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Monteiro Lobato: polêmica sobre termos supostamente racistas | Reprodução
Monteiro Lobato: polêmica sobre termos supostamente racistas| Foto: Reprodução

Persistência

Para os médicos, é mais fácil pedir o exame que convencer a paciente

Segundo a doutora Saundra S. Buys, um dos autoras do estudo e professora de Medicina do Huntsman Cancer Institute, na Universidade de Utah, apesar das más notícias sobre os exames, eles ainda são feitos. "Acho que alguns médicos e muitas pacientes ficam realmente atraídos pela possibilidade de encontrar a doença cedo, de que isso poderia salvar suas vidas."

A doutora Barbara A. Goff, oncologista ginecológica do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle, e uma das autoras do estudo do ano passado que encontrou médicos ainda a favor dos exames, declarou: "Se uma paciente solicita o exame, acho que muitas vezes o médico acha que é mais fácil simplesmente pedir os testes, especialmente se forem cobertos pelo seguro, em vez de gastar tempo para explicar por que isso pode não ser bom, que poderia levar a cirurgias desnecessárias. Não acho que eles pensem nas consequências".

Muitas vezes, continuou ela, é mais fácil convencer pacientes a fazer uma cirurgia do que convencê-las a não fazer, ou a não realizar um exame sobre o qual elas já se decidiram a favor.

O doutor Edward E. Partridge, diretor do centro de câncer da Universidade do Alabama, em Birmingham, e outro dos autores do grande estudo, afirmou que, mesmo se os exames pudessem ser aprimorados para reduzir os falsos positivos, nem assim eles salvariam a vida das mulheres. Mesmo com os falsos positivos eliminados, é fato que a taxa de mortalidade do câncer foi a mesma com ou sem os exames, sugerindo que o teste simplesmente não consegue encontrar o câncer cedo o bastante para fazer diferença.

Medo

"O que você faz para evitar a doença pode tornar as coisas piores", diz médica

Uma explicação para a cegueira dos pacientes quanto aos danos que a medicina é capaz de causar quando são feitos exames e procedimentos desnecessários vem da própria Virgínia Moyer. "Somos movidos pela esperança", diz ela, que acrescenta: "Essa é uma doença terrível. Quase todos conhecem alguém que desenvolveu a doença e que morreu com ela. O paciente fica com a sensação de que deveria fazer qualquer coisa para evitar aquela situação, assim é fácil esquecer que o que você faz para evitá-la pode tornar as coisas piores".

O câncer ovariano está entre os tipos mais rapidamente fatais de câncer. Neste ano, 22.280 novos casos e 15,5 mil mortes são esperados nos Estados Unidos, de acordo com a Sociedade Americana de Câncer.

Na maioria dos casos, o câncer ovariano já está avançado no momento do diagnóstico. Médicos dizem que o único conselho possível é não ignorar os sintomas que podem ser o primeiro aviso da doença: inchaço persistente, dores pélvicas ou abdominais, sentir-se cheia logo que começa a comer e a necessidade de urinar frequentemente.

Testes de câncer ovariano recomendados para examinar mulheres saudáveis fazem mais mal do que bem e não deveriam ser realizados, segundo declarou recentemente um painel de especialistas médicos chamado Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos.

Os testes – exames de sangue que detectam a presença de uma substância vinculada ao câncer, e leituras de ultrassom para examinar os ovários – não reduzem a taxa de mortalidade pela doença, e geram muitos resultados falsos positivos, que levam a cirurgias desnecessárias com altos níveis de complicação, afirmou o painel.

"Não existe um método de detecção do câncer ovariano que efetivamente reduza as mortes", afirma a doutora Virgínia Moyer, presidente da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, um painel de especialistas. "Muitas das mulheres que se submetem aos exames têm resultado falso positivo e passam por intervenção desnecessária, como cirurgias."

A recomendação contra os exames se aplica unicamente a mulheres saudáveis com risco médio de câncer ovariano, e não às que apresentam sintomas suspeitos ou têm alto risco devido a certas mutações genéticas ou histórico familiar da doença.

Evidências médicas

As recomendações são apenas as mais recentes de uma série de questionamentos aos exames de câncer divulgados pelo painel, que também rejeitou o exame PSA para o câncer na próstata em homens e a mamografia de rotina em mulheres com menos de 50 anos. A Força-Tarefa é formada por um grupo de 16 especialistas, nomeados pelo governo americano e que fazem recomendações sobre exames para evitar doenças. Seus conselhos são baseados em evidências médicas, e não em custos. As recomendações contra o exame de câncer de ovário foram publicadas recentemente na revista Annals of Internal Medicine (AIM). A advertência não é nova – o painel está reafirmando sua própria conclusão anterior.

Embora a Força-Tarefa tenha recebido críticas no passado, especialmente por sua postura em relação a mamografias, neste caso ela tem amplo apoio. Apesar disso, alguns médicos ainda recomendam os exames. Em artigo publicado em fevereiro na AIM, uma pesquisa com 1.088 médicos revelava que um terço deles acreditava que o exame era eficiente e muitos os ofereciam às pacientes.

Consequências

15% das operadas desnecessariamente desenvolveram complicação grave

Para sua mais recente recomendação, o painel baseou-se principalmente em um grande estudo publicado no ano passado na revista The Journal of the American Medical Association, realizado com 78.216 mulheres entre 55 e 74 anos. Metade delas foi examinada e metade não, e elas foram acompanhadas por 11 a 13 anos. O exame consistia de testes de ultrassom e exames de sangue em busca de níveis elevados de uma substância chamada CA-125, que pode ser um sinal de câncer no ovário.

Não houve vantagem na realização dos exames: a taxa de mortalidade por câncer ovariano foi a mesma nos dois grupos. Mas, entre as mulheres examinadas, quase 10% – 3.285 mulheres – tiveram resultados falsos positivos. Dessas mulheres, 1.080 passaram por cirurgia, geralmente para remover um ou os dois ovários. Apenas depois das operações ficou claro que elas haviam sido desnecessárias. E pelo menos 15% das mulheres operadas desenvolveram ao menos uma complicação grave, como coágulos, infecções ou lesões em outros órgãos.

Para encontrar um único caso de câncer ovariano, 20 mulheres tiveram de se submeter a cirurgias.

O problema com os exames é que o CA-125 pode ser elevado por outras condições além do câncer, e o ultrassom pode revelar a hipertrofia ovariana ou cistos que são benignos – mas que não podem ser diferenciados do câncer sem uma cirurgia de remoção.

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