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Detenta usa computador para escrever cartas aos filhos em programa de apren­dizagem digital | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Detenta usa computador para escrever cartas aos filhos em programa de apren­dizagem digital| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Objetivos

Cursos buscam orientar para a vida em liberdade

Dos mais de 60 cursos oferecidos pelo Instituto Mundo Melhor, a Secretaria de Estado de Justiça (Seju) escolheu os que mais se enquadravam à estratégia de ressocialização. Foram priorizados temas que pudessem orientar o detento a planejar a vida após o cárcere. "Temos a preocupação de instrumentalizar o detento", esclarece Glacélia Quadros, coordenadora de educação, qualificação e profissionalização de apenados da Seju. "Quais requisitos ele precisa para ser um bom profissional? Precisamos ensinar como vestir, falar e se relacionar."

A interface dos programas busca ser simples e intuitiva, levando em consideração a dificuldade geral com a informática. Segundo a diretora, a navegação é fácil e os alunos conseguem aproveitar dos recursos da ferramenta. Após as atividades e provas, os participantes recebem um certificado homologado por uma instituição de ensino, formalidade necessária para que seja concedida a redução da pena.

A Secretaria de Justiça mantém, em cada unidade, um setor de pedagogia. "Para que eles possam se transformar, precisamos dar os meios para isso", ressalta Glacélia.

Os cursos on-line fazem parte de uma estratégia mais abrangente de cursos e trabalhos. De acordo com a secretaria, 38% dos detentos desenvolvem algum tipo de atividade, ante 10% da média nacional. A meta principal é a redução do analfabetismo entre a população carcerária.

12 horas de estudo equivalem a um dia de redução na pena. Os módulos de 60 horas abrangem temas como informática, empregabilidade, governança doméstica, gestão de negócios. As ações buscam transformar as prisões em escolas, oficinas de trabalho e ambientes de paz e não violência.

"O estado não tinha estrutura e nós não tínhamos o conhecimento e a autoridade. Então foi um casamento perfeito."

Orion Barbosa, coordenador do Instituto Mundo Melhor.

A simples presença de um computador em uma penitenciária é capaz de causar múltiplas impressões nos detentos. Confinados a um ambiente rústico de concreto e aço, onde nenhum objeto quebrável é permitido, veem os equipamentos eletrônicos com certa estranheza inicial. Mas a desconfiança logo dá lugar à curiosidade, na medida em que começam a ser ministrados cursos on-line de informática, empregabilidade, governança doméstica, gestão de negócios, idiomas e de saúde. Para vários deles, é o primeiro contato com esses temas – e às vezes até com o equipamento que os transmite. Ao fim, além de um diploma, recebem um dia de redução de pena para cada 12 horas/aula. E uma noção mais clara de como aproveitar o tempo adicional de liberdade.

O projeto completa um ano em agosto, e desde então atendeu a mais de uma centena de detentos em instituições penais de Ponta Grossa, na Região dos Campos Gerais. Agora, chega à Penitenciária Feminina do Paraná, localizada em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba. Existem vários projetos de estudo e trabalho em penitenciárias, mas é incomum que as iniciativas partam do terceiro setor. A educação virtual, entretanto, é coordenada e financiada pelo Instituto Mundo Melhor, braço filantrópico da varejista paranaense Mercado Móveis. "O varejo não tem muita tradição em responsabilidade social. Mas como nossas unidades ficam à beira da rua, recebemos muitos pedidos de ajuda. A criação da entidade teve como objetivo organizar essa demanda", explica seu coordenador, Orion Barbosa.

A oferta de cursos começou após a entidade ganhar um ônibus do Rotary Club de Ponta Grossa. Trans­formaram-no em lan-house ambulante para ministrar cursos em comunidades carentes. Ao saber da ideia, profissionais da Secretaria de Estado da Justiça (Seju) viram que o veículo poderia ser usado em penitenciárias de regime semiaberto, como parte das ações de ressocialização. Depois, a proposta se ampliou e foram criadas salas fixas em instituições de regime fechado.

Presidiários formam um público pouco atingido por iniciativas não governamentais, seja pela dificuldade em trabalhar dentro das instituições, seja por certo desprezo da população em relação a quem cometeu crimes, o que dificulta a legitimação do marketing social. "Aos poucos, as pessoas entendem que é uma ação em prol delas. O preso necessita voltar para a sociedade melhor que saiu", justifica Orion. Ele revela que uma das prioridades do instituto é firmar parcerias com o poder público, para que a organização consiga impactar políticas públicas.

A orientação aos alunos é feita por um agente penitenciário treinado pelo instituto, assim como a grade, os horários e os participantes. A conexão de internet é do tipo restrito; os detentos não conseguem acessar outros sites. Mas para eles, já há ali todo um mundo novo para ser acessado e descoberto.

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