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Estudantes atravessam a rua Luiz Leão, ao lado do Colégio Estadual do Paraná | Giuliano Gomes/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Estudantes atravessam a rua Luiz Leão, ao lado do Colégio Estadual do Paraná| Foto: Giuliano Gomes/Agência de Notícias Gazeta do Povo

Ocorrências relatadas pelos alunos

A reportagem da Gazeta do Povo conversou com uma funcionária e oito alunos do CEP, que frequentam o período noturno. Eles deram sugestões à corporação, reclamaram da falta de policiamento na região mesmo em época de Copa do Mundo e afirmaram que se movimentam dentro do colégio para reivindicar melhorias. Eles realizam um abaixo assinado para reforçar a segurança na região e, caso não sejam atendidos, prometem realizar um protesto.

Isabel de Oliveira, 45 anos, inspetora, foi vítima de duas tentativas de assalto. "Consegui fugir nos dois casos. No último, no dia 6 de junho, estávamos eu e mais cinco alunos no ponto de ônibus e chegaram um rapaz e uma moça. Eram 22h45 e a gente saiu correndo. Eles (os assaltantes) chegaram a ameaçar com a arma. Mostram que tinham uma a faca. Nenhum de nós se feriu".

Alice Regina da Silva, 40, aluna do curso de técnico em administração, foi assaltada uma vez e em outra foi uma tentativa. A tentativa foi em fevereiro e o assalto em abril. Segundo a aluna, no assalto pegaram a bolsa dela, mesmo que ela tenha dito não ter nada de valor. "Espalharam tudo no chão, viram que eu não tinha nada e foram embora. Fiquei 15 dias sem vir para a escola. Tentei mudar o ponto de ônibus, ir para outro lado, mas percebi que não adiantava".

Nadine Laura Tregnago, 17, aluna 3° ano do Ensino Médio. Desde dezembro do ano passado, foi assaltada duas vezes e vítima de uma tentativa, na qual uma viatura da PM se aproximou quando dois homens munidos de arma de fogo ameaçavam ela e outro colega. Nas outras duas vezes teve celulares roubados. "No último assalto, depois de uma hora e meia os policiais chegaram para registrar o BO", reclama.

Leandro Felipe Alves, 20, aluno do 3° ano do Ensino Médio. Vítima de uma tentativa e um assalto. No primeiro caso, em abril, dois rapazes o coagiram a dar o celular, mas uma pessoa conhecida dele que também conhecia os suspeitos impediu a ação. No segundo caso, em maio, roubaram a carteira dele. "Não registrei BO porque não me levaram nada de valor. Mas fica uma situação chata. É bem mais perigoso para meninas, e meninos mais novos que eu".

Rafael Henrique Constantino, 22, estudante de técnico em informática. Estava no ponto de ônibus da RMC atrás do colégio durante a noite quando dois rapazes chegaram para assaltar a ele, a colega – Paloma Toth, 17 – e outras pessoas no ponto. Com uso de faca, levaram celulares e bolsas. "Por enquanto eles estão usando faca, mas e a hora que eles conseguirem uma arma?".

Paloma Toth, 17, estudante de técnico em informática. Além da vez em que foi roubada junto com Constantino, foi vítima de um assalto e uma tentativa, em um período de um ano e meio, desde 2013. No assalto, o rapaz que a roubou agiu com calma e levou seu celular, moedas e até balas da bolsa dela. "Na outra vez uma menina saiu de um grupo, me pediu o celular, mas eu não dei. Empurrei a menina e fugi", diz.

Gabriel Souza dos Santos, 16 anos, 2° ano. Teve celular e carteira roubados uma vez no mês de fevereiro deste ano. Ele pega ônibus no Círculo Militar, próximo ao CEP. Em uma noite ele foi abordado por dois homens que o empurraram em um muro e tomaram seus pertences. "Tentei mudar a rota nas ruas, mas não compensa. Consegui reunir mais pessoas da minha turma para andarmos juntos e assim me senti mais seguro".

Silvana Mioduski, 28, aluna de técnico em administração. Em uma tentativa de assalto, ela estava com um amigo no ponto de ônibus atrás do colégio quando um homem chegou, armado, e deu voz de assalto. Segundo Silvana, o rapaz tinha cobertura de outro, que estava em um carro. Os dois amigos correram e escaparam. "Eu mudei minha rotina. Não venho mais de ônibus. Eu e meu colega, que me ajuda a pagar a gasolina do carro", diz.

Brenda Pereira de Jesus, 19, aluna do 3° ano do Ensino Médio. Além de ser vítima de uma tentativa de assalto com perseguição após sair da escola da irmã no bairro Novo Mundo, um homem tentou assaltá-la no mês de maio, quando ela passou, perto do meio-dia, pelo Passeio Público, no momento em que ia trabalhar. "Quando vi, ele estava atrás de mim e começou a andar mais rápido e tentou me assaltar. Aí eu saí correndo. Fiquei desesperada".

"Uma aluna quase foi assaltada. Ela está lá na diretoria", disse a inspetora Isabel de Oliveira, do Colégio Estadual do Paraná (CEP), em Curitiba, por volta das 21h30 da noite de terça-feira (10).

A tentativa aconteceu na Rua Agostinho de Leão Junior, atrás do colégio, em um dos pontos de ônibus onde passam linhas que levam para a Região Metropolitana de Curitiba. Bastante nervosa, a estudante, que não quis se identificar, contou sobre o susto e sensação de insegurança que teve, mesma situação pela qual vários outros alunos passam diariamente nos arredores da instituição.

