
No mês de agosto, os cinco conselheiros tutelares do Cajuru fizeram 1.588 atendimentos, cerca de 300 por cabeça, uma boa parte dizendo respeito à drogadição. Com folga, é o maior problema da área do tamanho de uma cidade: são 230 mil pessoas. Mas não o único. Pais também costumam procurar o conselho para reclamar dos maustratos verbais sofridos por seus filhos nas 21 escolas municipais e 22 estaduais da regional. É um círculo vicioso: sem vínculo com o colégio e distante dos professores, alunos principalmente adolescentes tendem ao abandono e à repetência.
Ano passado foram 650 casos de abandono escolar só na área do conselho. Tudo indica que em 2007 essa cifra será ultrapassada. Até agora, já foram avaliadas 280 Fichas de Acompanhamento Escolar (Fica). O acordo é que sejam preenchidas nas escolas a cada cinco faltas consecutivas dos alunos, e então enviadas para o conselho tutelar, para que possam se mobilizar. Segundo os conselheiros, os relatórios têm chegado a conhecimento quando as ausências já superaram 30 dias, mostrando que as escolas tentam resolver o problema sem a ajuda do conselho tutelar. Em muitos casos, é tarde demais, principalmente para a escola, que se apressa em reprovar o educando.
Os depoimentos dados por muitos pais chocam os conselheiros. São comuns casos em que os professores dizem que o aluno não precisa mais ir à aula porque já está reprovado. Isso, na melhor das hipóteses. Na pior, multiplicam-se os em que o mestre chama o pupilo de "burro" e até o apelida de "Girafa" ou "Urso", de acordo com o relato do conselheiro Renato Cordeiro, 43. Para quem se antecipa dizendo que essas práticas ficaram perdidas em alguma página do passado, ao lado da palmatória e dos grãos de milho para ajoelhar, os conselheiros alertam. "Vemos a escola de um outro ponto de vista. O que chega até nós nem sempre é muito bonito", diz Nelci Freitas, 46.
Dois lados
É uma bola dividida. Enquanto professores reclamam maciçamente da ausência dos pais, pais lamentam a falta de compromisso dos professores com a educação. O resultado dessa partida é um aluno desadaptado que, segundo os especialistas, se vê diante de um problema que não está apto a resolver. "A proposta pedagógica de muitas escolas não responde à realidade do aluno. O que ele vai discutir em casa se o colégio não inclui a família na sua rotina?", pergunta a conselheira Edi Castilho, 49, para quem os pais sequer têm intimidade com a escola o bastante para se aproximar.
Para Renato Cordeiro, os professores precisam levar em conta que muitos pais se sentem numa situação de inferioridade em relação à escola e sequer imaginam como são feitas as avaliações. "O que chega aos ouvidos deles é a informação de que os filhos podem reprovar. Essa idéia é muito reforçada. Muitas vezes temos de ir até as instituições e pedir para que a criança tenha uma nova chance", comenta a conselheira Menaide Dapper, 50.



