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 | LUIZ COSTA/GAZETA
| Foto: LUIZ COSTA/GAZETA

O ateliê de um artista é sua vida e o ambiente que o cerca; para além das paredes, mostra um pouco sobre seu modo de fazer arte. Carlos Eduardo Zimmermann, um dos expoentes da pintura paranaense, morreu no último dia 4, aos 66 anos, em sua casa-ateliê ladeada por araucárias e tendo como vista um cartão postal, o Parque Barigui. Zimmermann sintetizava uma vida estética, sempre cercado por belezas únicas, as externas e as que ele mesmo criava.

Natural de Antonina (PR), por vontade dos pais cumpriu tabela na faculdade de Medicina, onde chegou a se formar, mas foi tomado desde cedo pelo talento de unir cores e se dedicar às telas. Orlando Azevedo, fotógrafo e curador de exposições do pintor, observa a obra do amigo como contínua e de extremo requinte, com fases que se integram. “Com domínio de técnica impecável e um preciosismo característico, partiu para um universo muito próprio. Não tem como separar a obra do Zimmermann da vida dele”, diz.

A partir do aprendizado de desenho e pintura com Guido Viaro e da pós-graduação em Londres, no Royal College of Art, no final dos anos 1970, o artista desenvolveu as particularidades de sua obra. O período na terra da rainha gerou uma nova e amadurecida fase nos trabalhos artísticos. Ao chegar a um local desconhecido, passa a explorar os mapas da cidade, forma de conhecer o local onde vive, e, colocando elementos de sua realidade, como molhos de chaves ou uma camisa, desenvolve novas peças. “Os universos que ele cria são diferentes porque os coloca dentro de um espaço deslocado de seu contexto, criando um elemento de reflexão, não de estranhamento”, reflete o crítico de arte e professor Fernando Bini.

Com elementos do realismo, fotorrealismo e até um flerte com o surrealismo, sua obra inclui o retrato de objetos do cotidiano, como cortinas, torneiras, trincos de porta e embalagens. Apesar de inanimados, a delicadeza do traço desses elementos traz sensualidade ao desenho. É capaz de, a partir de algo que está sob olhar rotineiro, desenhar o fantástico. Detalhista, criava com o isolamento dos objetos nas telas um ar metafísico. Nos anos 1970, ele e a também artista plástica e amiga Bia Wouk introduziram no Paraná uma linguagem mais pop, diferente das paisagens clássicas dos anos 1950.

Sua personalidade continha uma rara combinação de sociabilidade e introversão. “Ele era uma pessoa especialmente disponível, sua obra refletia quem era. Estar aberto ao que o mundo pensava, essa é a importância dele e com certeza significa uma perda enorme para a arte”, afirma o artista plástico Geraldo Leão. Como o gentleman que era, gostava de receber os amigos em seu recanto, sempre preparado com uma taça de champanhe. Na casa, onde, metódico, se fechava por tempos a fim de se dedicar apenas à pintura, reinavam os cães de estimação, outra paixão. Sua generosidade também é lembrança, assim como a constante disponibilidade para atender amigos e estudantes que o procuravam para ter um pouco da palavra de um mestre paranaense das artes.

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