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A história da prisão de um dos maiores traficantes do mundo e os detalhes do plano para sequestrar Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, estão no livro Em Nome da Lei, que será lançado hoje em Curitiba pelo delegado licenciado da Polícia Federal Fernando Francischini. Nele, o autor conta como chegou a Juan Carlos Ramírez Abadía, colombiano suspeito de mandar matar 15 pessoas nos Estados Unidos e cerca de 300 na Colômbia, e revela o plano do traficante de sequestrar Lulinha entre 2007 e 2008, em parceria com Fernandinho Beira-Mar. Francischini conversou com a Gazeta do Povo sobre os bastidores dos dois casos.

A investigação para pegar Abadía demorou cerca de três anos. Em que momento ele cometeu o deslize que permitiu o avanço da polícia?

Foi com quase dois anos de investigação, quando, irritado com um problema bancário de lavagem de dinheiro no Uruguai, ele acabou usando um telefone que estava grampeado pela Justiça Federal. Foi essa gravação que nós mandamos para o DEA (Drug Enforcement Administration), órgão antidrogas dos Estados Unidos, que começou a mostrá-la para outros colombianos presos lá. Se eles identificassem a voz, teriam redução de pena. Um desses presos identificou que aquele colombiano que atuava há três anos no Brasil era Abadía. Daí a investigação deslanchou, vieram autoridades de vários países e nós descobrimos que estávamos com o traficante mais procurado do mundo aqui.

Por que a operação foi chamada de Farrapos?

Por causa das nossas condições de trabalho. A Polícia Federal funcionava na Rua Ubaldino do Amaral, em um verdadeiro muquifo. Nós, três agentes e um delegado, trabalhávamos no muquifo do muquifo, no porão da casa, uma salinha de quatro metros quadrados, com três computadores, enquanto investigávamos um colombiano que movimentava milhões. Na época, quando apresentei a operação, disse que nós nos sentíamos revolucionários e que, como o Abadía passava muito pelo Rio Grande do Sul, nós queríamos fazer uma homenagem à Revo­lução Farroupilha. Mais tarde, quando contei a verdade para o ex-diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, ele deu risada.

Como foi descoberto o plano de sequestro de Lulinha?

Essa foi a parte mais sensível da investigação e o motivo pelo qual Abadía foi extraditado mais rápido. Ele ficou no mesmo presídio federal (Campo Grande) do Beira-Mar e eles se comunicaram através dos advogados e de outras pessoas presas na operação Fênix (que desarticulou, em novembro de 2007, a atuação do traficante, de dentro da cadeia, e culminou na prisão de 11 pessoas, entre elas a advogada e esposa de Beira-Mar, Jaqueline Alcântara de Morais). A ideia era sequestrar o Lulinha, entre outras autoridades, e enviá-lo para a Colômbia, para as Farc (For­ças Armadas Revolucionárias da Colômbia), exigindo em troca da libertação a soltura de Abadía e Beira-Mar. Com a investigação que terminou na operação X (deflagrada em agosto 2008), nós conseguimos impedir que eles continuassem com o plano. Lulinha era preparador físico do Palmeiras, e de­­pois do Corinthians, e vivia, nessa época, sempre com segurança re­­for­­çada. (Abadía foi extraditado duas semanas depois da operação X).

E quanto à extradição do Abadía para os Estados Unidos. Foi correta?

Não. Na época eu tinha feito um pré-acordo com ele de delação premiada. Em depoimento, ele me disse que tinha US$ 35 milhões escondidos no Brasil, além de três comparsas e um brasileiro, que comandava a parte de venda de aviões para o cartel colombiano. Ele me disse que ia entregar todos e o dinheiro em troca da extradição. O juiz não aceitou a delação premiada, mas até aí tudo bem, porque estava dentro de um aspecto jurídico. O que eu não aceitei, nem ninguém da equipe, foi saber depois, pela imprensa, que o Ministério da Justiça tinha dado parecer positivo para a extradição e que o Superior Tribunal Federal, também às pressas, havia decidido pela mesma coisa, sem cobrar, mesmo que administrativamente, como condição da extradição, que ele entregasse o dinheiro escondido e os outros criminosos. Nós demos ao Abadía o que ele queria, sem exigir nada em troca. Seis meses depois, a polícia de São Paulo prendeu um dos três comparsas, que era o contador dele e disse que tinha enviado os US$ 35 milhões de volta para a Colômbia, por meio de pequenas mulas (pessoas) de US$ 3 milhões.

Serviço:

Lançamento do livro Em Nome da Lei, de Fer­nan­­do Francischini. Às 19h30, no Centro Uni­ver­­sitário Curitiba – Unicuritiba (Rua Chile, 1.678).

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