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Saúde

Eles nunca foram a um dentista

Vinte milhões de brasileiros jamais trataram de seus dentes. Desde 2004, país adota política para melhorar saúde bucal da população

Mariléia Kniss recebe atendimento dentário gratuito no Augusta, em Curitiba: elogios para o trabalho fornecido pela unidade de saúde | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Mariléia Kniss recebe atendimento dentário gratuito no Augusta, em Curitiba: elogios para o trabalho fornecido pela unidade de saúde (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
Veja que brasileiros ainda têm problemas quando precisam de dentista |

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Veja que brasileiros ainda têm problemas quando precisam de dentista

O Brasil tem hoje 220 mil dentistas trabalhando, de acordo com a Associação Brasileira de Odon­­tologia. Isso significa que aqui trabalham perto de 10% de todos os dentistas do mundo. O que isso não significa, porém, é que a saúde bucal dos brasileiros vá bem – até porque 20 milhões de pessoas no país jamais fizeram nem se­­quer uma consulta com um profissional da área.

Além da falta de acesso aos profissionais da área, há uma série de outros problemas que impedem a situação de ser me­­lhor: há falta atendimento básico e especializado; alguns estados das regiões Norte e Nordeste não adicionam flúor à água (o que ajudaria a prevenir a aparição de cáries); e faz só cinco anos que o país adotou uma política pública nacional para o tema.

Em 2003, o governo federal realizou uma espécie de censo dentário. O estudo intitulado "Condições de saúde bucal da população brasileira" apontou um quadro grave que colocou o país como um dos mais defasados neste quesito. Até então, nunca havia sido construída uma política pública nacional voltada para esta área. Apenas 3% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) eram especializados.

O programa Brasil Sorridente nasceu com a missão de criar, em parceria com os estados, centros de alta complexidade para tratar problemas graves que antes eram ignorados pelo Estado. De 2007 a 2010 a previsão de investimento é de R$ 2,7 bilhões. Mas, na opinião de especialistas, o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente para tentar resolver problemas gerados por séculos de abandono.

O resultado é que o país é um dos campeões em número de dentes com cáries. Entre as crianças de 12 anos, a média é superior a três dentes cariados por pessoa. Na faixa etária dos idosos, o valor dobra. Os adolescentes são os mais excluídos da saúde bucal. Cerca de 14% deles nunca foram ao dentista e boa parte dos que foram (30%), já estava sentindo dor e não agiu de maneira preventiva como é o indicado.

Outro fator preocupante são as diferenças regionais. A maior parte dos dentistas está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. O Norte e o Nordeste são mais prejudicados: têm maior índice de pessoas usando próteses (ou seja, que já perderam algum dente); maior índice de cárie na população; e menor índice de fluoretação da água.

Mesmo com os avanços já observados do Brasil Sorridente, o SUS ainda tem dificuldade de realizar serviço nas áreas de ortodontia e estética, consideradas essenciais. Quem precisa de um aparelho dentário não tem outra alternativa senão procurar um serviço privado. O mesmo ocorre com quem precisa, por exemplo, clarear um dente.

Bons exemplos

O Paraná e sua capital são tidos como bons exemplos por desenvolverem ações de prevenção há mais de 50 anos. Curitiba foi uma das pioneiras no país e desde 1958 a água que os moradores bebem recebe flúor. Isso fez com que, em cinco décadas, o índice em crianças de 12 anos caísse de 6,36 cáries por pessoa para próximo de uma cárie. O resultado é um dos melhores do Brasil, que tem o valor geral de 2,78 cáries por indivíduo. Quando se analisa o porcentual de municípios que fazem a fluoretação da água, este valor fica em 6 na região Norte. No Paraná, 98% das cidades estão cobertas por este benefício.

O atendimento básico é geralmente oferecido pelos municípios e o especializado fica a cargo dos estados, e mais recentemente há também a parceria com o governo federal. O programa Brasil Sorridente instituiu na equipe do programa Saúde da Família um dentista. Isso melhorou o acesso da população ao serviço. Dados da Secretaria de Es­­tado da Saúde (Sesa) mostram que metade dos paranaenses já usufrui deste benefício por meio das mais de 1,7 mil equipes que fazem visitas às residências. Para o atendimento especializado, há no estado 42 centros.

A chefe da divisão de saúde bucal da Sesa, Michelle Christie Abboud, explica outra ação que rendeu bons resultados: há 28 anos o governo estadual realiza o bochecho com flúor em todas as escolas públicas. A partir dos 6 anos, as crianças são instruídas sobre a higiene bucal uma vez por semana.

Na capital, há 108 clínicas da prefeitura que fazem o atendimento dentário da população. Em quase todas as unidades de saúde há um profissional para realizar os procedimentos básicos. A cidade conta também com dois centros especializados em cirurgias e periodontia. Outro foco de ação é a prevenção nas escolas e com as gestantes. Equipes especializadas fazem teatro para os meninos e meninas e os dentistas acompanham as futuras mães no pré-natal explicando a importância da higiene na boca desde os primeiros dias de vida do bebê.

Em outubro deste ano, a prefeitura também iniciou uma campanha para conscientizar os pacientes sobre a importância de detectar precocemente o câncer bucal. A diretora do Cen­­tro de In­­formação da Secretaria Mu­­nicipal da Saúde, dentista Raquel Cubas, diz que é necessário atuar em medidas preventivas. "Ainda há a questão cultural. Muitas pessoas esperam ficar com dor para procurar um profissional".

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