecei a me inscrever em aulas, ir ao cinema, fazer cursos, academia… qualquer coisa que me tirasse de casa e ocupasse meu tempo". Para ele, esse processo foi muito importante. "Tenho vários interesses e me divirto muito. Não preciso mais beber", diz.

Uma dica do psiquiatra Bessa é, quando a pessoa se negar a procurar ajuda, os familiares a incentivarem a fazer outros tratamentos e adotar uma vida saudável. "O paciente pode começar o tratamento dos problemas de saúde decorrentes do alcoolismo, fazer atividades físicas, ter hábitos saudáveis. Isso reduz o espaço do álcool na vida da pessoa", diz.

*os entrevistados preferiram não se identificar

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