
Principal promessa da presidente Dilma Rousseff (PT), a erradicação da pobreza extrema no Brasil até 2014 já tem alvo definido: 16,2 milhões de pessoas com renda familiar mensal per capita de até R$ 70. O contingente representa 8,5% do total de 190,8 milhões de habitantes, de acordo com dados preliminares do Censo de 2010. Mais da metade do grupo (52,7%) vive no Nordeste e apenas 4,4% no Sul.A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, explicou ontem que o valor da renda escolhido para delimitar a linha de extrema pobreza no país é baseado em informações do Bolsa Família e nas Metas do Milênio das Nações Unidas. A definição do público vai nortear o plano Brasil sem Miséria, que será lançado pelo governo na segunda metade deste mês. Tereza adiantou que o plano vai combinar novos programas sociais com outros já existentes.
O trabalho será feito a partir de três eixos: transferência de renda, acesso a serviços públicos e inclusão produtiva. "Estamos falando de uma população extremamente pobre [de renda] e também carente do conjunto dos outros serviços. Isso justifica que o governo federal tenha um olhar que priorize esse público", afirmou a ministra.
Ela sinalizou que há possibilidade de que o Bolsa Família beneficie mais gente, mas sem mudanças nas regras atuais. Segundo Tereza, o programa é "reconhecidamente bem focalizado" e já abrange 85% das pessoas que se encaixam nos requisitos. "Mas queremos ir atrás dessa população [os 15% que faltam]. Vamos melhorar e qualificar o cadastro."
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Os dados iniciais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre os brasileiros que se encontram abaixo da linha de extrema pobreza adotada pelo governo ainda não computam os que já são beneficiários dos atuais programas sociais. O universo de "miseráveis" foi constituído a partir da declaração de renda feita durante o Censo do ano passado. Para evitar distorções, foram utilizados filtros que estimaram dados como a presença de banheiro, saneamento e água tratada nas residências do grupo.
Ao final, o contingente de pessoas sem qualquer rendimento mensal foi calculado em 4,8 milhões. Outros 11,4 milhões têm rendimento médio domiciliar per capita entre R$ 1 e R$ 70. "Não estamos falando de um número residual, a pobreza extrema ainda atinge quase um a cada dez brasileiros", alertou o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann.
A secretária extraordinária de Erradicação da Extrema Pobreza, Ana Fonseca, admitiu que o desafio de erradicar a miséria em quatro anos proposto por Dilma é complexo, mas que há condições de cumpri-lo. "Sim, nós faremos", declarou Ana. "Mas quero alertar que quando falamos em erradicar não falamos em zerar, mas reduzir a algo bem irrisório, dentro de certos padrões", explicou.
Para a ministra, o sucesso do plano dependerá de um esforço conjunto da sociedade e das diferentes esferas de poder. "O plano terá um caráter extraordinário, será uma força-tarefa que inclui o conjunto da população brasileira", afirmou Tereza.




