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Como identificar a anorexia

Para identificar se uma pessoa está em estado anoréxico, os médicos calculam o Índice de Massa Corporal (IMC = peso dividido por duas vezes a altura), como explica o psiquiatra Glauber Higa Kaio, do Programa de Orientação e Assistência a Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Uma pessoa com peso normal deve ficar com um índice entre 18,5 e 24,9."

Segundo ele, a anorexia nervosa pode ter dois tipos. Há o restritivo, quando a pessoa faz jejum e atividade física rigorosa para emagrecer; e o bulímico/purgativo ou compulsão periódica/purgativo, quando a pessoa faz uso de diuréticos e laxantes ou provoca vômitos. "O segundo está mais associado ao abuso de álcool."

As cenas da personagem vi­­vida pela atriz Bárbara Paz, na novela Viver a Vi­­da, da Rede Globo, apresentam ao público um tipo de transtorno alimentar ainda pouco conhecido pela maioria das pessoas. Na trama, a aspirante a atriz e modelo Renata se acha gorda – mesmo em forma com seus 1,70 metro de altura e 54 quilos. O medo de ganhar peso e não ser bem aceita na profissão a leva a comer muito pouco, isso quando não troca a refeição por uma dose de bebida alcoólica.

A personagem, de acordo com a psiquiatria, sofre de uma combinação de doenças: anorexia nervosa e alcoolismo. Essa fusão tem sido chamada de anorexia alcoólica, também de álcoolrexia ou drunkorexia (do inglês, drunk=bêbado).

Os psiquiatras afirmam que ainda não há estudos específicos sobre o problema, considerado um subtipo da anorexia nervosa. Na prática, a maioria dos casos é entre as mulheres adultas jovens (entre 16 e 35 anos). Como a personagem da novela, a preocupação exagerada com o peso, influenciada pela cultura moderna do corpo magro, faz com que deixem de comer ou comam muito pouco.

O álcool, nesse caso, funciona como uma fórmula para emagrecer, de acordo com o psiquiatra Marco Antonio Bessa, presidente da Sociedade Paranaense de Psiquiatria. "Por ser calórico, ajuda a enganar o estômago. Dá uma sensação de saciamento da fome e é mais fácil vomitar do que algo sólido". Segundo Bessa, o problema é agravado quando o organismo se adapta à bebiba. "Mesmo que comece com pequenas quantidades, com o tempo a pessoa aumenta a dose porque não consegue mais o mesmo efeito do início."

A partir daí o comportamento passa a envolver elementos psicológicos, fisiológicos e sociais. O paciente precisa ser acompanhado por um psiquiatra. Dependendo do caso, precisará do auxílio de outros especialistas, como endocrinologista, infectologista e nutricionista. O quadro pode levar a consequências –por vezes fatais – como desnutrição, intoxicação, problemas gastrointestinais (pâncreas, fígado, esôfago, estômago) e cardiovasculares, além de hipertensão.

Alteração de comportamento é um dos sinais mais importantes para quem é próximo da doente começar a perceber que algo está errado, segundo a psiquiatra Analice Gigliotti, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead). "A pessoa começa a deixar de cumprir compromissos profissionais, com a família e os amigos". Segundo Analice, quem tem o problema nem sempre se dá conta de que está mudado, exagerando na dose e, geralmente, tem muita dificuldade de assumir o quadro. Ela alerta: "O álcool e a anorexia nervosa são as duas doenças que mais matam dentro da psiquiatria. As duas juntas são uma bomba atômica, um problema muito grave, que precisa de tratamento urgente."

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Interatividade

Você conhece algum caso de anorexia alcoólica semelhante ao vivido pela personagem Renata da novela Viver a Vida? Envie seu depoimento.

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