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Sexta-feira, 19 horas. Para muitos, início da diversão do fim de semana. Para uma minoria, começa uma rotina exaustiva. Até às 7 horas de sábado, eles tentarão remediar boa parte das mazelas urbanas. Vítimas de acidentes, da violência, de vícios e de doenças deixarão suas vidas nas mãos desses profissionais. É o começo do plantão de 12 horas no pronto-socorro (PS) – no caso específico, no último dia 18, no Hospital Evangélico.

Dos recepcionistas aos médicos, todos dizem que essa não é a época mais grave. "No frio, ao invés de pacientes traumáticos, vêm mais os pacientes clínicos, gente com algum tipo de doença, com uma dorzinha, um desconforto", explica a enfermeira responsável pelo PS, Marilza Vilas Boas.

Na hora que a coisa aperta, é Marilza (10 dos 35 anos de idade passados dentro de um PS) quem corre para ajudar. "É o que eu gosto. A cada momento é algo diferente, sempre um fluxo rápido", argumenta.

Justamente no caminho oposto de Jonathan Simões, 26 anos. Apesar da experiência que adquire no estágio no PS, o estudante do oitavo período de Medicina pretende seguir a carreira de cirurgião oncológico. "O médico que lida com câncer ‘casa’ com o paciente. E eu prefiro os casos que eu possa acampanhar a evolução", explica ele, filho de cirurgião que chegou a estudar Odontologia e Direito.

Às 23h05, Marilza e Jonathan auxiliam no atendimento a um homem trazido pelo Siate. Com o colar cervical no pescoço, o paciente, de 49 anos, reclama de dores lombares, resultado de uma queda num bar. No segundo ano de residência em ortopedia, Cleverson Tadeu Sidoli, 30 anos, verifica os pontos de dor e ouve do paciente uma recomendação: "Doutor, tenho pino na perna."

A prótese no fêmur esquerdo é conseqüência de uma das seis quedas que o paciente teve de moto. "Já estou até acostumado a vir ao pronto-socorro. Até conheço alguns médicos e enfermeiros", relata, na sala de observação, onde aguarda a liberação.

Como auxiliar administrativa, Rosemar Dutra Castro, a Rose, 40 anos, tem a tarefa de recolher os dados dos pacientes que entram no hospital. Quando a pessoa está consciente, basta perguntar. Quando não está, é obrigada a conferir nos documentos. Ela e os colegas de função também são responsáveis por avisar as famílias das vítimas. "O celular facilitou muito para a gente achar o contato dos parentes", relata Rose.

Marilza é chamada na ala dos pacientes clínicos às 23h24. Um homem de 45 anos que chegou no começo do plantão com dificuldade de respirar piora. O histórico preocupa: são 80 cigarros – quatro carteiras – por dia. É uma DPOC – do jargão médico, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, um enfisema pulmonar. "Os pulmões não conseguem oxigenar o sangue e os tecidos", explica o médico pneumologista Marcelo Kuzmicz, 27 anos.

O tom didático de Kuzmicz não é à toa. Um dos supervisores dos residentes do PS, ele aproveita a experiência de repassar seus conhecimentos aos colegas. Quer ser professor. "Gosto dessa experiência de passar o que sei e aprender o que os residentes trazem", diz.

A tosse do paciente fica mais pesada. É quando as residentes decidem colocá-lo no aparelho de respiração artificial. A tarefa não é fácil. Os constantes vômitos dificultam o procedimento. Vinte e cinco minutos e cinco tentativas depois e o paciente é encaminhado à UTI.

À 0h32, Marilza corre para a sala de emergência. A ambulância da Rodonorte, concessionária que administra a BR-277 no sentido Norte do Paraná, traz um homem que se acidentou próximo do posto da Polícia Rodoviária em Campo Largo. Um médico risca as solas dos pés para verificar os reflexos. Mais especialistas chegam para verificar o caso.

Os socorristas dizem que o motorista colidiu na traseira de uma carreta a aproximadamente 110 quilômetros por hora. "Ele estava sem cinto e só se salvou porque estava com o banco recuado", afirma o socorrista Valdecir Ramos, 28 anos.

Casos como esse são rotina nos nove anos que Ramos atua na área. "Só não consigo dormir quando atendo criança. Aí fica difícil", revela. O parceiro, Márcio Grey de Oliveira, 29 anos, vai na mesma linha. "A gente não se choca mais porque sabe que sempre vai ter um caso mais grave para atender lá na frente", consola-se.

Antes de deixar o PS, a equipe de reportagem ainda flagra mais uma cena inesperada. O homem que se acidentou no bar sai caminhando normalmente. Está preocupado com a chave do carro, que julga ter perdido na hora do tombo. "Vou ter que voltar para o bar e procurar. Tenho que viajar para Sorocaba (SP) ainda hoje."

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