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Noites maldormidas

Saudades do soninho bom

Pesquisa mostra os efeitos do nascimento do bebê na qualidade de sono dos pais. Problemas vão da irritabilidade ao fim do casamento

Desde que nasceu há nove meses, Marina mudou a rotina dos pais. “Não sabemos mais o que é uma boa noite de sono”, diz a mãe, Luciana Vaz da Silva | Antonio Costa/Gazeta do Povo
Desde que nasceu há nove meses, Marina mudou a rotina dos pais. “Não sabemos mais o que é uma boa noite de sono”, diz a mãe, Luciana Vaz da Silva (Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo)

Eles são fofinhos, bochechudos, engraçadinhos e irresistíveis, mas capazes de tirar o sono dos pais durante meses, principalmente dos de primeira viagem. Quem tem bebê pequeno em casa sabe que o privilégio de uma noite tranquila e de sono ininterrupto acaba assim que o cordão umbilical é cortado. Cansados por causa das noites maldormidas, muitos pais acabam estafados e até mesmo com problemas de saúde.

Uma pesquisa feita na In­­glaterra com mil casais que têm filhos pequenos revelou que os pais iniciantes perdem até seis meses de sono nos primeiros 2 anos da criança. A maioria não consegue dormir mais de quatro horas ininterruptas sem que o bebê chore. Por isso, pais e mães de recém-nascidos acabam tendo um déficit de sono enorme, que pode resultar em alterações de humor, depressão, irritabilidade e até mesmo no fim do casamento.

Em geral, adultos precisam de cinco a seis horas ininterruptas de sono a cada 24 horas para se recuperar e conseguir cumprir as tarefas do dia a dia. Segundo o levantamento, 64% dos pais dormem apenas três horas, o que significa 75% do mínimo recomendado para ter uma boa saúde. Para 12% dos pais entrevistados, os cochilos entre mamadas e chorinhos não passam de duas horas e meia.

De acordo com a médica pe­­di­­atra da UTI neonatal do Hos­pital Pequeno Príncipe e presidente do Departamento de Su­­porte Nutri­cional da Sociedade Paranaense de Pediatria, Vanessa Liberalesso, é nos 3 primeiros meses que os pais sofrem mais com os despertares do bebê. Depois disso, a tendência é que o espaço entre as mamadas vá se estendendo. "No início, a criança em aleitamento materno faz intervalos de duas ou três horas entre cada mamada, ou seja, serão 8 a 12 mamadas ao dia. Depois dos 4 meses, ela já consegue dormir até seis horas durante a noite, e pode deixar de fazer, por exemplo, a mamada das 3 da madrugada. Se ela mama por volta da meia-noite, pode dormir direto até umas 6 da manhã", explica. Segundo a médica, embora seja cansativo, os pais não devem descuidar da alimentação do bebê. Isso porque uma criança que se alimenta de forma adequada dorme melhor. "É importante que a mãe descanse, aproveitando os intervalos, e mantenha uma alimentação saudável, fazendo refeições a cada três horas. Deve-se evitar a ingestão de alimentos que contenham cafeína para não atrapalhar o sono do bebê", afirma. Ela lembra ainda que o comportamento materno tem grande influência na criança. "A mãe ansiosa tende a transmitir esse sentimento ao bebê", observa.

Novatas

À medida que o bebê cresce, além de ir mudando os hábitos e espaçando as mamadas, a mãe vai também aos poucos conhecendo me­­lhor o comportamento da criança. Com isso, ela vai aprendendo a identificar o que significa cada choro – quando o bebê quer ma­­mar; quando está com cólica; quando quer apenas chamar a atenção. "Nesse sentido, as mães de primeira viagem acabam so­­frendo mais, porque ainda não têm muita experiência, são mais inseguras e tendem a levantar para atender o bebê a qualquer resmungada da criança", afirma a neurologista e especialista em sono Elyéia Hannuch. Segundo ela, embora não seja tão reparador quanto o sono da noite, os pais, se tiverem oportunidade, devem tentar descansar um pouco durante o dia, para recuperar o déficit de sono.

A advogada Luciana Vaz da Silva, 27 anos, ainda sofre com as demandas noturnas da filha Marina, hoje com 9 meses. "Desde que ela nasceu eu e meu marido não sabemos mais o que é uma boa noite de sono", conta. Ela afirma que nos primeiros meses o casal precisava levantar a cada duas horas, porque a nenê chorava muito. Luciana chegou a levá-la para dormir na cama do casal. "Melhorou um pouco depois dos 5 meses quando ela deixou de mamar no peito e aí dormia mais tempo direto", diz. Mesmo assim, Luciana ainda levanta diversas vezes durante a noite para conferir se está tudo bem. "Pra ver se ela está bem cobertinha, agora que está frio. Não adianta, a gente não se desliga", afirma.

Embora seja mais cômodo para os pais levar o bebê para o quarto do casal, essa não é uma atitude recomendada pelos especialistas. O ideal é que o bebê se acostume a adormecer no seu próprio quarto. "Mesmo quando ele chora, os pais devem tentar acalmá-lo sem tirá-lo do berço", aconselha a neurologista.

Para Vanessa, toda mãe tem um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento da criança. No entanto, essa é uma missão que exige doação. "O leite materno deve ser oferecido de forma exclusiva até o sexto mês de vida. Serão seis meses cuja disponibilidade materna, amor e força de vontade farão a diferença, mesmo nos momentos de cansaço e privação do sono", afirma.

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