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Veja o balanço das pessoas afetadas pela chuva |
Veja o balanço das pessoas afetadas pela chuva| Foto:

Honório Serpa decreta estado de emergência

Cascavel - Luiz Carlos da Cruz, correspondente

A prefeitura de Honório Serpa, distante 60 quilômetros de Pato Branco, no Sudoeste do estado, decretou ontem estado de emergência devido ao temporal que atingiu a cidade na noite de quinta para sexta-feira da semana passada. Cerca de 70% dos habitantes da cidade foram atingidos pela chuva, mas não há registro de pessoas desabrigadas.

O caso mais grave ocorreu na comunidade de Linha Miranda onde um homem de 75 anos morreu ao ser arrastado pela enxurrada quando tentava atravessar o Rio Gigante. O aposentado José Guer­­ra, que possuía problemas de visão, não conseguiu concluir a travessia a qual estava acostumado a fazer quase que diariamente e, devido ao volume de água, foi levado pela correnteza.

De acordo com o prefeito Rogé­­rio Antonio Benin (PDT), 12 pontes e cerca de 40 bueiros foram destruídos pelas chuvas, que danificaram aproximadamente 300 quilômetros de estradas rurais. Parte do perímetro urbano também foi alagada. Os prejuízos, segundo o prefeito, chegam a R$ 1,34 milhão.

A prefeitura vai buscar recursos com o governo federal para recuperar o que foi danificado. "O mu­­nicípio não tem condições financeiras de recuperar sozinho", relata o prefeito. Anteontem, uma reunião na Câmara de Vereadores discutiu medidas emergenciais para amenizar a situação. "Vamos tentar recuperar o mais rápido possível", afirma Benin.

Em Mangueirinha, município vizinho, a chuva também provocou estragos, mas não na mesma proporção. De acordo com Volmir Welter, secretário de Adminis­­tração, aproximadamente 100 quilômetros de estradas, 20 bueiros e cinco pontes precisarão ser recuperados após o temporal. A prefeitura ainda não tem um levantamento dos prejuízos.

  • A tragédia em Antonina emociona a cabeleireira Iolanda Meira da Silva: ela acolheu uma família que teve a casa danificada
  • Igor José Dias desrespeitou uma determinação e voltou ontem aos escombros de sua casa para salvar alguns pertences

Na tentativa de auxiliar famílias que perderam tudo, organizar donativos ou levar água para quem está sem abastecimento desde a última sexta-feira, dezenas de moradores de Antonina mudaram suas rotinas. São pessoas que deixaram de trabalhar para tentar – da forma que é possível – minimizar o drama das vítimas da tragédia. Segundo o último boletim da Defesa Civil Estadual, são 6 mil pessoas desalojadas, 1.160 desabrigadas e 7,5 mil afetadas de alguma forma apenas no município.

A cabeleireira Iolanda Meira da Silva, que morava sozinha, abriga agora o casal Gilmar e Iraci Queiroz Moura e seus três filhos. A família teve a casa, na região central, afetada pela chuva e pelo barro. Iolanda também fechou o salão de beleza e passa o dia ajudando na limpeza da casa dos Moura. "Fico perdida, pensando no que mais poderia fazer para ajudar o restante das pessoas."

Já a aposentada Dirce de Godoy Martins deu alojamento a familiares. Ela mora na Ponta da Pita, bairro não afetado e com o abastecimento de água restabelecido. O restante da família residia no bairro Graciosa, desocupado desde a madrugada de domingo por estar em uma área considerada de risco pelo Centro de Apoio Científico em Desastre da Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR). "Ainda bem que tenho um espaço bom na minha casa e que consegui acolher a todos. Mas é ruim ver meu filho e a família nesta incerteza", diz Dirce.

