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Saúde

Teste de câncer ovariano faz mais mal do que bem

Segundo junta médica dos Estados Unidos, não há um exame que reduza o número de mortes pela doença; testes têm levado a cirurgias sem necessidade

Monteiro Lobato: polêmica sobre termos supostamente racistas | Reprodução
Monteiro Lobato: polêmica sobre termos supostamente racistas (Foto: Reprodução)

Testes de câncer ovariano recomendados para examinar mulheres saudáveis fazem mais mal do que bem e não deveriam ser realizados, segundo declarou recentemente um painel de especialistas médicos chamado Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos.

Os testes – exames de sangue que detectam a presença de uma substância vinculada ao câncer, e leituras de ultrassom para examinar os ovários – não reduzem a taxa de mortalidade pela doença, e geram muitos resultados falsos positivos, que levam a cirurgias desnecessárias com altos níveis de complicação, afirmou o painel.

"Não existe um método de detecção do câncer ovariano que efetivamente reduza as mortes", afirma a doutora Virgínia Moyer, presidente da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, um painel de especialistas. "Muitas das mulheres que se submetem aos exames têm resultado falso positivo e passam por intervenção desnecessária, como cirurgias."

A recomendação contra os exames se aplica unicamente a mulheres saudáveis com risco médio de câncer ovariano, e não às que apresentam sintomas suspeitos ou têm alto risco devido a certas mutações genéticas ou histórico familiar da doença.

Evidências médicas

As recomendações são apenas as mais recentes de uma série de questionamentos aos exames de câncer divulgados pelo painel, que também rejeitou o exame PSA para o câncer na próstata em homens e a mamografia de rotina em mulheres com menos de 50 anos. A Força-Tarefa é formada por um grupo de 16 especialistas, nomeados pelo governo americano e que fazem recomendações sobre exames para evitar doenças. Seus conselhos são baseados em evidências médicas, e não em custos. As recomendações contra o exame de câncer de ovário foram publicadas recentemente na revista Annals of Internal Medicine (AIM). A advertência não é nova – o painel está reafirmando sua própria conclusão anterior.

Embora a Força-Tarefa tenha recebido críticas no passado, especialmente por sua postura em relação a mamografias, neste caso ela tem amplo apoio. Apesar disso, alguns médicos ainda recomendam os exames. Em artigo publicado em fevereiro na AIM, uma pesquisa com 1.088 médicos revelava que um terço deles acreditava que o exame era eficiente e muitos os ofereciam às pacientes.

Consequências

15% das operadas desnecessariamente desenvolveram complicação grave

Para sua mais recente recomendação, o painel baseou-se principalmente em um grande estudo publicado no ano passado na revista The Journal of the American Medical Association, realizado com 78.216 mulheres entre 55 e 74 anos. Metade delas foi examinada e metade não, e elas foram acompanhadas por 11 a 13 anos. O exame consistia de testes de ultrassom e exames de sangue em busca de níveis elevados de uma substância chamada CA-125, que pode ser um sinal de câncer no ovário.

Não houve vantagem na realização dos exames: a taxa de mortalidade por câncer ovariano foi a mesma nos dois grupos. Mas, entre as mulheres examinadas, quase 10% – 3.285 mulheres – tiveram resultados falsos positivos. Dessas mulheres, 1.080 passaram por cirurgia, geralmente para remover um ou os dois ovários. Apenas depois das operações ficou claro que elas haviam sido desnecessárias. E pelo menos 15% das mulheres operadas desenvolveram ao menos uma complicação grave, como coágulos, infecções ou lesões em outros órgãos.

Para encontrar um único caso de câncer ovariano, 20 mulheres tiveram de se submeter a cirurgias.

O problema com os exames é que o CA-125 pode ser elevado por outras condições além do câncer, e o ultrassom pode revelar a hipertrofia ovariana ou cistos que são benignos – mas que não podem ser diferenciados do câncer sem uma cirurgia de remoção.

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