Los Angeles - Julie & Julia conta a história de duas mulheres desiludidas que encontram um objetivo profissional na arte de cozinhar. Julia Child (Meryl Streep) vive na Paris dos anos 40 tentando descobrir o que fazer com sua vida enquanto seu marido serve como diplomata estrangeiro. Ela então decide fazer aulas de culinária e escrever um livro de receitas. Essa história se intercala com a de Julie Powell (Amy Adams), uma frustrada secretária temporária na Nova Iorque dos dias atuais que decide preparar todas as 524 amedrontadoras receitas do tal livro de Julia e escrever sobre a experiência em seu blog. Ephron adaptou o filme da autobiografia de Child, My Life in France, e do blog de memórias de Powell, Julie & Julia.
O filme é praticamente pornografia culinária (não é aconselhado assisti-lo com fome). Mas é a descrição do casamento particularmente a união de Julia e Paul Child que tem feito as pessoas comentarem. Vários aspectos do matrimônio retratados são surpreendentes para um filme de Hollywood. Para começar, ele tem sexo: o casal de velhos também faz.
Os senhores Julia e Paul (Stanley Tucci) são mostrados aparentemente com precisão como abundantemente libidinosos. A esposa robusta e o marido baixinho transam à tarde, com Julia rasgando os suspensórios de Paul às gargalhadas. Em outra cena, eles fotografam-se nus dentro de uma banheira de espuma e usam a foto como cartão de Dia dos Namorados. "Não entendo por que ficam todos tão surpresos", diz Streep. "Acho que as pessoas não associam sexualidade com gente da idade de seus pais."
Filmes de Hollywood sobre casamentos vibrantes são raros. Em sua maioria, são tristes e dolorosos, retratam o casamento como uma tarefa que deve ser repetida à exaustão, culminando na realidade da vida: divórcio ou um caso extraconjugal.
Mas o que aconteceu com o matrimônio feliz e sólido, onde duas pessoas enfrentam juntas as dificuldades? "Isso é tão difícil de encontrar quanto um unicórnio", afirma Ephron.
Teorias explicativas não faltam. Jeanine D. Basinger, presidente do departamento de estudos cinematográficos da universidade de Weleyan em Connecticut, alega que diretores, produtores e chefes de estúdio homens sempre ditaram as regras em Hollywood. "Os homens não têm muita propensão a se importarem com esse tipo de história", diz Basinger, que está escrevendo um livro sobre como o casamento é retratado no cinema.
O produtor de Julie & Julia, Laurence Mark, garante que a resposta para essa pergunta não é nenhum mistério visto que um cenário de conflito é mais cativante para as platéias, "casamentos felizes no cinema são mais difíceis de convencer", diz ele.
Cada um dos maridos em Julie & Julia apoia com prazer o comprometimento e ambição de suas companheiras. Paul Child tira fotos de sua esposa cozinhando para seu livro de receitas. O marido de Julie Powell, Eric (Chris Messina), encoraja a ideia da esposa de fazer um blog, e até mesmo cobra dela que prossiga mesmo depois que sua obsessão começa a afetá-lo.
Mas os relacionamentos não são exatamente tranquilos, nota o produtor executivo do filme Scott Rudin (o mesmo de Onde os Fracos Não Têm Vez), "É isso que faz o filme parecer verdadeiro." O casal moderno tem problemas financeiros e briga quando o assunto é a ocasional distância de Julie (embora não haja menção no filme acerca de um caso que ela teve após a publicação do livro). Filhos são um assunto delicado para os Child. Em determinada cena, Julia entra em desespero por alguns instantes quando sua irmã fica grávida. "Na verdade, vejo esse filme como um manual de como conduzir um casamento," confessa Basinger.
*Tradução de Miguel Nicolau Abib Neto.



