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Só usamos 10% do cérebro?

A ideia de que usamos apenas 10% do cérebro não passa de um mito. "Os neurônios são células vivas e estão em funcionamento contínuo", explica a neurologista Márcia Lorena Fagundes Chaves, da Academia Brasileira de Neurologia. "Não importa o que o cérebro está fazendo, ele é sempre 100% utilizado, mas a complexidade desse uso pode ser modificada", alerta.

Para o neurocientista Alexandre Valotta da Silva há uma razão bem clara para o cérebro ser usado em sua totalidade. "O argumento principal é que o sistema nervoso é muito caro para o organismo. A natureza não se daria ao trabalho de construir algo tão precioso e não usá-lo em sua totalidade." (MS)

Procedimento

Para fazer a pesquisa é preciso destruir o órgão

O trabalho de contar as células do cérebro não é fácil. Mas os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro Roberto Lent e Suzana Herculano-Houzel criaram um equipamento especial para chegar a uma estimativa mais próxima do número real de neurônios e outras células, o fracionador celular automático.

O aparelho foi feito em uma versão simples, que tritura e separa os pedaços do cérebro de maneira homogênea. O tecido cerebral, dissolvido em um líquido, mantém os núcleos em sua maioria intactos e, com um corante, os neurônios são distinguidos das outras células do encéfalo. Motores elétricos fazem com que os pistões agitem as amostras, desfazendo os pedaços de tecido.

Células gliais

significam, em grego, cola. No início dos estudos sobre o cérebro, acreditava-se que esta era a função dessas células. Com o passar do tempo, porém, outras foram descobertas. Elas são responsáveis pela alimentação e nutrição do neurônio, são essenciais na neurogênese embrionária e guiam a célula do sistema nervoso até o local onde elas se estabelecem. Além disso, também ajudam na sinapse dos neurônios, determinando as ligações que serão feitas.

Quantos neurônios temos no cérebro? Pela resposta pronta dos livros de escola são 100 bilhões. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), entretanto, provou que esse número que considerávamos certo não é a estimativa mais próxima. A partir de quatro cérebros usados como amostra, a média encontrada pelos pesquisadores da instituição foi de 86 bilhões de neurônios em todo o encéfalo. Mas, afinal, o que isso muda no estudo da Ciência?

Para o médico Roberto Lent, um dos professores da UFRJ que desenvolveu a pesquisa, a descoberta ajuda na compreensão do cérebro. "Dessa forma, é possível fazer inferências sobre a evolução do sistema nervoso e perceber as diferenças do desenvolvimento do cérebro, entre homens e mulheres, além de entender o grau de perda neuronal no envelhecimento ou em doenças neurodegenerativas", explica.

Outro dado interessante trazido pelo estudo de Lent é sobre as células gliais, que servem como sustentação para os neurônios. A estimativa inicial é de que houvesse cerca de um trilhão dessas células, mas a realidade mostrou que elas estão em um número mais próximo das outras células nervosas, com cerca de 85 bilhões. O que se sabe é que tanto elas quantos os neurônios se encontram em quantidades variáveis nas diversas regiões do cérebro.

O neurocientista Alexandre Valotta da Silva lembra que as estimativas anteriores eram grosseiras. "Os métodos usados eram obsoletos, não levavam em conta a distribuição heterogênea das células", diz Silva, que é docente do departamento de Biociências do campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O erro de cálculo ocorria porque apenas uma área do cérebro era analisada e sua composição era considerada como base para as outras regiões.

Silva também destaca que o estudo é fundamental para o entendimento desse órgão, cujo funcionamento continua misterioso. "A neurociência, cada vez mais, faz uso de modelos matemáticos para entender as funções do cérebro, pois, para compreendê-las, é preciso entender a construção do sistema", diz.

O professor do departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp Li Li Min acredita que o número de neurônios não seja fixo, mas, com a estimativa, é possível observar a evolução cerebral. Ele também afirma que o importante é entender a capacidade do cérebro de se modificar. "Por observação e estudo, sabemos que os jovens têm maior capacidade de aprendizagem. O que não definimos, porém, é se isso acontece com o aumento de neurônios ou por eles conseguirem ampliar suas sinapses."

Segredo

A questão de como as ligações são feitas também é avaliada pelo neuropsicólogo e professor do curso de Medicina da PUCPR Egídio José Romanelli. "A rigor, saber o número exato não muda grande coisa. O segredo não é esse e, sim, como as ligações são feitas pelos neurônios e como podemos aprimorá-las por meio de estímulos", considera.

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