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 | Silvane Trevisan/Tecpar
| Foto: Silvane Trevisan/Tecpar

O Cacique Almir Narayamoga Suruí, chefe do povo Paiter-Suruí, é uma das referências mundiais em sustentabilidade. Aos 39 anos ele já passou por quase 30 países mostrando como mantém a integridade de seu território e protege a natureza. Desde quando se formou em Biologia pela PUC de Goiás, há quase duas décadas, decidiu que precisava fazer algo diferente para defender os 2,4 mil quilômetros quadrados de floresta e mais de mil membros da Terra Indígena Sete de Setembro, no município de Cacoal, em Rondônia.

Sua tribo é pioneira na venda de créditos de carbono pelo mecanismo REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação) e é capacitada pelo Google para documentação digital e mapeamento das terras por satélite. Ele também desenvolveu um Plano de 50 anos para orientar seu povo de forma sustentável, aliando tecnologia e tradição.

Para apresentar os feitos acima, já participou de Conferências sobre Mudanças Climáticas e Fórum sobre Florestas, ambas da ONU, e ganhou o prêmio de "Herói da Floresta" pela entidade. Atualmente é pré-candidato a deputado federal pelo PSB-RO.

Entre 29 e 30 de abril, esteve em Curitiba como convidado do aniversário de 25 anos da Incubadora Tecnológica (Intec) do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), que apoia o empreendedorismo no estado, e conversou com a Gazeta do Povo.

Quando começou a vender os créditos de carbono? E o que faz com o dinheiro?

A venda de créditos de carbono começou em 2009 para diminuir a degradação ambiental. As empresas que querem compensar a emissão de carbono compram os créditos e ajudam a preservar a vegetação. Uma de nossas parceiras, a Natura, já comprou 170 mil toneladas de crédito. Todos os recursos subsidiam novos projetos agroflorestais que a gente está implementando como a agricultura, plantando banana, café Suruí e a piscicultura. Nossa primeira safra da pesca de tambaqui, pintado e jatuarana vai render 60 mil toneladas. Também estamos desenvolvendo uma política pedagógica Suruí, se possível criar um centro profissionalizante e mais para frente uma Universidade Indígena.

Qual a inspiração para tomar uma postura diferente da maioria dos povos indígenas?

Os problemas enfrentados pelo meu povo foram a motivação para buscar ferramentas, soluções e projetos que atendam à nossa necessidade. A integração com a sociedade urbana foi fundamental, pois a gente encontra pessoas com ideais parecidos e outras ações isoladas que buscam o benefício coletivo de seu povo.

As ideias foram bem recebidas pelo povo Paiter-Suruí?

Não vou dizer que elas são 100% aceitas. Novas ideias sempre são um desafio para a comunidade, mas temos que saber passar as informações. Orientamos e mesmo quem é "vencido" acaba colaborando. Incentivamos e temos pessoas se graduando em Administração, Biologia e parte jurídica para fazer a gestão da terra.

Acredita que esse modelo de gestão sustentável pode ser referência para outros povos? Conhece a realidade do Paraná?

Estamos tentando ampliar nossas experiências para outras terras indígenas. A nossa meta é cada vez mais melhorar e repassá-las para que outros povos possam se beneficiar das nossas experiências. Sou muito favorável a investimentos em pesquisa, trabalho por viabilidade. Ainda não tive a oportunidade de conhecer povos da Região Sul, mas podemos fazer isso acontecer no futuro.

Como funciona o plano de 50 anos? Aonde quer chegar?

O plano de 50 anos do povo Suruí é um plano estratégico, e dentro dele existem doze grandes áreas como, por exemplo, meio ambiente, educação, saúde e cultura. É um plano de médio a longo prazo de desenvolvimento sustentável da nossa terra. O ser humano é muito imediatista, quer o resultado para ontem enquanto ainda está construindo. Na política muitos pensam somente nos 4-8 anos de mandato. Eu faço isso pelo meu povo, não para mim. Nunca teve enchente na Amazônia e olha agora: metade do meu estado (Rondônia) está alagado. A falta de água normalmente era um problema no Nordeste, esse ano é São Paulo que está sem água. Isso é reflexo de mau planejamento, precisamos uns dos outros, ter essa consciência. Queremos ver nosso território com floresta, e a nossa cultura viva, com autonomia financeira e política. Desenvolver mantendo as tradições.

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