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Entenda como a tireoide trabalha e como detectar problemas em seu funcionamento |
Entenda como a tireoide trabalha e como detectar problemas em seu funcionamento| Foto:

Uma descoberta feita no fim do ano passado deve aumentar o alerta para os riscos das doenças da tireoide – glândula que produz hormônios necessários para o metabolismo humano. Segundo um estudo mundial, que contou com a participação do Brasil, pacientes com hipotireoidismo (falta de hormônios) e hipertireoidismo (excesso de hormônios) leves têm risco alto de desenvolver doenças cardiovasculares e até de morrer em decorrência delas. O perigo é ainda mais sério por não serem acompanhados de sintomas, como acontece em casos mais graves.

O hipotireoidismo e o hipertireoidismo subclínicos acontecem quando há alteração na quantidade de hormônios produzidos, mas ela não é tão drástica para os médicos definirem como doença instalada (leia mais no infográfico ao lado). Segundo o endocrinologista e pesquisador da Faculdade de Medicina de Marília, no estado de São Paulo, José Augusto Sgarbi, a relação das doenças cardiovasculares com casos de hipertireoidismo e hipotireoidismo já era conhecida. "O que não havia sido comprovado ainda era a relação também com os casos subclínicos", diz.

Sgarbi foi um dos coordenadores da pesquisa no Brasil. Ele juntou os dados dos pacientes brasileiros aos de pacientes dos Estados Unidos, Japão, Austrália e Europa. "Analisamos 55 mil indivíduos. Com isso tínhamos um bom poder estatístico", diz. A pesquisa revelou que pacientes com hipotireoidismo subclínico têm um risco 89% maior de contrair doenças cardiovasculares (como lesões nas artérias, angina e infarto) em relação a um não-portador. O risco de morrer em decorrência delas é 58% maior.

Silencioso

Para o pesquisador, esses casos são mais perigosos do que o das doenças instaladas. "No estudo brasileiro constatamos que quando o hipotireoidismo está instalado não há grande mortalidade. É que ele tem sintomas. O paciente sente que está doente e acaba sendo diagnosticado e tratado adequadamente. Nos casos subclínicos praticamente não há sintomas. Então o paciente convive durante anos com a doença sem saber. A longo prazo vai agravando o quadro cardiovascular."

Os pesquisadores estão trabalhando agora em uma nova fase da pesquisa: querem descobrir quais as causas desta relação. Além disso, pretendem esclarecer se o hipertireoidismo subclínico também apresenta tais riscos. "Apesar de estar em fase de pesquisa, posso adiantar que esta relação existe. Isso com base em outra análise re­­cente que fizemos no Brasil. Tam­bém observamos este fenômeno."

Tratamento

Os novos apontamentos podem mudar os rumos do tratamento das doenças da tireoide. O endocrinologista Vicente Castaldo Andrade, do Hospital Nossa Senhora das Graças, explica que atualmente apenas alguns casos de hipotireoidismo subclínico são tratados. "Existem situações em que o tratamento é indiscutível: em crianças em idade de crescimento, em grávidas, em quem já apresenta problemas cardiovaculares ou sintomas isolados, como depressão, problemas intestinais. Em outros casos, o tratamento ainda é uma controvérsia."

Segundo Sgarbi, a comprovação de que os riscos são maiores do que o imaginado pode ampliar o número de pacientes a ser tratado. Por enquanto, porém, não há parâmetros de como isso vá ocorrer. Assim como não há necessidade de uma campanha de rastreamento de casos. "O que recomendo é que mulheres grávidas e após a menopausa façam exames da tireoide. Homens acima dos 60 anos também precisam fazê-los. Quem tem histórico familiar dessas doenças deve ficar mais atento."

O endocrinologista Vicente Castaldo prega exames ainda mais cedo. "Dos adultos brasileiros entre 20 e 50 anos, 10% têm alterações da tireoide. Acima dos 50 anos, 20% da população têm. Por isso, recomendo testes a partir dos 18 anos. Se a pessoa tiver alguma alteração, deve acompanhar e repetir os testes com a frequência que o médico recomendar. Se não tiver, deve repetir a cada cinco anos."

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