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Sueli com um vestido anterior à cirurgia: desde então ela faz reposição de cálcio, ferro e vitaminas com acompanhamento médico | Antonio More/ Gazeta do Povo
Sueli com um vestido anterior à cirurgia: desde então ela faz reposição de cálcio, ferro e vitaminas com acompanhamento médico| Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo

Barreiras

Conscientização de pacientes é essencial

A conscientização dos pacientes é o caminho para reduzir complicações após a redução de estômago, avalia o especialista em cirurgia bariátrica Alcides Branco Filho. Ele afirma que apenas 25% dos pacientes retornam aos consultórios depois que atingiram seu objetivo – emagrecer. "Quanto mais informação o paciente tiver, melhor será o resultado da operação. As complicações só acontecem quando não existe acompanhamento adequado", define.

O médico observa, contudo, que trazer o paciente de volta ao consultório pode esbarrar em dificuldades socioeconômicas. Ainda assim, ele relata que existe um esforço para atender novamente este público, via contato telefônico com os pacientes.

No Hospital das Clínicas, a cirurgiã Solange Cravo Bettini conta que é feita busca ativa dos pacientes, mas nem todos se interessam. "Eles acabam sendo negligentes com eles mesmos. Veem-se magros e acham que estão bem, mas os problemas podem ter manifestações mais tarde." Ela argumenta que o ideal é que os serviços de saúde que oferecem a bariátrica também propiciem atendimento multidisciplinar após a operação. "O paciente terá uma alteração no aparelho digestivo. Ele tem que ter consciência de que vai ter que se cuidar pelo resto da vida", assinala.

Antes de passar por uma cirurgia de redução do estômago, a principal preocupação do paciente é perder peso. Mas, depois da intervenção, o foco precisa ser outro: como manter a capacidade de absorção de nutrientes. O alerta é feito por especialistas que têm dedicado cada vez mais atenção à nutrição após o procedimento bariátrico. O acompanhamento médico a longo prazo é necessário para que o paciente não esbarre em complicações, como anemia e osteoporose – quadros desencadeados pela falta de ferro, cálcio e vitaminas.

Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia, a médica nutróloga Marcella Garcez Duarte comenta que carências nutricionais são bastante comuns em pacientes que optaram pela bariátrica para combater a obesidade. O ideal, sugere ela, é que antes da cirurgia seja feita uma avaliação clínica capaz de detectar a necessidade de eventuais suplementações. "Por conta da cirurgia, há pessoas que dificilmente conseguem absorver o que precisam de nutrientes. Quem já apresenta essa carência tem de saber que pode vir a trocar o problema da obesidade por outro", salienta.

A nutricionista Alessandra Coelho, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), explica que as falhas na absorção ocorrem por diversos fatores, como o desvio duodenal feito em alguns procedimentos. Além disso, a própria redução do estômago limitará a ingestão de alimentos, que serão consumidos em menor quantidade. "As deficiências nutricionais dependem da técnica que foi realizada e se o paciente realmente aderiu ao tratamento", pontua.

Complicações

Segundo Marcella, passada a cirurgia bariátrica, as perdas mais comuns são de proteínas, ferro, zinco e vitaminas D e B12 – necessárias para a absorção de cálcio e a formação de células vermelhas no sangue, respectivamente. Além de osteoporose e anemia, pode ocorrer perda de massa muscular, enfraquecimento das unhas e queda de cabelos. Por não ingerir proteínas suficientes, o paciente pode ainda ter dificuldade para sintetizar o colágeno e perder o tônus da pele. "Mulheres que ainda não tiveram filhos também podem ter menos fertilidade e dificuldades na gravidez devido à falta de ferro e proteínas", observa.

A especialista em cirurgia bariátrica Solange Cravo Bettini, do Hospital das Clínicas de Curitiba, diz que em casos mais raros pode até haver complicações neurológicas em decorrência da falta de vitaminas do complexo B.

Este acompanhamento médico vem sendo seguido à risca pela professora Sueli Ivete Ribeiro da Silva, 56. É assim que ela diz se manter saudável depois da cirurgia bariátrica, há dois anos. Após perder 34 quilos, ela vai ao médico a cada dois meses e faz reposição de cálcio, vitaminas e ferro. "Passei dois anos sendo orientada antes da cirurgia. Nunca tive problemas", relata.

Cirurgia só é liberada após avaliação rígida

O Paraná tem atualmente 16 serviços de saúde habilitados para realizar cirurgias bariátricas. De acordo com o superintendente da Secretaria de Estado de Saúde, Paulo Almeida, a liberação para as intervenções só é concedida quando outros tratamentos, como endócrino e nutricional, não tiveram a consequência esperada e o peso em excesso pode comprometer a saúde dos pacientes. Segundo ele, a avaliação pré-operatória é rígida.

As autoridades de saúde orientam os estabelecimentos cirúrgicos a oferecer sempre o acompanhamento pós-cirúrgico. "Isso envolve desde a consulta pós-cirúrgica a cirurgias plásticas que podem ser necessárias", explica Almeida.

O ideal é que quem foi operado volte ao consultório destes especialistas a cada três meses depois da cirurgia, no primeiro ano. No segundo ano, a visita deve ser feita a cada seis meses e, em seguida, pelo menos uma vez por ano para realizar exames. Esta é a recomendação que os pacientes do Hospital Angelina Caron, de Campina Grande do Sul – a unidade que mais realiza reduções de estômago no país – recebem antes mesmo de irem para o centro cirúrgico.

Membro da equipe de cirurgia bariátrica do Angelina, o médico Daniel Dantas Ferrarin diz que o grupo procura manter os pacientes sob seu acompanhamento. "Eles são informados sobre essa necessidade desde a primeira consulta. Pedimos que todos continuem conosco, mas como a maioria é de outras localidades, os liberamos para fazer isso em suas cidades", pontua.

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