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José Mindlin participou do Paiol Literário em Curitiba, em 2006, e conversou por duas horas com uma plateia atenta e interessada | Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo
José Mindlin participou do Paiol Literário em Curitiba, em 2006, e conversou por duas horas com uma plateia atenta e interessada| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Experiência única

Simplicidade era marcante

O jornalista Rogério Pereira, editor do jornal Rascunho, conheceu Mindlin em 2006, quando o bibliófilo esteve em Curitiba. O contato foi rápido, cerca de quatro horas, mas o suficiente para marcar o interlocutor. "O que me chamava a atenção em Mindlin era a simplicidade que ele tinha, sem ser simplório. Ele transmitia a literatura e o amor pelos livros de maneira simples e as pessoas se encantavam com isso", lembra.

Mindlin veio a Curitiba, a convite do editor, para participar do Paiol Literário, projeto que promove conversas com grandes nomes da literatura. Pereira classificou a participação de Mindlin como um fato histórico. "Acho excepcional ter tido contato com Mindlin, que dedicou a vida toda dele aos livros e à literatura. Me senti feliz pelo fato de ter proporcionado esse encontro", afirma o jornalista.

Fonte: Da Redação

São Paulo - O bibliófilo e empresário José Mindlin, de 95 anos, morreu na manhã de ontem, em São Paulo, vítima de falência múltipla dos órgãos, ocorrida após complicações cardíacas e pulmonares. Mindlin estava internado na unidade havia um mês para tratar uma pneumonia.

Responsável por organizar a maior e mais importante biblioteca privada do país, doada em 2006 à Universidade de São Paulo (USP), o também fundador da Metal Leve e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) recebeu homenagens durante o velório realizado no Hospital Albert Einstein, na zona sul da capital paulista.

Durante a cerimônia, em que compareceram dezenas de pessoas, a contribuição à USP e outras importantes atuações, como decisões tomadas durante a ditadura, foram lembradas por amigos do mundo político.

A família preferiu uma cerimônia reservada a parentes e amigos e não quis dar declarações durante a homenagem.

Por volta das 15 horas, pouco antes de o corpo deixar o local, parentes abraçavam-se enquanto ouviam-se cantos em hebraico. O caixão seguiu para o Cemitério Israelita da Vila Mariana, na zona sul, onde Mindlin foi enterrado no fim da tarde.

O governador José Serra (PSDB) decretou luto oficial de três dias em razão da morte. "Muita gente se refere a ele como bibliófilo, mas ele foi mais do que isso. Foi um resistente ao regime autoritário", afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao deixar o velório.

Em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte de Mindlin. "Ele foi um grande brasileiro e motivo de orgulho para todos nós. Com seu imenso amor à cultura, sua defesa da liberdade e sua conduta empresarial, prestou serviços extraordinários ao país. E, apesar da idade, ainda tinha força e disposição para contribuir com o progresso nacional."

Presente na homenagem, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), divulgou nota em que exaltou a doação dos livros de Mindlin à USP. "José Mindlin foi um gigante da cultura brasileira. Como todo grande homem, deixa um grande legado, que é a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin", afirmou na nota.

O reitor da USP, João Grandino Rodas, explicou que o acervo de Mindlin será digitalizado. Sua atitude deixou acessíveis ao público obras como o primeiro exemplar de Os Lusíadas, de Ca­­mões, e mapas brasileiros raríssimos que foram colecionados pelo bibliófilo.

Ainda segundo Rodas, foram necessários 15 anos de "luta" para que a USP recebesse os livros. "No Brasil, muitas instituições têm verdadeira ojeriza às doações privadas e ele foi pioneiro nisso." O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso enfatizou que foi necessária mudança legal para permitir a doação sem custos para donatários. "Foi um gesto importante porque, no Brasil, não temos a prática de doar", complementou a ex-prefeita Marta Suplicy (PT).

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