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A "timidez" do Paraná é notória. A voz política do estado faz pouco eco no Planalto Central. Talentos locais têm dificuldade para cruzar as barrancas do Paranapanema. E os paranaenses, talvez diante dos insucessos externos, têm uma inclinação histórica a se retrair e se voltar a si próprios – o que só realimenta o círculo vicioso.

Por essas razões a fundação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que completa 100 anos no próximo dia 19, é um marco que vai além do campo educacional e de suas consequências no desenvolvimento estadual. A criação da então Universidade do Paraná foi uma reação de êxito à irrelevância política e cultural deste pedaço do Sul do país. A afirmação de uma identidade. O grito do tímido. A saga da UFPR, portanto, é um exemplo que ainda hoje pode inspirar os paranaenses a superar o acanhamento.

Na virada do século 19 para o 20, o Paraná tinha pouquíssimo peso na política nacional. E parecia contentar-se com seu isolamento. O historiador Ruy Christovam Wachowicz, no livro Universidade do Mate (da editora UFPR), conta que a negligência paranaense com os assuntos federais foi crucial para que o estado perdesse 48 mil quilômetros quadrados de seu território para Santa Catarina, em ação julgada pelo STF em 1909.

Seis anos depois, o Paraná recuperaria 20 mil quilômetros quadrados, área onde hoje está o Sudoeste. Mas a derrota judicial de 1909 evidenciou uma necessidade da elite local: faltava massa crítica e intelectual para discutir e defender o estado de forma estratégia. Wachowicz relata que, àquela época, o Paraná contava com apenas nove médicos e quatro engenheiros. A universidade, criada em 1912, foi concebida para suprir essa carência.

É forçoso lembrar ainda que a universidade não nasceu do Estado, mas sim da mobilização da sociedade, por meio da dedicação de homens como Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo. Ela manteve-se particular até 1950, quando foi federalizada. Nessas quase quatro décadas, teve apoio do governo estadual e da prefeitura de Curitiba. Mas enfrentou resistências no plano federal, como costuma ocorrer ao estado. Não foi reconhecida pela União e teve de ser desmembrada em faculdades isoladas em 1918. No entanto, com esforço, manteve-se em pé até ser reunificada como universidade em 1946.

Se as colunas do prédio histórico da Santos Andrade pudessem falar, talvez hoje lembrassem de três lições que se pode tirar desta história. Primeira: investir em educação, cultura e ciência é uma aposta sensata para se contrapor a eventuais desvantagens na política. Segunda: a comunidade pode fazer a diferença com as próprias mãos, independentemente da ação governamental. Mas, finalmente, é preciso ter persistência naquilo que se acredita.

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