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Antonio Gleiber Cassiano Junior precisa de um catéter na veia para se alimentar: sistema é propenso a infecções | Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
Antonio Gleiber Cassiano Junior precisa de um catéter na veia para se alimentar: sistema é propenso a infecções| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Perfil

Taxa de sucesso em transplantes supera 80% dos casos em Miami

De acordo com o médico Rodrigo Vianna, professor de cirurgia da Universidade de Miami e diretor-geral do Miami Transplant Institute, a taxa de sucesso de um procedimento como o que Antonio necessita é superior a 80% na instituição norte-americana. Segundo ele, o transplante de intestino pode ser acompanhado do de outros órgãos internos (estômago, pâncreas, fígado, intestino delgado e grosso), dependendo do comprometimento. "Existe fila de espera, como para qualquer outro transplante. Mas, para entrar na fila, é preciso passar por uma bateria de exames aqui, que determine a gravidade. Só pode ser listado quem estiver fisicamente nos Estados Unidos", detalha.

Nascido em Curitiba, em 1971, Vianna formou-se em medicina pela Universidade Federal do Paraná em 1994. Fez residência em cirurgia geral e aparelho digestivo no Hospital Nossa Senhora das Graças, entre 1996 e 1999. "Me apaixonei pela área e, quando já estava perto de começar a residência, comecei a procurar programas de treinamento nos Estados Unidos, pois o Brasil ainda estava engatinhando na época", recorda.

Depois de se casar em 1999 com a advogada Adriana Canet Krause, com quem tem três filhos (os gêmeos Gabriel e Lucas, de 11 anos, e Rafael, 9 anos), o médico foi para Miami. De início, por ser estrangeiro, conseguiu apenas uma vaga no programa de pesquisa. Mesmo assim, começou a participar de muitos transplantes e, seis meses depois, foi convidado pelo chefe do serviço a ocupar uma vaga de treinamento clínico em cirurgia de transplantes abdominais, com duração de dois anos.

"Ao terminar meu treinamento, fui convidado a ficar em Miami como cirurgião e professor assistente de cirurgia. Depois de alguns meses, surgiu a proposta de ir para Indianapolis, para me juntar a outros dois cirurgiões que começavam um serviço de transplantes", lembra. Encarregado de transplantes de intestino e multiviscerais, Vianna transformou o centro numa referência mundial em operações do tipo. "Nos últimos 7 anos, fui o cirurgião a realizar o maior número deste tipo [multiviscerais] de transplantes no mundo." Voltou para Miami em 2012, como convidado para chefiar o Instituto de Transplantes. Rodrigo Vianna fez 21 procedimentos do tipo apenas no ano passado.

  • Curitibano formado na UFPR chefia centro de referência nos Eua

O drama do mineiro Antonio Gleiber Cassiano Junior, 15 anos, internado há seis meses no Hospital Pequeno Príncipe (HPP), em Curitiba, ganhou um novo capítulo no final da semana passada. Depois de ter 95% do intestino retirado em uma cirurgia de emergência, em agosto, ele havia conquistado na Justiça, há dois meses, o direito de fazer um transplante – que ainda está em fase experimental – em um hospital de Miami, nos Estados Unidos. Na quinta-feira passada, no entanto, a decisão foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região, sob a alegação de que as possibilidades de tratamento ainda não foram esgotadas no Brasil.

"O desembargador afirma isso embasado na 'grande' experiência do HC de São Paulo, que fez dois transplantes do tipo, e os dois pacientes morreram. Não existe protocolo de atendimento, conversei com um médico de lá, e ele disse que estão em uma fase boa de aprendizado", alega o advogado de Antonio, Claudinei Szymczak. Segundo ele, o procedimento nem mesmo consta na tabela do SUS. "Eles também sugerem mandá-lo para a Argentina, mas temos um material mostrando que o atendimento lá não é bom."

Responsável pelo atendimento do jovem no HPP, o médico especialista em transplante de fígado e professor de cirurgia da UFPR Julio Cesar Wiederkehr confirma que o Brasil ainda não teve sucesso nesse tipo de transplantes de intestino. "A família está requerendo que o procedimento seja feito em um centro especializado, e o maior do mundo hoje é em Miami, cujo chefe do serviço é um curitibano."

Com um problema raro, a "síndrome do intestino curto", Antonio não pode comer desde que passou pela cirurgia. Toda a alimentação é feita por meio de líquidos administrados na veia, a chamada nutrição parenteral. "No Brasil não existe parenteral domiciliar. Ele está bem nutrido, recuperou peso. A cirurgia precisa ser feita com certa celeridade, porque os catéteres são entradas para bactéria, há risco de infecções e de complicações, como dano ao fígado", explica Wiederkehr.

A mãe de Antonio, a dona de casa Alessandra Marques Ribeiro, 34 anos, conta que os últimos seis meses têm sido difíceis. Para acompanhar o tratamento do filho mais velho no Paraná, ela deixou o caçula, de 7 anos, com o marido, em Campos Gerais, no Sul de Minas. "Ele [o filho mais novo] chora de saudade do Antonio, de mim. Passo os dias sentada em uma cadeira, moro no hospital. Para passar as horas, só tem televisão e Facebook." Mesmo sem comer, Antonio sente dores no estômago e tem vômito. "Ele reclama de saudade de comer lasanha, frango. Temos muita pressa [do transplante]. A parenteral por muito tempo pode causar problema", apela a mãe.

Precedente

Sofia conseguiu que SUS pague transplante no exterior

Casos como o de Antonio Gleiber Cassiano Junior têm se tornado mais comuns de um ano para cá. No início de 2015, a família de Davi Miguel Gama, de dez meses, morador de Franca (SP), também conseguiu liminar que garantia a realização de um transplante nos Estados Unidos cassada pelo Tribunal Regional Federal (TRF) de São Paulo. Ele nasceu com uma síndrome que impede a absorção dos alimentos e precisa de um transplante de intestino para sobreviver.

As duas batalhas jurídicas têm um precedente: a família da menina Sofia Gonçalves de Lacerda, de Votorantim, região de Sorocaba, conseguiu na Justiça que o governo federal bancasse seu tratamento em Miami. A criança nasceu com a Síndrome de Berdon, doença rara que impede o funcionamento do intestino, e aguarda doador para ser submetida a um transplante de seis órgãos, incluindo o intestino. Hoje com 1 ano, Sofia, que está com os pais nos Estados Unidos desde julho de 2014, é a primeira na fila do transplante e a família se mantém no exterior com doações.

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