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Curitiba – O advogado e consultor de marketing curitibano Joel Santos Filho, autor da gravação em que o ex-diretor de compras dos Correios, Maurício Marinho, aparece aceitando uma propina de R$ 3 mil, falou publicamente pela primeira vez após mais de um ano de silêncio.

Santos Filho contou ontem sua versão do episódio na "tribuna livre" do Encontro Brasileiro de Direitos Humanos, que começou no domingo e termina amanhã, no Centro de Convenções de Curitiba. Ele entregou à comissão organizadora do encontro um documento de 14 páginas intitulado "carta testamento", em que detalha o que aconteceu e faz um desabafo contra as hostilidades que diz ter sofrido.

A gravação, feita em fevereiro de 2005 e revelada por reportagem da revista "Veja" três meses depois, deu início ao escândalo do "mensalão", que culminou com a cassação de três deputados, a renúncia de outros quatro e a absolvição de 11 parlamentares. Além disso, pediram demissão os ministros José Dirceu – cassado em seguida, quando retomou o mandato na Câmara dos Deputados – e Antônio Palocci. Falta ainda a votação do processo de cassação do deputado paranaense José Janene (PP). Por conta do vídeo, Santos Filho foi preso em sua casa no dia 9 de junho de 2005 e, no mesmo dia, levado à carceragem da PF em Brasília. Lá ficou por sete dias, sob a alegação de invasão de privacidade e corrupção ativa.

Ontem, o advogado lembrou que, desde o depoimento à CPI dos Correios, em 23 de junho do ano passado, não foi indiciado, nem no relatório final da própria CPI. Santos Filho contou que até hoje não recebeu os pertences que foram apreendidos na época de sua prisão, como computador, agenda, telefones e cópias de processos de seus clientes. O advogado repetiu o que falou, mais de um ano atrás, à Polícia Federal e à CPI: que gravou Maurício Marinho para atender a um pedido do amigo Arthur Wascheck Neto. Sócio da Comercial Alvorada de Manufaturados (Comam) – que fornecia material de saúde e informática para os Correios –, Wascheck se sentia prejudicado nas licitações da estatal, e teria pedido ajuda a Santos Filho para "mostrar ao chefe de Marinho quem ele era".

Santos Filho também fez seguidas críticas aos deputados que o interrogaram na CPI, à polícia e à atuação da imprensa no episódio, alegando ter recebido injustamente "toda sorte de adjetivações, como araponga, espião, agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), corruptor, advogado cassado pela OAB". Na carta testamento, ele explica por que se recusou a falar com a mídia depois que saiu da prisão. "A partir do momento em que me vi livre, não queria saber de imprensa, compensação ou retratação. Apenas meus filhos é que poderiam atenuar as feridas deixadas pelo pernicioso ambiente carcerário."

No fim do documento, Santos Filho questiona os motivos de sua prisão e o fato de sua gravação ter sido considerada "prova ilegal". Para ele, se o vídeo for realmente criminoso, não poderia ser usado para nada, e todos os atingidos pelo escândalo deveriam ser indenizados e reintegrados em seus postos. Caso a gravação seja lícita, prossegue, não haveria motivo para sua prisão nem para a humilhação que diz ter sofrido.

Santos Filho avisou ontem que irá buscar "uma retratação do governo federal", mas que não quer indenização em dinheiro. "O que aconteceu comigo não tem preço. Não tenho trabalhado desde então, e hoje tenho quase 30 ‘serasas’ (citações em serviços de proteção ao crédito). O padrão de vida que eu tinha, esqueça." A íntegra da carta testamento de Joel Santos Filho pode ser lida no link http://www.direitoshumanos.adv.br/tribuna_livre_joelsantosfilho.htm.

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