Por causa da falta de água, que persiste em sete bairros – Caixa D´Água, Saivá, Barigui, Tucundu­­va, Batel, Quilômetro 4 e Centro –, motoristas voluntários fazem a entrega de água para a população, além dos caminhões-pipa disponibilizados pela prefeitura e Sanepar. A iniciativa foi do comodoro do Clube Náutico de Antonina, Caetano Cândido Machado. Na sexta-feira passada, dia das fortes chuvas, ele pegou botes do clube e auxiliou os bombeiros a retirar pessoas ilhadas.

No sábado, Machado pediu carros emprestados de amigos e pegou um trator do clube para distribuir água, coletada da piscina do clube, que é abastecida por uma nascente de água vinda do Morro da Penha. A equipe trata a água durante a noite para levá-la aos bairros em que os caminhões-pipa não chegam. Os 30 integrantes do grupo são voluntários. Entre eles estão alguns desalojados, como a única mulher da equipe, Flávia Kalline, e seu marido, Macley Gluchowski Stecanella.

Marvyn Ferraz, de 13 anos, é o "mascote" do grupo e começou a ajudar logo no primeiro dia da ação. "Eu vi ele [Machado] passando e pedi se podia ir junto. Agora fico com os outros voluntários o dia todo." Na tarde de ontem, eles distribuíram água no bairro Tu­­cun­­duva. Foi só a carreta encostar pa­­ra surgirem mulheres e crianças com baldes e garrafas para encher. Em menos de meia-hora, a água levada em uma caixa d’água terminou.

Sem água

A falta de água encanada é um dos problemas que mais afeta a população de Antonina. De acordo com a comunicação social da prefeitura, o serviço deve ser restabelecido ainda hoje. O Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de Antonina (Samae) explicou que a captação de água, feita no Morro da Emília, está em uma situação volúvel, já que a pressão dos morros estourou o encanamento. A Samae informou também que alguns bairros podem demorar mais para receber água, já que a pressão nos canos não será a mesma.

A água mineral que começava a faltar no comércio desde domingo, chegou em alguns estabelecimentos ontem. O abastecimento de carne foi normalizado, além da gasolina. De acordo com os comerciantes, os veículos dos fornecedores têm conseguido chegar à cidade. Portanto, a hipótese de desabastecimento, por ora, está descartada. Já as aulas continuam suspensas pelo menos até a próxima semana.

Previsão do tempo

Uma nova frente fria, que está se deslocando do Sul, deve chegar ao Paraná na próxima sexta-feira trazendo mais chuvas. De acordo com o meteorologista Marcelo Brauer, do Instituto Tecnológico Simepar, quando a frente fria se aproxima, causa um aquecimento muito rápido, que ocasiona fortes pancadas de chuva, especialmente durante a tarde. O litoral deve voltar a ser afetado por esta frente fria. O dia de hoje deve permanecer sem chuvas, mas as precipitações devem voltar a partir de amanhã.

RISCO

Vítimas tentam resgatar bens

Apesar da orientação de autoridades para que moradores de áreas desocupadas ou atingidas por desmoronamentos não retornem a essas localidades, muitas pessoas insistem em tentar salvar o que sobrou. Morador do bairro Laranjeiras, o mais atingido pelos deslizamentos em Antonina, Igor José Dias tentava salvar roupas da família encontradas no meio da lama e de troncos de árvores. "Vou catar o que tem de mais novo e levar". Valmir Cesarino do Carmo também juntava cobertores e roupas que restaram para levar a uma casa onde está com a família. "O resto, nada presta mais."

Segundo o coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres da Universidade Federal do Paraná, Renato Lima, as encostas estão mais instáveis e diversos pontos estão em movimento imperceptível a olho nu. Com isso, não há necessidade de chuvas intensas para que ocorram novos desabamentos. Lima disse que as áreas devem permanecer interditadas.

A promotora de Antonina, Rosana Mikrut Demchuk, ajuizou uma medida cautelar emergencial na noite de segunda-feira pedindo reforço policial nos bairros desocupados para evitar saques e roubos. A medida solicita também delimitação das áreas de risco para que os moradores não sejam retirados das casas sem necessidade.

Colaborou Fernanda Trisotto.

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