
Um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) chama a atenção para um problema grave: cerca 25% da população mundial é anêmica. E entre as crianças menores de 2 anos os números são ainda piores: a incidência é de quase 50%. Os dados (mais recentes) são de 2005, mas, segundo especialistas, de lá para cá, pouco mudou. A história, entretanto, poderia ser bem diferente, já que a prevenção do problema é simples e, na maioria dos casos, começa por pequenas adequações no cardápio. Segundo a diretora-geral do Hemorio e integrante do comitê de anemia da Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH), Clarisse Lobo, a melhor forma de prevenir é investir em uma alimentação saudável, cheia de alimentos ricos em ferro. Engana-se, porém, quem pensa que isso quer dizer somente comer muito feijão.
"As maiores taxas [de ferro] estão nas carnes vermelhas e vísceras, principalmente o fígado. Para se ter uma ideia, nossa capacidade de absorver ferro é 10 vezes maior nas carnes que nos vegetais. Um bife de apenas 100 gramas, por exemplo, nos fornece a mesma quantidade deste nutriente que um quilo de feijão", diz.
É ilusão também achar que a carne precisa estar crua ou mal passada para que o ferro seja melhor absorvido, afirmam os especialistas. "Independentemente do ponto, o índice do nutriente é o mesmo, porque não é o sangue que contém o ferro, mas a fibra da carne. Peixes têm altas taxas de ferro e mesmo o bucho, uma parte que é vendida branca, tem uma quantidade ótima deste nutriente", comenta a coordenadora do curso de Nutrição da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), Priscila Dabaghi.
No caso do ferro encontrado em vegetais, é necessário combinar a ingestão de feijão, lentilha, espinafre e couve com o consumo de uma fonte de vitamina C, essencial para que o organismo absorva o ferro da alimentação. "Não é necessário muito. Se a pessoa come um bom prato de arroz, feijão, salada e carne e o acompanha com um copo de suco de laranja, abacaxi, limão ou acerola, já está com as cotas garantidas."
E vale um alerta: é preciso comer o alimento propriamente dito para conseguir os benefícios do ferro. "O caldo de feijão, por exemplo, tem nada de ferro. Todo o nutriente está no grão, então é preciso comê-lo para obter os benefícios."
Enriquecidos
Optar por alimentos enriquecidos com ferro na hora das compras também ajuda a fugir da anemia. "O leite enriquecido com ferro, por exemplo, é uma ótima opção.", diz Clarisse. Este tipo de leite, ao contrário do normal, passa por uma manipulação química que faz com que o ferro não interaja com o cálcio, mantendo o nível de absorção dos dois nutrientes no organismo.
70% dos casos são decorrentes de falta de ferro no sangue
A anemia tem causas variadas, mas, em 70% dos casos, está associada à falta de ferro no sangue. Esta falta pode acontecer por sangramentos (em razão de disfunções na menstruação, por exemplo), úlceras, pedras nos rins, gastrite, hemorragias, pólipos intestinais, hemorroidas não tratadas, mas principalmente por má alimentação ou problemas no organismo que impedem a absorção do mineral.
O problema também pode estar ligado a doenças genéticas que fazem com que a criança nasça com alterações nas paredes das hemácias ou no funcionamento da hemoglobina (chamadas de anemias hereditárias), como a anemia falciforme. Neste caso, modificações na dieta alimentar ou uso de suplementação não são capazes de curar o problema.
Nos últimos anos, vem chamando a atenção também o aumento no número de anêmicos entre os que se submeteram à cirurgia bariátrica. "Esses pacientes passam a ter dificuldade de absorção de vários nutrientes, entre eles o ferro e a vitamina B12, o que gera o problema", explica a diretora-geral do Hemorio, Clarisse Lobo. "Em muitos casos, é necessário apelar para suplementação de ferro, injeções de vitamina B12 intramusculares e até transfusões de sangue."
Suplementos e mudanças na dieta
Bastaram alguns dias de queda acentuada dos cabelos para a bióloga Flávia Souza Morini consultar uma médica dermatologista e descobrir que tinha uma falha na absorção de ferro, causada por uma baixa nos níveis de ferritina, proteína de reserva do nutriente no organismo. Para resolver o problema, desde o começo do ano, ela toma suplementação de ferro, mas garante que as mudanças mais significativas vieram na adequação da dieta. "Em poucos meses, meus níveis de ferritina dobraram, meu cabelo parou de cair e até minhas unhas estão mais fortes."




