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Vida de calouro não é fácil. Se em casa o jovem saboreia os louros do triunfo no vestibular e vira o orgulho da família, na universidade ele invariavelmente representa uma sub-categoria que vai passar o ano inteiro sendo explorada e/ou ridicularizada pelos veteranos. De elite nos colégios e cursinhos, se transforma na plebe ignara e servil da graduação – pelo menos até chegar ao segundo ano, quando ganha o direito de se "vingar" nos seus próprios calouros.

Mas há outro contraste que muitas vezes deixa os novos universitários com saudade dos cursinhos: o estilo das aulas. Estudantes que passaram meses ou um ano inteiro capitaneados por professores pirotécnicos, capazes de transformar qualquer assunto em um espetáculo de piadas, encenações, música e dança, de repente têm de encarar exposições mais sisudas, de assuntos espinhosos e distantes para a maioria dos adolescentes de 17 ou 18 anos que ingressam na faculdade.

"No cursinho eles têm de entreter uma quantidade muito grande de alunos, por isso há professor que conta piada, brinca e até dança no tablado", lembra Érica Ignácio da Costa, 18 anos, aluna do 1.º ano de Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que no ano passado fez o pré-vestibular no Dom Bosco. "Já na faculdade tudo é muito diferente, o ambiente, as pessoas. As aulas também são bem mais sérias. A vantagem é que na faculdade a gente estuda para aquilo que escolheu. E os professores também exigem mais, cobram trabalhos, pedem para ler os textos...", conta.

Mesmo com aulas menos "animadas", Érica diz não sentir falta do pré-vestibular: "Cursinho é legal uma vez na vida, porque eles fazem muita pressão psicológica. Por trás de toda aquela descontração a galera está muito tensa. Eu fiquei bem estressada, quando chegava em casa para estudar até esquecia das bobeiras dos professores."

Alvos freqüentes dos pedagogos, que os acusam de adotar um modelo de educação "fast food", os professores de pré-vestibulares se defendem. "Engana-se quem pensa que o aluno de hoje se contenta apenas com a informação em massa, sem um fundo científico", ressalta Antonio Luiz Portela, o Luizão, 46 anos, um dos "professores-showmen" do Dom Bosco. "Quanto ao estilo, eu tenho assuntos extremamente chatos na Biologia, e tenho que torná-los atraentes para 200, 300 pessoas. Mas o bom é que a Biologia permite isso, e muitas vezes eu ‘avacalho’ com a matéria mesmo."

Mas ele também condena a pirotecnia pura e simples. "Teve gente que achou que era só subir ali e fazer um monte de palhaçada. Se deu mal. É preciso ter o conhecimento associado ao talento. Só o talento não basta. Eu faço piada sim, mas estou muito ligado à UFPR, freqüento as aulas de mestrado e doutorado da universidade, e passo muito do que vejo lá para os alunos", sublinha. "E acredito que só consigo me manter no tablado até hoje graças a esse conhecimento científico mais específico."

Luizão acrescenta que os estudantes de hoje têm muito acesso à informação, e que os professores bem-sucedidos são os que demonstram como aquele conteúdo interfere no dia-a-dia deles. "A gente tem de explicar para que ele vai usar aquilo, por que eles estão aprendendo determinado assunto", avalia. "E acho que a evasão na universidade acontece porque o aluno não vê aplicação para aquele conhecimento, não tem como sonhar com aquilo."

Por fim, revela outro segredo da sedução que exerce sobre os alunos. "Eu procuro mostrar a beleza da minha matéria, o amor que tenho por aquilo que ensino. E o aluno percebe a empolgação do professor com o seu assunto, e acaba se interessando também", considera. Luizão ilustra a teoria com exemplos pessoais: "Tive um professor de História que se comovia quando falava do Egito antigo, e eu quase chorava com ele... outro de Química que literalmente ‘viajava’ com a matéria. E eram esses os que eu mais gostava", relembra.

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