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Na prisão: Estudante recebe carta do pai

O estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, assassino confesso do cartunista Glauco Villas Boas e do filho dele, Raoni, recebeu ontem uma foto impressa com uma mensagem de apoio do pai, o comerciante Carlos Grecchi Nunes. A imagem foi entregue pelo advogado Gustavo Badaró. Cadu continua isolado em uma das sete celas da carceragem da delegacia da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, para onde foi encaminhado logo após ser preso ao tentar deixar o país em direção ao Paraguai.

De acordo com o delegado da PF responsável pelo inquérito instaurado em Foz, Marcos Paulo Pimentel, Cadu, como é conhecido, teria se emocionado ao receber a carta e a foto da família pouco antes do início do interrogatório, que se estendeu por quase três horas. "Na carta, o pai apenas passava uma mensagem de apoio, sem fazer qualquer menção sobre o crime", comentou. O depoimento foi acompanhado pelo delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, uma escrivã e um investigador da Seccional de Osasco (SP).

Sozinho na cela, o estudante passa o dia assistindo à televisão e tem se alimentado normalmente. "Ao advogado ele entregou uma lista com o pedido de sete itens, entre eles objetos de higiene pessoal, roupas e chocolate. Mas receberá apenas o que é permitido. Alimentos de fora, não", disse o delegado.

Ontem à tarde, Cadu deixou a carceragem para fazer um raio-X do tornozelo esquerdo, machucado durante o período que ficou escondido no mato, desde a noite do crime até a tentativa de fuga para o Paraguai. Não foi constatada nenhuma fratura.

Foz do Iguaçu e São Paulo - O rastreamento dos sinais do telefone celular de Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24 anos, complicou a situação de Felipe de Oliveira Iasi, 23 anos, na investigação do assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e do filho dele, Raoni, na madrugada da última sexta-feira. Os dados apresentados ontem pela Polícia Civil indicam que, logo após as mortes, Nunes percorreu 8 quilômetros em apenas 9 minutos, o que não poderia ser feito a pé. Isso reforça a versão de uma testemunha, de que o assassino, que confessou o crime, deixou o local no carro de Iasi.

Em sua versão, Iasi disse que levou Nunes até o local porque estava sob a mira de uma pistola e que fugiu antes das mortes. Nunes também disse à polícia que o amigo deixou o local antes do crime e que foi embora a pé. "Esse dado mostra que seria impossível ele fugir a pé", afirmou o delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva. A polícia ainda avalia a possibilidade de indiciar Iasi. O estudante deverá ser ouvido novamente. Seu advogado, Cássio Paoletti, reafirma que ele manterá sua versão.

Sequestro

Em depoimento ontem, Nunes afirmou que conheceu Iasi "na balada". Contou que fumavam maconha e que no dia 11 decidiu "que ia resolver tudo". Telefonou para Iasi porque ele era um "bundão, um playboy", que faria o que ele mandasse. Ele contou que, no carro, sacou a arma e a encostou em Felipe. "Cara, tenho de resolver uma parada, um assunto sério. Você tá vendo o aço? A arma é de verdade. Se você não fizer o que eu mandar, vou sentar o aço (atirar). Vou estourar sua cabeça. Escolhi você porque você é de boa família e não vai vacilar, pois tem muito a perder."

Nunes contou que, ao entrar na casa, disse a Glauco: "Você tem de dizer a verdade. Assim como você explica a reencarnação dos outros, dizendo que Alfredo é o rei Salomão, as pessoas dizem que você é São Pedro e que Raoni é Davi, se você tem capacidade de falar em reencarnação, então diga quem é que reencarnou no meu irmão."

O assassino afirmou que após os tiros permaneceu na mata. Afirmou que não ficaria no Paraguai, mas voltaria, até que realizasse seu intuito de provar que seu irmão é Cristo reencarnado – na primeira versão, teria dito que ele era Jesus reencarnado. Há três anos Cadu, como Nunes é conhecido, era um seguidor da igreja Céu de Maria, fundada há 17 anos por Glauco. Usava a farda dos fiéis mais assíduos, branca, com uma fita de cetim verde. Ele teria arquitetado como subjugaria Glauco para dizer que seu irmão Carlos Alberto era a encarnação de Cristo.

O rastreamento de seu telefone celular mostrou também que ele voltou três vezes ao local do crime. Rondou a chácara das vítimas na tarde e na noite de sábado. Foi nesse dia que telefonou por volta das 19 horas à viúva de Glauco, Beatriz Galvão. Assustada com o telefonema, a viúva desligou. O rastreamento do celular mostra que nesse momento, pela terceira vez naquele dia, Nunes usava seu aparelho no Parque Santa Fé, em Osasco, bairro onde o crime ocorreu.

Maconha

O resultado do exame toxicológico da urina de Nunes constatou que o jovem consumiu maconha no período de até cinco dias antes da coleta. No carro em que ele viajou de São Paulo a Foz do Iguaçu, a polícia já havia encontrado cerca de 3 gramas da droga.

Em interrogatório ontem, Nunes disse que traficava maconha e que conviveu nos três últimos meses "com pessoas do crime" na periferia paulistana. Segundo ele, a mesada que recebia da família não era suficiente, e que passou a comprar maconha na periferia de São Paulo e a revendê-la na Vila Madalena. Assim obteve dinheiro para comprar a pistola usada no crime e 70 cartuchos.

Ontem, três policiais rodoviários federais e um policial federal que participaram das perseguições contra Nunes prestaram depoimento ao delegado da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, Marcos Paulo Pimentel.

A missa de sétimo dia de Glauco e Raoni será realizada amanhã, às 19h30, no santuário Nossa Senhora de Fátima, na cidade de São Paulo.

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