
Um programa de computador criado por um matemático promete causar uma revolução na forma como é feito o diagnóstico do mal de Parkinson, que hoje atinge cerca de 6 milhões de pessoas. Por meio de algoritmos, o britânico Max Little criou uma sequência lógica que, interpretada por um computador, permite identificar padrões na voz de uma pessoa.
Como a doença causa alterações muito significativas na voz, o computador informa se o registro analisado corresponde ao padrão de alguém com Parkinson e, assim, permite ao médico fazer o diagnóstico.
De acordo com o matemático, que se interessou pelo caso ao ver um amigo bailarino sofrer com os sintomas da doença que compromete o movimento de vários órgãos do corpo, a eficácia do teste em laboratório é de 99%. Durante uma palestra no evento TED, uma espécie de seminário nascido nos EUA para incentivar a discussão de novas ideias, Little comentou que o teste pode ser feito por meio de uma ligação telefônica para o médico, e que dura menos de 30 segundos para que se tenha um resultado.
"Os testes atuais são feitos em clínicas. São caros, consomem tempo e possuem dificuldades de logística. Nossa tecnologia poderia permitir algumas inovações radicais, porque os testes baseados na voz podem ser feitos remotamente, e os próprios pacientes poderiam fazer o teste", disse Little na palestra, enfatizando que a tecnologia permite reduzir custos e aumentar a eficácia do diagnóstico.
Detecção
De acordo com o neurologista do Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, Cleverson de Macedo Gracia, a alteração de voz é significativa em pacientes que possuem a doença, pois ataca os neurônios responsáveis por várias funções, entre elas, a da fala. O Parkinson deixa a laringe rígida e funcionando mais lentamente, fazendo com que se perca a força da voz. E isso de fato pode ser perceptível por um algoritmo que consiga detectar as alterações, por menores que sejam.
O médico, porém, diz que o teste tem grande importância científica, mas pouca utilidade prática, já que ainda não há uma cura para a doença.
Ele explica que as alterações na voz podem ocorrer vários anos antes de os sintomas mais significativos, como tremores na mão, aparecerem, e acrescenta: "O fato de a pessoa descobrir que terá a doença dali a alguns anos não vai ter qualquer impacto no tratamento, já que os médicos só indicam os remédios quando os sintomas começam a aparecer. A única diferença é que a pessoa pode ficar angustiada".
Algoritmos aprimoram diagnóstico
O uso dos algoritmos na medicina não é algo novo, embora em algumas áreas ele tenha estreado recentemente, como a do diagnóstico do mal de Parkinson. Basicamente, um algoritmo pode ser descrito como uma sequência finita de passos que leva à resolução de um problema. A sequência de passos pode ser determinada ou aleatória, e pode existir tanto em um papel como dentro de um computador.
Tal sistema pode ser utilizado tanto por um médico dentro do consultório para o diagnóstico de um paciente como por um computador durante o processamento de análises laboratoriais em grande escala, como explica o médico especialista em patologia clínica e diretor de Análises Clínicas do Laboratório Frischmann, Cláudio Pereira.
Método
O médico dá um exemplo no caso do diagnóstico de hepatite C: o primeiro passo é verificar se a pessoa possui a doença. Se o resultado for negativo, extingue-se o protocolo. Se positivo, avança-se um passo, e o próximo é descobrir outras características que permitam um tratamento personalizado, como a carga viral no sangue e o genótipo do vírus. Com isso, o trabalho do médico se aprimora, segundo Pereira.
Quando se fala em algoritmos de computador, é importante frisar que eles não substituem a análise do profissional de saúde e que não são perfeitos. O recado é da enfermeira e coordenadora do Mestrado em Tecnologia em Saúde da PUCPR, Márcia Regina Cubas. "A tecnologia é um suporte, que vem para se somar ao trabalho do médico. Ela nunca substitui o raciocínio clínico é uma intermediação entre quem está atendendo e quem está sendo cuidado. Até porque é preciso ouvir o que paciente fala, tanto o que ele expressa verbalmente quanto o que ele diz com o corpo e as atitudes".



