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O vocalista Nasi, da banda Ira!, que fez sucesso nos anos 80, está no centro da mais recente polêmica envolvendo um artista que briga com os próprios fãs por causa de opiniões políticas divergentes.
O programa Última Análise desta quarta-feira (16), no canal da Gazeta do Povo no YouTube, reuniu convidados para debater a explosiva mistura de política e arte num país altamente polarizado. Artistas que antes cantavam loas à tolerância e à liberdade hoje xingam quem tem posição política diferente.
No caso de Nasi, do Ira!, ele gritou “sem anistia!” durante um show em Minas Gerais, mas não gostou quando parte da plateia começou a vaiar. Pediu para que os bolsonaristas fossem embora e não aparecessem em suas apresentações. Dito e feito. Pelo menos quatro shows foram cancelados em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porque muita gente começou a devolver os ingressos.
Dentre as músicas do Ira!, é possível encontrar desde uma canção que diz "vejo flores em você", como outra, chamada Pobre Paulista, que afirma: "Não quero ver mais essa gente feia. Não quero ver mais os ignorantes. Eu quero ver gente da minha terra. Eu quero ver gente do meu sangue".
A culpa é de quem?
Não é a primeira vez que um artista se indispõe com os fãs por preferências político-partidárias. Em 2018, por exemplo, Roger Waters, ex-Pink Floyd, xingou Bolsonaro de neofascista durante um show em São Paulo.
O jornalista da Gazeta do Povo, Omar Godoy, que participou do debate, acredita que o rock sempre teve confronto, mas o público não pode ser considerado ignorante por não conhecer as posições políticas da banda. "Quem é menos culpado é o público. Vi várias análises da imprensa dita progressista e todas tiram o público para ignorante e cobram conhecimento do público. Do mesmo jeito que o artista tem o direito de falar o que ele quer em cima do palco, ele também tem que saber ouvir", opinou.
O tema foi debatido também pelo filósofo Francisco Escorsim. Questionado se o artista pode cobrar do fã uma posição política igual à sua, ele foi categórico: "Para mim (isso) é burrice, porque o artista aliena parte do seu público por uma questão política que não vem nada a ver com a arte em si". Ao que completou: "Nada contra o Nasi ser contestador e ser sem anistia, ou com anistia, o que ele quiser. Mas ele vai ter que pagar a conta no sentido de que não pode achar ruim que o público ache ruim".
O jurista André Marsiglia enfatizou ainda o "estrago" que alguns artistas fazem em sua arte quando começam a fazer um uso político dela. "Passam a a fazer um uso indevido, que é usar a arte para algo que é político, que é menor, algo que não tem a ver com o belo e o sublime. O que importa da arte é o belo, e aí não tem essa de direita ou de esquerda, porque o belo tem a ver com sensibilidade, não com o universo da política", destacou.
O quanto a arte tem sido influenciada pela política é algo evidente especialmente entre aqueles que se posicionam ideologicamente à esquerda. Para o jornalista Leandro Narloch, na dinâmica da intolerância, é justamente essa vertente que se destaca. "Quem é de direita não se define como pessoa a partir disso, mas quem é de esquerda em geral tem isso como uma visão de mundo. Algo que define sua própria personalidade. Uma mentalidade que é muito mais religiosa do que exatamente política."
O debate completo desta edição do Última Análise pode ser assistido aqui. O programa vai ao ar de segunda a quinta-feira, das 19h às 20h30, no canal da Gazeta no YouTube. Tem como proposta aprofundar o debate em questões relevantes da vida nacional, dando preferência à racionalidade e ao diálogo produtivo.