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Território

Breve relato de uma longa jornada

Missões jesuíticas determinaram a existência do Paraná. É capítulo épico do estado, marcado pela frustrante expulsão da Companhia de Jesus em 1759

Na década de 1950, jesuítas voltam a atuar no Paraná, dessa vez em Curitiba: primor da Companhia de Jesus marca educação | Acervo/Colégio Medianeira
Na década de 1950, jesuítas voltam a atuar no Paraná, dessa vez em Curitiba: primor da Companhia de Jesus marca educação (Foto: Acervo/Colégio Medianeira)
Cenas de um colégio: alunos fazem recreio nos campos do Medianeira: passado reabilitado |

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Cenas de um colégio: alunos fazem recreio nos campos do Medianeira: passado reabilitado

Prédio que abrigou o colégio jesuíta em Paranaguá: história abortada por Pombal |

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Prédio que abrigou o colégio jesuíta em Paranaguá: história abortada por Pombal

O atual território do Paraná ainda estava permeado por enormes vazios urbanos quando os primeiros jesuítas desembarcaram na região, no início do século 17. Nessa época, o estado estava praticamente sob jurisdição espanhola, com exceção da faixa litorânea – sob domínio português. "O atual território paranaense se configurava como uma região de disputa, onde era frequente também o avanço dos bandeirantes paulistas", explica o historiador Rafael Diehl.

Diehl lembra que os jesuítas portugueses tentaram se estabelecer na região ainda no fim do século 16, mas foram impedidos pelo rei Filipe II de Espanha, que desejava manter a autonomia dos territórios portugueses, unidos à Coroa Espanhola desde 1580 pela União Ibérica.

Desde o início do século 17, houve a presença de jesuítas espanhóis no Guairá, como era chamada a região. Mas as Reduções Jesuíticas só se estabelecem mesmo em 1610, com a ajuda de membros da Companhia de Jesus italianos. "Em 1613, ano da chegada do célebre padre Antonio Ruiz de Montoya, o Guairá contava 13 Reduções Jesuíticas", explica o historiador.

O retorno

As incursões das Bandeiras Paulistas, que eram em sua maioria portuguesas, causaram a fuga de missionários e indígenas das Reduções do Guairá, em 1632. "Muitos indígenas foram mortos ou escravizados pelos bandeirantes e as reduções foram incendiadas e saqueadas", informa Diehl. O padre jesuíta Dionísio Seibel lembra que a responsável pela expulsão dos jesuítas foi a Coroa Portuguesa, a mando do Marquês de Pombal.

A violência bandeirante contra as Reduções Jesuítas no Paraná provocou um vácuo de membros dessa congregação na região. Somente a partir da segunda metade do século 17 é que os jesuítas começaram a retornar ao estado. Diehl relata que a Câmara de Paranaguá negociou com os jesuítas o estabelecimento de um colégio em Paranaguá, tendo os primeiros padres da Companhia de Jesus chegado à cidade em 1708. Nesse momento, os jesuítas eram portugueses, pois a região já se encontrava submetida à administração da Coroa lusitana.

"Nesse ano, estabeleceu-se com os jesuítas uma Casa de Primeiras Letras. O estabelecimento de um colégio atrasou por uma série de dificuldades políticas envolvendo as jurisdições coloniais da região, tendo iniciado suas atividades apenas em 1755", ilustra. Foi o primeiro colégio jesuíta no Paraná e hoje é sede do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR.

O colégio teve curta duração, pois em 1759 o Marquês de Pombal, ministro português, determinou a expulsão dos jesuítas do Reino e demais domínios coloniais, influenciado pela aversão que parte dos pensadores iluministas nutria pela Companhia de Jesus. Segundo o historiador, os bens do colégio foram confiscados pela Coroa no ano seguinte.

"Sob a pressão dos reis de vários países da Europa, o papa declarou extinta a Companhia de Jesus – essa família religiosa foi restaurada em 1814. Os jesuítas retornaram ao Paraná apenas em 1951", completa Seibel.

Para historiador, catequese jesuítica não foi unilateral

O historiador Rafael Diehl relata que os jesuítas acreditavam na veracidade da fé católica e por isso se viam investidos da missão de levar essa crença a todos os povos. "É verdade que os jesuítas buscavam trazer os indígenas à doutrina católica. Agora, se pensarmos em ‘doutrinar’ com um sentido pejorativo, há de se ter cuidado", alerta.

Segundo ele, houve imposições forçadas da fé cristã em alguns momentos localizados na época colonial, "mas as Reduções Jesuíticas não fazem parte desse quadro". "Os jesuítas iniciavam sua evangelização no convívio com os nativos. Concordo que os jesuítas imputaram aos indígenas vários aspectos da cultura europeia, mas mesclando-os com a cultura local, tal como fizeram em outras regiões. A própria celebração das missas nas reduções se dava de forma diferente do que se via na Europa de então", afirma.

Influência

Diehl chama atenção para o fato de que encontros culturais nunca são unilaterais. "As culturas se influenciam mutuamente. O indígena também é sujeito histórico, não foi um simples receptor da doutrinação. Alguns indígenas aceitaram viver sob a fé cristã e nas reduções, enquanto outros não", salienta.

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