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A saudação aos ouvintes é habitual: "Quem fala aqui é o DJ Cleitinho, começando um programa especial. (...) Projeto Rádio Escola São Francisco: a rádio dos adolescentes privados de liberdade. Transmitindo em circuito fechado para todo o Cense [Centro de Socioeducação] São Francisco. Piraquara, Paraná, Brasil", irradia a voz do locutor. DJ Cleitinho não é radialista profissional. Apreendido no Centro de Socioeducação São Francisco, na região metropolitana de Curitiba, é um dos 102 adolescentes e jovens em conflito com a lei, de 14 a 20 anos, que cumprem medida socioeducativa nas dependências do local. Três vezes por dia, ele e alguns colegas produzem programas que são veiculados na escola. Alguns dos áudios produzidos - que contam com a participação dos professores - são disponibilizados na internet.

A rádio foi instalada na instituição em junho de 2010, por iniciativa do professor René Scholz. Educador da unidade desde 1994, ele conta que o projeto tem finalidade educacional.

"Fazemos programas musicais, com faixas escolhidas pelos alunos, e outros que debatem temas de repercussão atual, como as manifestações de junho e a visita do Papa [ao Brasil]", explica o professor. Os garotos são responsáveis por todas as funções da rádio, desde a indicação de temas e montagem dos roteiros até participações nas locuções.

Em datas comemorativas como o Dia das Mães e o Natal, segundo o professor, os parentes dos jovens já chegaram a participar e receber homenagens nos programas. O diretor do Cense São Francisco, Tiago Barbosa de Souza, afirma que estas ocasiões fortalecem a relação das famílias com a instituição. "Quando os familiares têm acesso ao produto dos meninos, cresce a autoestima de todos, eles se sentem mais valorizados", avalia. Reconhecimento internacional

Em março do ano passado, o projeto foi apresentado no Fórum Social Mundial, na Tunísia. A oportunidade surgiu após a rádio vencer o 3º Concurso Aprender e Ensinar – Tecnologias Sociais, da Revista Fórum e da Fundação Banco do Brasil, superando mais de 4,5 mil projetos inscritos.

Ferramenta educacional

A rotina dos adolescentes é intensa: acordam às 6h30 e se dividem em dois grupos. Metade dos jovens tem aula pela manhã e atividades de contraturno à tarde; os demais fazem o contrário. Entre as atividades extracurriculares, há três cursos profissionalizantes (colocação de azulejos, pintura de banners e manutenção de eletrônicos), além de atividades educacionais que se complementam à rádio.

Embora todos os alunos ouçam os programas, apenas alguns têm acesso à produção por questões de segurança, já que o estúdio fica fora da área do internato. O diretor explica que, por conta da restrição, há mais opções à disposição dos internos. "Existe uma banda, um projeto de karatê e outras modalidades esportivas em que eles se engajam", conta Souza.

A ideia, segundo o diretor, é oferecer alternativas de entretenimento aos menores. "Nós temos que utilizar meios que atraiam o adolescente. Na rua, os jovens tiveram acesso à escola e a cursos, mas essas medidas não despertaram o interesse deles. Aqui [na instituição], nós temos essa obrigação", afirma.

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