Foz do Iguaçu e São Paulo - O rastreamento dos sinais do telefone celular de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24 anos, complicou a situação de Felipe de Oliveira Iasi, 23 anos, na investigação do assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e do filho dele, Raoni, na madrugada da última sexta-feira. Os dados apresentados ontem pela Polícia Civil indicam que, logo após as mortes, Nunes percorreu 8 quilômetros em apenas 9 minutos, o que não poderia ser feito a pé. Isso reforça a versão de uma testemunha, de que o assassino, que confessou o crime, deixou o local no carro de Iasi.
Em sua versão, Iasi disse que levou Nunes até o local porque estava sob a mira de uma pistola e que fugiu antes das mortes. Nunes também disse à polícia que o amigo deixou o local antes do crime e que foi embora a pé. "Esse dado mostra que seria impossível ele fugir a pé", afirmou o delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva. A polícia ainda avalia a possibilidade de indiciar Iasi. O estudante deverá ser ouvido novamente. Seu advogado, Cássio Paoletti, reafirma que ele manterá sua versão.
Sequestro
Em depoimento ontem, Nunes afirmou que conheceu Iasi "na balada". Contou que fumavam maconha e que no dia 11 decidiu "que ia resolver tudo". Telefonou para Iasi porque ele era um "bundão, um playboy", que faria o que ele mandasse. Ele contou que, no carro, sacou a arma e a encostou em Felipe. "Cara, tenho de resolver uma parada, um assunto sério. Você tá vendo o aço? A arma é de verdade. Se você não fizer o que eu mandar, vou sentar o aço (atirar). Vou estourar sua cabeça. Escolhi você porque você é de boa família e não vai vacilar, pois tem muito a perder."
Nunes contou que, ao entrar na casa, disse a Glauco: "Você tem de dizer a verdade. Assim como você explica a reencarnação dos outros, dizendo que Alfredo é o rei Salomão, as pessoas dizem que você é São Pedro e que Raoni é Davi, se você tem capacidade de falar em reencarnação, então diga quem é que reencarnou no meu irmão."
O assassino afirmou que após os tiros permaneceu na mata. Afirmou que não ficaria no Paraguai, mas voltaria, até que realizasse seu intuito de provar que seu irmão é Cristo reencarnado na primeira versão, teria dito que ele era Jesus reencarnado. Há três anos Cadu, como Nunes é conhecido, era um seguidor da igreja Céu de Maria, fundada há 17 anos por Glauco. Usava a farda dos fiéis mais assíduos, branca, com uma fita de cetim verde. Ele teria arquitetado como subjugaria Glauco para dizer que seu irmão Carlos Alberto era a encarnação de Cristo.
O rastreamento de seu telefone celular mostrou também que ele voltou três vezes ao local do crime. Rondou a chácara das vítimas na tarde e na noite de sábado. Foi nesse dia que telefonou por volta das 19 horas à viúva de Glauco, Beatriz Galvão. Assustada com o telefonema, a viúva desligou. O rastreamento do celular mostra que nesse momento, pela terceira vez naquele dia, Nunes usava seu aparelho no Parque Santa Fé, em Osasco, bairro onde o crime ocorreu.
Maconha
O resultado do exame toxicológico da urina de Nunes constatou que o jovem consumiu maconha no período de até cinco dias antes da coleta. No carro em que ele viajou de São Paulo a Foz do Iguaçu, a polícia já havia encontrado cerca de 3 gramas da droga.
Em interrogatório ontem, Nunes disse que traficava maconha e que conviveu nos três últimos meses "com pessoas do crime" na periferia paulistana. Segundo ele, a mesada que recebia da família não era suficiente, e que passou a comprar maconha na periferia de São Paulo e a revendê-la na Vila Madalena. Assim obteve dinheiro para comprar a pistola usada no crime e 70 cartuchos.
Ontem, três policiais rodoviários federais e um policial federal que participaram das perseguições contra Nunes prestaram depoimento ao delegado da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, Marcos Paulo Pimentel.
A missa de sétimo dia de Glauco e Raoni será realizada amanhã, às 19h30, no santuário Nossa Senhora de Fátima, na cidade de São Paulo.



