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Trinta mergulhadores buscaram os desaparecidos ontem, no Lago Paranoá, em Brasília, com o auxílio de lanchas e um helicóptero | Wilson Dias/ABr
Trinta mergulhadores buscaram os desaparecidos ontem, no Lago Paranoá, em Brasília, com o auxílio de lanchas e um helicóptero| Foto: Wilson Dias/ABr

Sobrevivente

"Deviam ter dado orientação"

O garçom Everaldo Sales da Silva, 43 anos, sobrevivente do naufrágio em Brasília afirmou que não recebeu qualquer orientação de segurança da tripulação ao embarcar na noite de domingo. "Só nos desejaram uma boa festa", afirma ele, que foi à festa junto com sua mulher. "Deviam ter falado alguma coisa, dado alguma orientação quanto à segurança."

Silva contou que o barco começou a afundar repentinamente, sem que tenha havido qualquer barulho de explosão ou colisão. "A lancha acompanhava o passeio, como se estivesse adivinhando que algo ruim poderia acontecer." Na hora em que um dos lados da embarcação começou a afundar, disse o garçom, os passageiros ficaram desesperados e foram para o lado oposto da embarcação. Com o excesso de peso, esse outro lado teria afundado de vez.

"Eu afundei bastante e depois de um tempo consegui nadar até a superfície. Foi quando uma moça, que estava com dois coletes, passou um para mim. Nadei com ele até a margem e, ao chegar lá, desmaiei de cansaço e frio."

Comandante nega irregularidade em barco

O comandante e o proprietário da embarcação que naufragou em Brasília na noite de domingo foram ouvidos ontem pela Polícia Civil e, segundo o delegado, afirmaram que o barco era legalizado e tinha coletes salva-vidas para todos os passageiros. Pessoas que estavam a bordo relataram que ninguém usava o equipamento no momento do acidente. Entretanto, o comandante afirmou que a distribuição dos coletes começou assim que o problema começou, mas que o barco submergiu muito rápido, o que teria dificultado a distribuição a todos.

Segundo o delegado-titular da 10.ª Delegacia de Polícia, Adival Cardoso de Matos, por enquanto, ninguém foi indiciado pelo naufrágio. A última vistoria feita na embarcação ocorreu em dezembro e foi atestado que ela estava em boas condições e tinha todos os itens de segurança, como boias e coletes salva-vidas.

  • Acompanhe outros detalhes do acidente

Uma rachadura encontrada em uma das estruturas que auxiliam na flutuação de embarcações está entre as possíveis causas do naufrágio do barco Imagination, no Lago Paranoá, em Brasília. O acidente, na noite do último domingo, matou quatro pessoas e deixou pelo menos seis desaparecidas. Além disso, a superlotação do barco é outro fator que pode ter ocasionado a tragédia. No momento do naufrágio, ao menos 104 pessoas estavam a bordo para uma festa, e a capacidade máxima do barco seria para 92.De todas as pessoas que estavam na embarcação, 93 foram resgatadas com vida. Um bebê de 7 meses morreu a caminho do hospital. Três corpos foram localizados ontem perto do barco, que se encontra a 17 metros de profundidade, próximo da Ponte Juscelino Kubitschek. O corpo de uma mu­­lher foi resgatado e os outros dois continuavam submersos até a noite de ontem, mas equipes de resgate tentavam retirá-los da água.

A rachadura foi constatada ontem por mergulhadores que fa­­ziam buscas no local. O tamanho da avaria não chegou a ser informa­­do. De acordo com o comandante Rogério Leite, da Delegacia Fluvial de Brasília, encarregado do inquérito administrativo que de­­ter­mi­­nará as causas do acidente, a rachadura ainda não pode ser apontada como a causa do acidente.

Outra hipótese para o naufrágio seria a colisão do Imagination com uma lancha que levava um convidado retardatário à embarcação. Sobreviventes relataram que to­­dos correram para o lado da batida, concentrando o peso numa parte do navio. É possível que te­­nha sido justamente o lado com o tubulão rachado. O navio afundou em minutos, duas horas após sair do embarcadouro do clube Cota Mil.

Poucos passageiros conseguiram pegar o colete salva-vidas antes de cair na água. Acionado pela Capitania dos Portos às 20h52, o socorro do Corpo de Bombeiros levou cerca de 20 minutos para chegar ao local. "Já ouvimos relatos de colisão, de problema, de explosão, mas isso é prematuro. Só teremos certeza com a perícia", afirma o delegado-titular da 10.ª Delegacia de Polícial, Adival Cardoso de Matos, encarregado pelo inquérito criminal.

Vítimas

A tragédia não foi maior porque algumas embarcações que transitavam por perto chegaram rápido e ajudaram os passageiros. O bebê João Antônio Fernandes ainda ti­­nha alguns sinais vitais funcionando, mas não resistiu e morreu an­­tes de chegar ao hospital. A mãe de­­­­le, Valdelice Fernandes, 34 anos, é uma das desaparecidas e, segundo sobreviventes, teria sumido nas águas enquanto tentava salvar o filho.

O segundo corpo foi retirado das águas no final da manhã de on­­tem. Trata-se de Flávia Daniela Pe­­rei­­ra Dornel, 22 anos, irmã da promoter da confraternização que ocor­­ria no barco, Vanda Pereira Dor­­nel, sobrevivente do acidente. Van­­da prestou depoimento à polícia e disse que nunca teve problemas em eventos anteriores feitos em barcos.

Investigação

A Marinha abriu inquérito ad­­ministrativo e tem 90 dias para concluir o relatório final com as causas do acidente. Dois peritos em acidentes navais irão hoje do Rio de Janeiro para Brasília para ajudar nas investigações. A Polícia Civil abriu inquérito criminal para levantar as responsabilidades pelo acidente e deve indiciar o piloto por crime culposo, sem dolo.

Um grupo de 30 mergulhadores e 56 pessoas dá suporte às buscas, com uso de seis lanchas, um barco de apoio e dois helicópteros.

O delegado Matos informou que havia 110 coletes salva-vidas e os passageiros receberam instruções de uso e dos procedimentos em caso de emergência. O comandante Leite confirmou que esse é o procedimento correto e que não é obrigatório o uso do colete o tempo todo. "Mas em caso de crianças e pessoas que não sabem nadar, manda o bom senso que estejam sempre de colete", ressalvou.

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