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Uma cena inusitada pôde ser testemunhada durante todo o dia (e parte da noite) de ontem, em Curitiba: apesar da chuva intermitente e do trânsito engarrafado nas imediações da Igreja Nossa Senhora das Mercês, ninguém buzinava ou xingava, e todos aguardavam pacientemente a fila andar. Talvez pelo motivo do congestionamento – a tradicional bênção dos veículos, realizada pelos freis capuchinhos na primeira sexta-feira do ano, desde 1951.

Um contingente de 100 pessoas (30 freis e 70 voluntários) participou da ação, que se prolongou até as 21 horas. Nem a chuva que teve início no meio da tarde desanimou os religiosos. "Ela não atrapalha, se for o caso a gente benze a chuva e vira tudo água benta", brincou o pároco da igreja, frei Alvedi Marmentini, 61 anos.

O maior movimento estava previsto para depois das 18 horas, quando a maior parte das pessoas sai do trabalho. "Às vezes a fila de carros chega lá na Igreja da Ordem, mas felizmente os guardas da Diretran estão nos ajudando e tudo está correndo bem", informou o frei, que disse ter conversado com motoristas que estavam nas praias e subiram só para participar da bênção.

Mas ele lembrou que não adianta procurar a igreja somente nessas ocasiões: "A aliança com Deus deve ser realimentada o ano todo. Tem gente que vem aqui hoje [ontem] e no resto do ano esquece". Além disso, ressaltou, os veículos abençoados não se tornam à prova de acidentes ou contratempos. "A bênção não é algo mágico, é preciso um compromisso do motorista com as leis de Deus e de trânsito."

Devotos

Muitos motoristas porém se sentem realmente protegidos depois que abençoam seus veículos, como Julmira Nascimento Lem, 77 anos, que participa do ritual há pelo menos 30 anos: "Tenho 40 anos de carteira e graças a Deus nunca me envolvi em nenhum acidente", garantiu. "Mas a gente também tem que ajudar, com muitas orações antes de sair de casa."

Outra que não deixa mais de abençoar o seu automóvel é a corretora de imóveis Nádia Carolino, 61 anos. "Eu venho há 10 anos e você acredita que no ano passado eu não vim e acabei perdendo um carro num acidente?", revelou. "E o pior é que não tinha seguro." Fabiane Aparecisa Girelli, 27 anos, também não deixou de proteger seu Celta preto: "Tenho carteira há 9 anos e nunca tive qualquer problema, nunca bati nem roubaram nada".

Vários veículos de auto-escolas também podiam ser vistos na fila. "Somos de Ponta Grossa e viemos pela primeira vez. Soubemos da bênção pela tevê", disse o motorista Márcio de Souza, 28 anos. "Dependendo do aluno é bom uma proteçãozinha extra."

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