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Com o equipamento, é possível testar produtos e
serviços desenvolvidos para a terceira idade. Veja |
Com o equipamento, é possível testar produtos e serviços desenvolvidos para a terceira idade. Veja| Foto:

O que vem por aí

As pesquisas dos laboratórios de idade incluem avan­çadas tecnologias para deixar a vida de todos – inclusive os idosos – mais fácil. Confira alguns produtos em teste:

Carro

- Os pesquisadores do AgeLab (MIT) estão avaliando se o sistema de dirigibilidade de automóveis desenvolvido pela Ford Motor Co., acionado por ultrassom para dar marcha ré, detectar pontos cegos e obedecer comando de voz, é bem aceito entre idosos. O mesmo sistema que auxilia na manobra de estacionamento para quem não consegue mais virar o pescoço pode atrair motoristas que gostam de tecnologia inteligente.

Habitação

- O Mirabella, um novo arranha-céu de US$ 130 milhões em Oregon (EUA), tem água quente por aquecimento solar, garagem onde manobristas empilham carros em racks, sensores que acionam luzes nas escadas, entre outros dispositivos. Cabos de fibra ótica conectam os moradores idosos a um laboratório na universidade vizinha, onde sensores de movimento sem fio monitoram sua mobilidade e, por extensão, seu estado de saúde em tempo real.

Comunicação

- Um robô antropomórfico da Vgo Communications, apelidado de Célia e equipado com uma tela de vídeo, estabelece a comunicação entre usuários distantes, através de um vídeo chat. "Célia" segue o usuário pela casa, transmitindo imagem e som do usuário.

Vigilância

- O Intel Health Guide – desenvolvido pela Intel e General Eletric – é um sistema de vigilância doméstica que ajuda médicos a gerenciarem remotamente a rotina de seus pacientes. O monitoramento pretende determinar se mudanças nos hábitos diários – como velocidade no andar, postura, sono, ingestão de remédios, pontuação em jogos de computador – são capazes de prever com precisão coisas como o declínio cognitivo ou problemas de equilíbrio, permitindo que os médicos intervenham antes que alguém caia e, digamos, frature um quadril, ou identifiquem casos de depressão ou isolamento social.

Um traje invocado, elaborado pelo Massachusetts Institute of Techonology (MIT), simula a força, destreza, equilíbrio e a mobilidade de uma pessoa de 74 anos. O Agnes, da sigla em inglês para Age Gain Now Empathy System, é uma das ferramentas do laboratório do envelhecimento (AgeLab), criado pelo MIT em 1999. Os pesquisadores projetaram Agnes para ajudar designers de produto e profissionais de marketing a entender melhor os idosos e criar produtos inovadores para eles.

Muitas indústrias têm, ao longo do tempo, se esquivado de fazer marketing de forma aberta para pessoas com 65 anos ou mais, vendo-as como um grupo demográfico fora de moda que pode até comprometer seus produtos junto a consumidores jovens e antenados. Mas, agora que a população está mais longeva e ativa na terceira idade, uma série de empresas reconhece que o mercado da maturidade veio para ficar. "O envelhecimento é um fenômeno multidisciplinar e requer novas ferramentas ao ser examinado", diz Joseph Cou­­ghlin, diretor do laboratório.

O AgeLab, como outros centros de pesquisa em universidades e empresas americanas, de­­sen­­volve tecnologias para ajudar os idosos a manter a saúde e a qualidade de vida. Empresas vão ao laboratório para entender seus públicos-alvo ou para que seus produtos, diretrizes e serviços sejam estudados.

Muitas vezes, os visitantes descobrem duras verdades no AgeLab: muitos idosos não gostam de produtos, tais como telefones com teclas enormes, que passam recibo de sua idade avançada. "A verdade é que não se pode fabricar um produto para idosos, porque um jovem não vai comprá-lo e um velho também não", explica Coughlin.

