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Censo 2010 mostra que as famílias brasileiras estão alugando mais moradias. Veja |
Censo 2010 mostra que as famílias brasileiras estão alugando mais moradias. Veja| Foto:

Renda

Menos pobres, mas ainda muito pobres

Das agências

Cerca de 60% dos domicílios brasileiros têm renda domiciliar per capita de até um salário mínimo. No ano passado, praticamente uma em cada sete residências tinha renda domiciliar per capita de até 1/4 de salário mínimo; uma em cada três, de meio a um; e mais de uma em duas tinha rendimento por pessoa de até um salário mínimo. Em todos esses grupos sociais, porém, esses números modestos significaram melhoria em relação à década anterior.

Até dois salários, a proporção sobe para 82,4%. No Nordeste, a situação é mais grave: são 80,3% dos lares com ganhos de até um salário mínimo per capita.

Segundo o presidente do IBGE, Eduardo Nunes, os dados mostram uma redução da desigualdade de renda. "O contingente brasileiro que em 2000 ganhava renda inferior a meio salário mínimo hoje é muito menor", disse Nunes. Ele citou programas de transferência de renda e o aumento real do salário mínimo entre as principais causas da mudança. "São programas que atingem exatamente essa parcela da população. O foco é justamente a parcela de menor renda", disse. Para Nunes, as faixas consideradas prioritárias pelo Bolsa-Família são próximas àquela que o IBGE usa como critério para a distribuição de renda: 1/4 do salário mínimo. "É a faixa mais próxima do limite do público-alvo do Bolsa Família. Se esse grupamento tem uma fonte adicional de renda, isso vai contribuir para aumentar o ganho de contingente."

Trabalho infantil

O Censo 2010 mostra ainda que no ano passado havia 132 mil domicílios no País sustentados por crianças de 10 a 14 anos. "Proporcionalmente aos 57 milhões de domicílios, esse número (132 mil) não é muito expressivo. Entretanto, ele reflete outra realidade que o IBGE revela sistematicamente: a presença de trabalho infantil na sociedade brasileira. É mais uma evidência da existência do trabalho infantil, que em muitas famílias é a principal fonte de sustento", disse Nunes.

  • Saneamento básico é o serviço de infraestrutura que menos chega aos lares brasileiros, segundo o Censo 2010: apenas 55,4% dos 57,3 milhões de domicílios estão ligados à rede geral de esgoto

Os últimos dez anos foram marcados por um forte crescimento no número de famílias morando em imóveis alugados, revelam os dados consolidados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE. Entre 2000 e o ano passado, houve um crescimento de 64% de famílias em residências alugadas no Brasil, enquanto as habitações cedidas ou cuja condição não foi especificada recuou 4%. O aumento de residências próprias foi de 27,2%, um número inercial, que acompanha o au­­mento no número de residências pesquisadas (44,8 milhões em 2000 ante 57,3 milhões em 2010 – um aumento de 27,9%). Ainda assim, os imóveis próprios representam 73,3% do total de lares brasileiros.No Paraná, o fenômeno do aluguel é ainda mais vigoroso. Em 2000, 400 mil famílias haviam declarado ao IBGE que usavam essa modalidade de mo­­radia. No levantamento do ano passado, a fatia saltou para 2,3 milhões – aumento de quase 500%. A quantidade de imóveis próprios também cresceu estruturalmente no estado, passando de 1,9 milhão para 3,2 milhões (alta de 68,4%).

O empresário Luiz Valdir Nardelli, vice-presidente de locação e administração de imóveis do Sindicato de Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), atribui o crescimento a dois fatores: um econômico e outro comportamental. O primeiro deles é representado pelo acesso aos bens promovido pelo aumento da renda e do poder de compra do brasileiro, percebido ao longo da década passada. "Com estabilidade financeira, a família passa a buscar qualidade de vida, e um dos primeiros desejos é melhorar o nível da moradia. Isso porque as classes D e E, via de regra, moram muito mal. E o aluguel acaba sendo a primeira opção, até por opção para quem não quer ter uma dívida ou fazer um investimento", analisa.

O outro fator, segundo Nardelli, está relacionado a questões de mobilidade e dinâmica do mercado de trabalho. "É mais fácil se mudar caso a pessoa esteja morando de aluguel. E mudanças de emprego acabam influenciando nesse processo. Hoje, cidades do interior costumam oferecer uma qualidade de vida superior à das metrópoles, e esses pequenos municípios vão atrás de mão de obra em outros lugares. Mesmo dentro de uma cidade isso acontece. Se a pessoa mora e trabalha no Xaxim (bairro da região Sul de Curitiba) e se muda para um emprego na Barreirinha (região Norte), o aluguel simplifica a mudança. Caso contrário a pessoa vai passar muito tempo no trânsito", explica.

Deficiências

O saneamento básico ainda demonstra ser o serviço de infraestrutura que menos chega aos lares brasileiros, embora também tenha crescido ao longo da década. De acordo com o IBGE, apenas 55,4% dos 57,3 milhões de domicílios estão ligados à rede geral de esgoto. Outros 11,6% utilizam fossa séptica, forma de saneamento considerada adequada pelo instituto e incluída no quesito "possui saneamento".

Para Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil (dedicado a políticas de saneamento), os números devem ser vistos com uma cautela ainda maior. Segundo ele, o formato da pesquisa (entrevistas com um representante da família) tende a gerar distorções. "O mapeamento de esgoto é um problema para o Censo, pois as pessoas muitas vezes não têm certeza se a casa está realmente ligada na rede de esgoto", justifica. "Por isso, preferimos usar dados do Sistema Nacional de Informação Sani­tária, que são dados técnicos. Em 2008, ano do último levantamento disponível, tínhamos apenas 43% das casas conectadas à rede de esgoto", informa.

No Censo 2010, quase 83% dos entrevistados (47,5 milhões de residências) declararam possuir serviço de abastecimento de água – um aumento de 36,5% em relação há 10 anos. Conse­quen­temente, o número de poços e nascentes usados para consumir água caiu 18,5%.

Outros indicadores também apontam crescimento. O número de domicílios sem banheiro caiu de 8,3% do total em 2000 para 2,6% em 2010. Quase todos os domicílios do país (98,7%) são alcançados pelo serviço. É a primeira vez que o IBGE pesquisa o acesso a tal serviço no Censo e em todos os lares. Em 2000, o levantamento era por amostra e constatou a presença de 94,5% domicílios atendidos.

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