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Convivência sem conflitos é possível

Nem todas as relações entre vizinhos resultam em brigas. Os moradores do bairro Jardim das Américas organizaram em 2001, por meio do Conselho de Segurança (Conseg) do bairro, o projeto Vizinho Solidário, que tem por objetivo melhorar a segurança na região. "Cada um ajuda a cuidar do outro, sem confundir isso com intriga e fofoca, e todo mundo acaba se conhecendo, com uma convivência agradável", explica o diretor-financeiro do conselho, Pedro Forcadell.

No entanto, Forcadell admite que a convivência entre vizinhos que moram em casas próximas é muito mais fácil do que entre aqueles que dividem o espaço comum em um condomínio. "O atrito aumenta com a maior proximidade das pessoas", comenta. Para o professor Lindomar Boneti, a solução para resolver os problemas em relação ao espaço comum é a discussão do tema entre os condôminos, além de uma mudança na política educacional do país. "Os condomínios viraram um amontoado de indivíduos que moram juntos, mas não têm consciência do espaço comum", define.

O assassinato de Sérgio Alaor Kluppel pelo síndico do prédio onde morava, José Francisco da Fonseca Prestes, na quinta-feira, chamou a atenção para as desavenças entre vizinhos. Embora sejam poucos os casos que chegam a níveis tão extremos, algumas brigas acabam exigindo a intervenção da Justiça para que os problemas sejam resolvidos. Em Curitiba, após o registro da ocorrência, os casos são encaminhados ao Juizado Especial Criminal. O órgão é responsável pelas infrações de pequeno potencial ofensivo, com penas de até dois anos.

O juiz Gilberto Ferreira conta que a maioria dos casos de intrigas entre vizinhos que chega ao Juizado se deve ao barulho de festas, som alto ou até brigas conjugais. De janeiro a agosto desse ano, foram registradas 349 ocorrências de perturbação do sossego e da tranqüilidade, que abrangem grande parte desses conflitos. "No entanto, a animosidade entre vizinhos normalmente envolve outras questões, como embriaguez ou drogas. Nosso trabalho não é apenas acabar com a briga, mas também descobrir a causa", explica Ferreira.

O trabalho do Juizado é conciliar os envolvidos de forma a obter um acordo entre eles. O conciliador Arion Schwinden trabalha diariamente em audiências de conciliação e afirma que, além da perturbação do sossego e da tranqüilidade, alguns casos de brigas entre vizinhos resultam em outros tipos de infrações, como ameaça, lesão corporal e crimes contra a honra.

O professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Lindomar Wessler Boneti, explica que as confusões ocorrem devido ao contexto atual de urbanização. "Os vizinhos começam a competir pelo espaço, pensando apenas no direito individual e esquecendo que existe um espaço coletivo que deve ser respeitado", diz.

Algumas vezes, os conflitos acabam passando para o ambiente virtual. Um morador do bairro Pilarzinho, que não quis se identificar, conta que um vizinho criou uma comunidade no Orkut sobre o condomínio e começou a ofender colegas de edifício e o síndico. O caso foi resolvido somente com a mediação de um juiz, que ordenou o fim da comunidade e uma retratação pública, fixada nos murais do condomínio por 30 dias.

Já em um condomínio no bairro Cabral, um abaixo-assinado exigindo a mudança de um inquilino resolveu a questão. Há cerca de dois anos, o morador assustou todos os vizinhos de madrugada. A confusão começou quando ele acendeu um cigarro na portaria do prédio. Ao ser advertido pelo porteiro de que não poderia fumar ali, quebrou a porta de vidro e, ensangüentado, saiu batendo em todas as portas pedindo socorro. "Nunca senti tanto medo como naquele dia porque eu não sabia o que estava acontecendo", conta o estudante Bruno Ortiz.

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