
A picada leva apenas alguns segundos, assim como o desconforto da agulha. Mesmo assim, alguns pais insistem em medicar as crianças para que não sintam a dor da injeção. Também há quem prefira levar os filhos para tomar todas as vacinas em um único dia ou ainda usar pomadas em qualquer arranhão. Essas são algumas atitudes de pais que tentam "proteger" as crianças de um sofrimento físico, mas que são criticadas por especialistas.
Segundo a presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia - Regional Paraná, Heloisa Ihle Garcia Giamberardino, o uso de alguns medicamentos, como os anti-inflamatórios, podem interferir na resposta vacinal. "Não é uma interferência tão significativa, mas se usar sem necessidade clínica e virar uma rotina, pode influenciar", alerta Heloisa, que é pediatra. Para ela, o esforço dos pais em evitar a dor é desnecessário.
O risco alérgico também é perigoso nesses casos, de acordo com o infectologista do laboratório Frischmann Aisengart, Jaime Rocha. "A criança pode apresentar sonolência, quadro alérgico e sofrer efeitos colaterais do remédio", explica.
Da mesma forma, agrupar uma maior quantidade de vacinas em um único dia deve ser analisado caso a caso. De duas a três aplicações, em dois membros, não há problema. Porém, a restrição de massa muscular da criança pode impedir mais injeções no mesmo dia. "As vacinas devem ser feitas nas datas estipuladas, às vezes evitando quando a criança não tem um espaço muscular adequado para a vacina, quando quebra o braço, por exemplo", afirma a pediatra. Ao invés de tentar "proteger" as crianças do rápido sofrimento, os médicos indicam aos pais ensiná-los sobre os benefícios da vacinação, quando mais velhos, ou buscarem outras formas de reduzir a dor, quando pequenos.
Recomendações
Doces e distrações podem aliviar dor
Mesmo entre os adultos, "enganar" o medo da injeção é uma prática aconselhável. E os doces podem servir como "consolo". Antes da vacina ou mesmo durante, entregue uma bala à criança para que a dor seja esquecida, pelo menos por alguns segundos. Para as crianças pequenas, a pediatra Heloisa Giamberardino recomenda dar a vacina enquanto ela estiver mamando. "Usar um creme anestésico ou gelo seco no local da picada uma hora antes da vacina também ajuda", afirma a pediatra, que recomenda a prática inclusive entre os adultos.
Oferecer doces junto com o remédio amargo pode ajudar a mascarar o sabor e incentivar a criança a engoli-lo. Mas, antes de fazer isso, é preciso consultar o pediatra. "Alguns medicamentos têm a ação alterada pelos alimentos e precisam ser ingeridos em jejum. No caso dos anti-inflamatórios, que podem causar efeitos irritativos sobre a mucosa gastrointestinal, devem ser administrados junto com as refeições", complementa Heloisa.
Regurgitação
Deixar o almoço ou lanche para depois da vacina é uma das recomendações aos pais, principalmente no caso das vacinas orais, como a contra o rotavírus. Nas crianças de colo, o ato de regurgitar, que é comum, pode prejudicar a absorção do medicamento. "É melhor que se tome a vacina no intervalo dos horários de alimentação", recomenda a pediatra.



