
Você sabia que dores nas costas, cabeça, pescoço e ouvido podem indicar um problema na boca? As duas articulações que ligam o crânio à mandíbula, chamadas de temporomandibular (ATM), são as responsáveis por alguns desses problemas. Conhecida como disfunção temporomandibular, a patologia nem sempre se manifesta com dores no local lesionado, podendo afetar regiões diversas do corpo.
"É comum confundir os problemas de ATM com enxaqueca ou dor de ouvido", diz Lidia Yavich, especialista em Ortopedia Funcional e em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial e organizadora do Congresso Internacional sobre o tema, que será realizado neste mês em Porto Alegre (RS). Segundo ela, isso faz com que aos primeiros sintomas a pessoa procure outros profissionais, como o otorrinolaringologista, até que chegue ao tratamento adequado, com um dentista especializado.
A escolha de quem vai realizar o tratamento deve ser feita com muito cuidado, segundo Lidia. Para sanar o problema, que inclui a dificuldade em abrir a boca, o dentista deve estar preparado para atender a casos desse tipo. "Se ele não estiver preparado, deve indicar alguém que seja capacitado, já que o estudo correto vai incluir história clínica e exame físico do paciente", diz. Segundo Lidia, é essencial que ao tratar da saúde bucal de quem enfrenta o problema, o especialista não se limite aos dentes do paciente. "O indivíduo deve ser visto como um todo", aconselha.
A postura do corpo, por exemplo, tem uma relação direta com a posição da mandíbula em relação ao crânio. Autor de livros sobre a ATM e especialista em disfunções e dores orofaciais, o médico Roberto Nascimento Maciel, diz que é necessário uma interação entre dentistas e fisioterapeutas, para que o problema seja diagnosticado por uma visão individualizada.
Tratamento
Maciel explica que os tratamentos para complicações associadas à ATM seguem uma hierarquia de procedimentos ditada pelas diretrizes da Organização Mundial de Saúde. "A prioridade é sempre o alívio da dor, seguido de uma investigação de todas as causas envolvidas", diz. Mas as maneiras de tratar o problema serão as mais variadas possíveis e dependem diretamente da abordagem que o especialista sugerir. Para que isso aconteça, é sempre necessário investigar o surgimento da patologia.
Lidia diz que os problemas de ATM geralmente surgem por doenças locais e sistêmicas, traumatismos, infecções, processos autoimunes e também problemas dentários. "Pequenos golpes em idades prematuras podem provocar grandes lesões anos mais tarde", exemplifica. A especialista também menciona as infecções no ouvido, que estão diretamente associadas à articulação. "Pela embriologia podemos notar que a formação do ouvido e da articulação temporomandibular tem ligação direta", afirma.
Maciel ainda chama a atenção para o fato de que ao menos 75% dos problemas da ATM envolvem a oclusão dentária, que diz respeito à maneira como os dentes se encontram quando a boca se fecha. Nesses casos, é importante ficar atento ao bruxismo, conhecido como o ato de apertar e ranger os dentes. "As características mais comuns são fraturas dentárias, dores faciais, de pescoço e cabeça e disfunções auditivas, como zumbidos", diz. O bruxismo pode ainda estar associado ao modo de vida do paciente, envolvendo o sono e o estresse, e a forma de tratamento também será adaptada a cada caso.