"Eu tinha acabado de chegar ao ponto de ônibus quando um homem subiu a rua correndo, chegou e tentou assaltar a mim e às outras pessoas que estavam no ponto. Mas eu corri para o colégio. Foi horrível", disse a aluna de 18 anos. A tentativa de assalto ocorreu no momento em que a reportagem da Gazeta do Povo terminava uma entrevista com outros alunos que já haviam passado por situações semelhante nas ruas do entorno do CEP.

Quatro policiais militares do Batalhão de Patrulha Escolar de Curitiba (BPEC) conversavam com a equipe quando a inspetora comentou sobre o assalto. Eles foram até a sala da direção, orientaram a aluna a fazer boletim de ocorrência e realizaram rondas na região e pediram a descrição do suspeito para a jovem. Apesar da rapidez da chegada dos policiais nesta situação, segundo alunos e a direção do colégio, não é sempre que há policiamento por perto do colégio.

Rotina

Apesar da falta de estatísticas sobre assaltos na região, a direção do colégio tem notícias diárias de assaltos nas ruas que dão acesso ao CEP. Os locais mais visados pelos suspeitos são os pontos de ônibus da Rua Agostinho de Leão Junior e a estação-tubo Passeio Público. Mas casos também são corriqueiros em outras regiões próximas ao Círculo Militar. Nem mesmo a presença da Delegacia da Mulher na Rua Padre Antônio intimida os suspeitos.

De acordo com a professora Laureci Schmitz Rauth, diretora do turno da tarde do colégio, desde 2012 os casos são frequentes. Mas os casos aumentaram em quantidade e em periculosidade. "De uns dois meses para cá se agravou de uma forma alarmante. Os alunos saem da escola e são assaltados antes de chegar ao ponto de ônibus, ou no ponto do ônibus. São assaltados com faca, com revólver. Alguns alunos são agredidos e até já sofreram cortes com faca".

Com o aumento nos casos de roubo, a diretoria do colégio e os professores passaram a orientar os alunos para que não andem pelas ruas com celulares nas mãos ou com fones de ouvido, o que indica aos suspeitos que a vítima está com um aparelho. Mesmo assim muitos seguem sendo assaltados "Os ladrões no início pegavam só o celular, mas agora estão pegando as mochilas com tudo". Em alguns casos, alunos têm seus tênis e casacos levados nos crimes.

Nos arredores do colégio, acrescenta a diretora, os assaltantes não têm horário para agir. Nos últimos casos relatados pelos estudantes, muitos foram vítimas de assaltos no início da manhã, antes da entrada para as aulas, e à noite, na saída das aulas do último turno do dia.

Para a diretora, a falta de policiamento fica mais clara quando comparada ao número de alunos no colégio. São 5.010 estudantes nos três turnos, mas a circulação de alunos chega a sete mil, pois muitos fazem atividades extracurriculares e de contraturno em outros períodos. "Isso (o número de jovens) é maior que muitas cidades paranaenses", aponta.

Medidas

A frequência de assaltos diários fez com que o CEP pedisse uma reunião com o Batalhão de Patrulha Escolar de Curitiba. No encontro, ocorrido na primeira semana de junho, os policiais se comprometeram a realizar um trabalho mais ostensivo para coibir os casos de roubos e furtos. Segundo o tenente Nairo Cardoso da Silva, da agência de inteligência do BPEC, foi feito um reforço no policiamento na região.

Ao menos na última segunda-feira (9), o reforço no policiamento parece ter surtido efeito. Um morador de rua, identificado como Robson Marco de Oliveira, foi preso em flagrante no horário de entrada do turno da manhã do colégio. Suspeito de ter assaltado um estudante, ele foi barrado por seguranças da escola, que chamaram a Polícia Militar. Outros cinco alunos o reconheceram como autor de outros assaltos na região – um destes alunos teria sido vítima do suspeito na semana anterior. O suspeito estava sem armas e apenas coagia os alunos. À Polícia Civil ele alegou inocência, mas com ele foi encontrado um celular de uma das vítimas.

Apesar da prisão, outros assaltos foram registrados durante a semana. O tenente Nairo alertou que muitos casos não chegam à PM, que precisa ser avisada dos casos para registrar os boletins de ocorrência e chegar aos suspeitos. "É importante que eles façam o BO. E se a autoria for conhecida, que vão à delegacia reforçar a acusação contra os suspeitos", diz. Com os BOs, segundo o tenente, a PM pode fiscalizar melhor os locais onde ocorrem assaltos.

Segundo o tenente, a PM também realiza trabalhos de inteligência na região, que envolvem ações na tentativa de identificar quem são os assaltantes que agem naquela região e de onde eles vêm.

Uma maneira que o colégio encontrou de relatar os casos é realizar um levantamento interno. Segundo a professora Malu Rocha, assistente de gabinete do CEP, os alunos vão escrever o que aconteceu em cada um dos assaltos e repassar à direção.

Ela afirma que muitos alunos e pais de alunos não teriam tempo suficiente para fazer os boletins de ocorrência, por causa da burocracia da segurança pública. "Se a burocracia dificulta, nós vamos fazer um trabalho informal. Nós vamos criar uma estatística aqui", explica. Os relatos serão repassados para a PM.

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