A ideia é ajudar as empresas a vender produtos facilmente acessíveis aos idosos – com tamanho de fonte personalizado, por exemplo, ou controle de velocidade do som – de forma muito parecida com o que fizeram com produtos ecologicamente corretos. Isso significa oferecer características atraentes e embalagens adequadas para criar apelo junto a um determinado segmento sem espantar outros consumidores.

Mas os pesquisadores da longevidade estão apostando que os baby boomers (que agora beiram os 65 anos), ao contrário de gerações passadas, resistirão mais a ir para asilos. Alguns grupos de pesquisa em instituições como Oregon Health & Science University, MIT e Stanford, juntamente com fundações e o setor privado trabalham com um cenário alternativo: idosos que passem a viver de forma independente em casa por longos períodos, seja uma residência ou uma comunidade de idosos.

Bem-estar e autonomia

Dispositivos contra acidentes comuns, de cair e não conseguir mais se levantar, dizem eles, representam o velho em termos de produtos. O novo negócio da velhice envolve tecnologias e serviços que promovam o bem-estar, a mobilidade, a autonomia e a conectividade social. Incluem caixas de comprimidos que, por um sistema sem fio, transmitem informações sobre a rotina medicamentosa do paciente, bem como novos serviços financeiros, como o "Second Acts" do Merrill Lynch Bank of America, que ajudam no planejamento de vidas mais longas e segundas carreiras.

Juntos, esses produtos e serviços já são um mercado de bilhões de dólares, afirmam analistas do setor. E, se tais inovações se provarem eficazes para promover saúde e independência, adiando os cuidados em asilos, a economia potencial para o sistema de saúde poderia ser ainda maior.

"Madurescência"

Por mais de um quarto de século, Ken Dychtwald, presidente da AgeWare, organização de pesquisa e consultoria especializada em envelhecimento populacional, vem tentando rebatizar o fenômeno como positivo. Ele cunhou uma palavra – "madurescência" – para mostrar que a maturidade tem as características de uma etapa de transformação, como a adolescência, em que as pessoas têm mais tempo livre e interesse em tentar novas experiências. Também se saiu com um antídoto para o estigma de aposentado: "aposentagiário".

"Ao invés de ver a maturidade como uma oportunidade para vender às pessoas sociedade num clube de golfe ou tratamento de artrite", pergunta Dychtwald, "uma vez que uma pessoa que faz 60 anos tem mais 20 anos pela frente, por que não criar programas de educação que motivem a sair, aprender novas habilidades e ter um bis da vida?"

Custo com população idosa deve superar PIB

Os primeiros de cerca de 76 milhões de baby boomers nos Estados Unidos completaram 65 anos em janeiro. Sua expectativa de vida é maior do que a de qualquer geração anterior. O número de pessoas maiores de 65 anos deverá aumentar para mais do dobro em todo o mundo, saindo de 523 milhões no ano passado para cerca de 1,5 bilhão em 2050, segun­do estimativas da Organização das Nações Unidas. Isso significa que pessoas com 65 anos ou mais vão superar, em breve, o número de crianças menores de 5 anos pela primeira vez na história. Como consequência, muitas pessoas podem ter de adiar sua aposentadoria – ou jamais se aposentar completamente –, a fim de manter renda suficiente.

Muitos economistas veem essa explosão da população de setenta e oitenta e poucos anos não como um trunfo, mas como uma crise orçamentária iminente. Afinal, segundo estimativas, o tratamento da demência no mundo já custa mais de US$ 600 bilhões anualmente.

"Nenhuma outra força vai influenciar tanto o futuro da saúde da economia nacional, das finanças públicas e das decisões políticas", afirmaram analistas da Standard & Poor’s num relatório recente, "quanto o ritmo irreversível em que a população mundial está envelhecendo."

O relatório da S&P, intitulado Global Aging 2010, adverte que muitos países não estão preparados para cobrir as pensões e cuidados de saúde de tantos aposentados; se, nas próximas décadas, os governos não alterarem radicalmente suas políticas de gastos nessa área, afirma o relatório, as dívidas nacionais aumentarão a ponto de se equiparar ao Produto Interno Bruto – ou até atingir mais do que o dobro do PIB desses países.

Tradução: Christian Schwartz

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