Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
reinserção social

A educação que liberta

Iniciativa do terceiro setor oferece cursos on-line para detentos, que têm a pena reduzida ao estudar. Projeto atendeu mais de cem presos em instituições de Ponta Grossa

Detenta usa computador para escrever cartas aos filhos em programa de apren­dizagem digital | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Detenta usa computador para escrever cartas aos filhos em programa de apren­dizagem digital (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

A simples presença de um computador em uma penitenciária é capaz de causar múltiplas impressões nos detentos. Confinados a um ambiente rústico de concreto e aço, onde nenhum objeto quebrável é permitido, veem os equipamentos eletrônicos com certa estranheza inicial. Mas a desconfiança logo dá lugar à curiosidade, na medida em que começam a ser ministrados cursos on-line de informática, empregabilidade, governança doméstica, gestão de negócios, idiomas e de saúde. Para vários deles, é o primeiro contato com esses temas – e às vezes até com o equipamento que os transmite. Ao fim, além de um diploma, recebem um dia de redução de pena para cada 12 horas/aula. E uma noção mais clara de como aproveitar o tempo adicional de liberdade.

O projeto completa um ano em agosto, e desde então atendeu a mais de uma centena de detentos em instituições penais de Ponta Grossa, na Região dos Campos Gerais. Agora, chega à Penitenciária Feminina do Paraná, localizada em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba. Existem vários projetos de estudo e trabalho em penitenciárias, mas é incomum que as iniciativas partam do terceiro setor. A educação virtual, entretanto, é coordenada e financiada pelo Instituto Mundo Melhor, braço filantrópico da varejista paranaense Mercado Móveis. "O varejo não tem muita tradição em responsabilidade social. Mas como nossas unidades ficam à beira da rua, recebemos muitos pedidos de ajuda. A criação da entidade teve como objetivo organizar essa demanda", explica seu coordenador, Orion Barbosa.

A oferta de cursos começou após a entidade ganhar um ônibus do Rotary Club de Ponta Grossa. Trans­formaram-no em lan-house ambulante para ministrar cursos em comunidades carentes. Ao saber da ideia, profissionais da Secretaria de Estado da Justiça (Seju) viram que o veículo poderia ser usado em penitenciárias de regime semiaberto, como parte das ações de ressocialização. Depois, a proposta se ampliou e foram criadas salas fixas em instituições de regime fechado.

Presidiários formam um público pouco atingido por iniciativas não governamentais, seja pela dificuldade em trabalhar dentro das instituições, seja por certo desprezo da população em relação a quem cometeu crimes, o que dificulta a legitimação do marketing social. "Aos poucos, as pessoas entendem que é uma ação em prol delas. O preso necessita voltar para a sociedade melhor que saiu", justifica Orion. Ele revela que uma das prioridades do instituto é firmar parcerias com o poder público, para que a organização consiga impactar políticas públicas.

A orientação aos alunos é feita por um agente penitenciário treinado pelo instituto, assim como a grade, os horários e os participantes. A conexão de internet é do tipo restrito; os detentos não conseguem acessar outros sites. Mas para eles, já há ali todo um mundo novo para ser acessado e descoberto.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.