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Curitiba – A torcida estava bem ensaiada: durante as duas horas em que todos esperavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os candidatos locais para o comício, um animador repassou diversas vezes os pontos mais importantes. Quando o presidente chegasse, todos deveriam cantar em coro o "olê-olá" que marca sua carreira desde 1989. Repassou também algumas vezes um detalhe importante. Quando começassem os discursos, seria preciso abaixar as bandeiras dos candidatos para que as câmeras pudessem registrar a presença de Lula.

Tudo era ensaiado. As pessoas, em boa parte, estavam lá como torcida organizada de um ou outro candidato. Todos os petistas levaram cabos eleitorais com bandeiras e camisetas. E candidatos de outros partidos também entraram de carona, num leque que ia de Roberto Requião a Ratinho Júnior. Havia presença espontânea do povo também. O risco era de o comício resvalar para o oficialismo, de ser mais um evento para as câmeras e para a satisfação dos egos dos papagaios de pirata presentes.

Mas não. Quando Lula pegou o microfone, deu para entender porque ele está prestes a ser o terceiro homem na história do país a ser eleito presidente da República por duas vezes. Ao fim do discurso de 22 minutos, Lula desceu do palanque e foi cercado pela multidão. Era impossível chegar a menos de cinco metros do presidente. Não por causa de seguranças ou de grades, mas por causa da população ao redor dele.

Na verdade, o estilo Lula começou a transparecer mesmo antes de ele começar a falar. Enquanto ouvia a introdução feita pelo prefeito Jota Camargo, de Colombo, ele estava de olho em alguém na multidão. Era uma pessoa com um envelope vermelho na mão. Lula fez sinal para que se aproximasse, se abaixou esticando o braço pelo meio da grade de proteção e conseguiu pegar o envelope. Enquanto o prefeito completava seu agradecimento, Lula percorreu com os olhos as duas páginas da carta. Ao terminar, fez um sinal de positivo para a pessoa na platéia.

Quando começou a falar, deixou claro que conversava com a classe mais pobre. Não falou de juros, inflação ou FMI. Falou a língua que o Alto Maracanã e a grande maioria do país conhece. "Hoje, eu posso olhar para a cara de uma dona de casa e dizer: 'você hoje compra o arroz pela metade do preço que comprava antes'," dizia. O mesmo sobre o preço do óleo e do concreto para reformar a casa.

Os pontos ressaltados no discurso foram sempre relacionados a conquistas que tinham a ver diretamente com o bolso de cada um dos presentes. Lula mencionou a Farmácia Popular, por exemplo, e explicou o assunto à sua maneira. Disse que ninguém mais ia morrer com a receita na gaveta e sem poder comprar remédios para diabete ou hipertensão.

E ganhou de vez as mulheres presentes quando discursou sobre a Lei Maria da Penha, que prevê até três anos de cadeia para homens que baterem em suas mulheres. "Homem tem mão é para trabalhar, para lavar as louças, para segurar os filhos e para fazer carinho na companheira", disse, sob intensos aplausos.

Visivelmente cansado, o presidente saiu de Colombo cerca das nove horas da noite. Havia boatos de que ele teria tentado inclusive desmarcar o comício de Curitiba, assim como havia desmarcado um compromisso em Joinville na mesma tarde. Não o fez. Embora seus assessores digam que hoje Lula tenha cada vez menos vontade de fazer comícios, o presidente manteve a performance de sempre, inclusive com os deslizes de sempre – chamou o Paraná, pela segunda vez nesta campanha, de Pará. E saiu do palanque com mais um passo dado para a reeleição.

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