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Ainda em estado de choque, o pintor Igor Brito de Moura, de 30 anos, observava o trabalho de resgate dos moradores do Morro do Beltrão, em Niterói, na manhã desta quarta-feira (7), e tentava entender a perda das três filhas que morreram soterradas no deslizamento de terra que atingiu o local. "A ficha ainda não caiu. Doideira isso". Essas foram as únicas palavras que ele, emocionado, conseguiu dizer.

As meninas tinham 10, 5 e 3 anos. Igor e a esposa estavam em Friburgo, na Região Serrana do Rio, quando souberam do desastre. As filhas estavam com a mãe dele, que foi retirada com vida e passa bem. O pintor só conseguiu chegar em Niterói no fim do dia de terça (6), devido às dificuldades de acesso nas estradas. A mulher dele teve que ser medicada e ele vai passar o dia resolvendo burocracias de velório e enterro.

Outras quatro pessoas morreram no Morro do Beltrão, devido ao temporal que atingiu o Rio de Janeiro, sendo mais uma criança, uma jovem de 15 anos e um casal de adultos, que seriam pais da menina. Cobertos de lama, os moradores continuam empenhados em encontrar mais cinco desaparecidos.

Solidariedade

O clima é de angústia e muita revolta com o poder público, que até o momento não chegou ao local. Eles usam enxadas e alguns deles ajudam até mesmo descalços. Vizinhos ajudam com fornecimento de água, café e biscoitos para os que trabalham nos escombros. Outros levam roupas e comida para o abrigo.

Uma equipe do Programa Médico de Família esteve no local para prestar primeiros socorros e dar suporte às famílias. Segundo as profissionais, muitos moradores apresentaram pressão alta devido à situação de caos na região.

40 famílias desabrigadas

De acordo com João Menezes, presidente da associação de moradores do bairro, cerca de 40 famílias estão desabrigadas e foram encaminhadas para o Colégio Estadual Guilherme Briggs, também em Santa Rosa.

"Perdi uma cunhada, uma sobrinha e ainda estão desaparecidos um sobrinho e mais um cunhado", contou o enfermeiro Samuel França, de 37 anos, que conseguiu resgatar com vida um irmão, na terça. Ele está internado em coma no Hospital Santa Marta, no mesmo bairro.

Perigo nos escombros

Mesmo sem técnica, os moradores do Beltrão afirmam não ter medo de procurar por sobreviventes. "Técnica ninguém nunca tem, mas pobre quando morre em uma comunidade, a gente tem que aprender de repente. O maior medo era a rede elétrica, que está desligada. Agora, é só a força de Deus", afirmou Samuel.

"O maior problema é a agilidade do poder publico. Defesa Civil e Corpo de Bombeiros é que deveriam fazer o trabalho. Ontem eles vieram muito tarde, trabalharam só de 12h às 16h e não houve avanço", reclamou o presidente da associação de moradores João Menezes.

Segundo os moradores, a Defesa Civil só apareceu às 12h de terça, quando os corpos já tinham sido resgatados e, chamados novamente nesta quarta (7), ainda não chegaram ao local. Procurada pelo G1, a Defesa Civil de Niterói não se pronunciou sobre o assunto.

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