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Adélio inimputável e inquéritos fechados: o que se sabe até hoje sobre a facada em Jair Bolsonaro

Os inquéritos da Polícia Federal (PF) apontam que Adélio Bispo de Oliveira teria agido sozinho no atentado contra Jair Bolsonaro.
Os inquéritos da Polícia Federal (PF) apontam que Adélio Bispo de Oliveira teria agido sozinho no atentado contra Jair Bolsonaro. (Foto: Foto Adélio: Divulgação/2° BPM e Foto Jair Bolsonaro: Reprodução)

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A cirurgia abdominal enfrentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na última semana trouxe à tona questionamentos a respeito do que se sabe até hoje em relação ao atentado contra a vida de Bolsonaro no dia 6 de setembro de 2018. Por isso, a Gazeta do Povo preparou uma linha do tempo (infográfico abaixo desse texto) para relembrar os principais fatos em relação à investigação nos últimos seis anos.

Logo após cometer o crime, o mineiro Adélio Bispo de Oliveira, na época com 40 anos, foi autuado por praticar atentado pessoal por inconformismo político, crime previsto no artigo 20 da Lei 7.170/1983, também conhecida como Lei de Segurança Nacional. Essa lei estabelece pena de reclusão de três a dez anos, chegando a 20 no caso de lesão corporal grave ou a até 30 anos em caso de morte.

O primeiro inquérito para apurar o caso foi aberto pela Polícia Federal (PF) logo após o ataque e comandado pelo delegado Rodrigo Morais Fernandes. A apuração durou 22 dias e, segundo a corporação, analisou quatro celulares que seriam de Adélio, dois telefones, um notebook, dados financeiros e diversos documentos. Também foram entrevistadas cerca de 40 pessoas e ouvidas 30 testemunhas.

A conclusão da PF foi de que Adélio Bispo de Oliveira — autor do crime — teria agido sozinho no momento do ataque com motivação “indubitavelmente política”. A PF informou ainda que abriria um segundo inquérito para dar continuidade às apurações.

O novo inquérito aprofundaria a investigação a fim de verificar se outras pessoas teriam participado do planejamento e execução do atentado. Para isso, foram ouvidos depoimentos e analisados contatos telefônicos, mensagens, extratos bancários e e-mails. A apuração foi encerrada em maio de 2020 e apontou que Adélio não teria tido mandantes ou ajuda de terceiros.

O então presidente Jair Bolsonaro chegou a questionar a PF a respeito, afirmando que um “lobo solitário” não agiria com diversos celulares e nem teria à sua disposição tantos advogados. Logo após o atentado, quatro profissionais — dois deles que haviam atuado no caso do goleiro Bruno — passaram a compor a defesa de Adélio Bispo. No decorrer do processo, a equipe chegou a contar com 17 advogados. Hoje, no entanto, nenhum deles representa o mineiro, que utiliza a Defensoria Pública da União (DPU).

Assim que chegaram para defender Adélio, em 2018, esses advogados alegaram insanidade mental de Adélio e solicitaram perícia para avaliar o quadro do preso. Inicialmente, o procurador da República Marcelo Medina negou o pedido da defesa por falta de provas acerca da necessidade dos procedimentos.

O juiz da 3ª Vara Federal de Juiz de Fora, Bruno Souza Savino, seguiu o mesmo entendimento, alegando que não haviam sido apresentados laudos, declarações, recibos de honorários ou nomes de profissionais ou clínicas relacionadas ao tratamento alegado pelos advogados. No entanto, a defesa recorreu, e a perícia foi autorizada pelo mesmo juiz.

Além disso, em maio de 2019, o magistrado Bruno Savino afirma que Adélio Bispo de Oliveira teria Transtorno Delirante Persistente e seria inimputável, ou seja, não poderia ser punido criminalmente por não ter consciência do que fez. Assim, no caso de condenação de Adélio na ação penal, ele ficaria em um manicômio judiciário, e não em presídio.

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Na decisão, Savino apontou ainda que Adélio permaneceria na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), de segurança máxima, até o julgamento da ação. Ele segue na prisão até hoje.

Meses depois, a PF reabriu a investigação para analisar dados referentes aos advogados e investigar quem teria financiado a defesa de Adélio Bispo. Inicialmente, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região proibiu o acesso ao material da defesa, mas depois autorizou o prosseguimento das apurações. Entre os fatos apurados estava um grupo de mensagens no aplicativo WeChat chamado “Adélio PCC”.

No entanto, em junho de 2024, a Polícia Federal reafirmou que Adélio Bispo de Oliveira agiu sozinho. Segundo a corporação, os agentes identificaram uma suposta ligação de um dos advogados de Adélio com o PCC, mas não encontraram relação dessa organização com o atentado contra Bolsonaro.

A Gazeta do Povo tentou contato com a Polícia Federal (PF) para questionar se há atualizações no caso, mas não obteve retorno. A reportagem também procurou a Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário de Mato Grosso, onde Adélio segue preso, e o espaço segue aberto para manifestação.

O advogado de Jair Bolsonaro e o defensor público que representa Adélio Bispo também foram procurados, mas não atenderam a reportagem.

Veja abaixo a linha do tempo com os principais fatos do atentado contra Jair Bolsonaro:

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