A dificuldade de acesso aos livros não se restringe aos municípios que não têm bibliotecas. Há também cidades, algumas de grande porte, com apenas uma unidade, o que faz com que com os moradores das periferias fiquem excluídos.
Os leitores de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, estão entre os que sofrem com a distância. Os livros podem ser emprestados no Centro, mas quem mora no bairro Guarituba, por exemplo, tem de percorrer 10 quilômetros para chegar ao local. O município espera ajuda do estado para construir uma biblioteca mais próxima do bairro.
Os 306 mil moradores de Ponta Grossa também contam com apenas uma biblioteca pública. Existem espaços destinados ao empréstimo de livros em escolas e faculdades, mas o conceito de uma estrutura cultural voltada para o incentivo à leitura existe em apenas um local na cidade: uma antiga e revitalizada estação ferroviária. No prédio central, bem ao lado do maior terminal de transporte coletivo , a fiação elétrica é antiga, fraca e escassa e, como o imóvel é tombado pelo patrimônio histórico, não pode ser amplamente reformado. O resultado é que não há computadores no local. A consulta aos títulos do acervo depende dos fichários nos arquivos de metal. Os problemas de infraestrutura da biblioteca devem ser resolvidos em seis meses. Está em construção um prédio para a biblioteca, com três andares. O problema da centralização, porém, vai persistir, já que a cidade continuará com uma biblioteca pública.
Por mês, cerca de 2 mil pessoas frequentam a biblioteca de Ponta Grossa. De acordo com a bibliotecária Bianca Tammenhaim, a maioria dos frequentadores é estudante, em busca de informações para trabalhos escolares e obras exigidas em vestibulares. Tamires Domiak, 17 anos, buscou a biblioteca pública quando não achou no acervo do curso que frequenta um livro listado para o vestibular. Ela reclamou da falta de informatização do sistema de consulta, mas achou a coleção bem variada. Enquanto Tamires fazia sua primeira visita ao espaço, Thales de Oliveira Gomes, 18 anos, é frequentador assíduo. "Gosto porque é mais calmo para ler", diz.
Centro cultural
Escritor, colunista da Gazeta do Povo e pró-reitor de Extensão e Assuntos Culturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanchez Neto é contra a centralização dos livros num único espaço. "A biblioteca precisa estar no bairro, tem de ser próxima, fazer parte do cotidiano", avalia. Sanchez destaca também que não poder ser apenas um depósito de livros ou um lugar de se fazer trabalho e pesquisa, mas deve ser um centro cultural, um ponto de encontro das pessoas. "Precisa ser um lugar livre, lúdico e agradável de ficar. Um espaço vivo e não um arquivo morto", diz.
Crítico cultural e pesquisador, Ben-hur Demeneck constatou que as bibliotecas de Maringá, com 100 mil livros, e de Londrina, com 80 mil, são bem maiores que a de Ponta Grossa, com 32 mil. Demeneck também questiona a variedade de títulos à disposição. Dos 59 livros ganhadores do Prêmio Jabuti maior referencial nacional em premiação literária nas categorias Romance e Poesia entre os anos de 1997 e 2007, apenas quatro podem ser encontrados nas prateleiras da biblioteca pública de Ponta Grossa. "Não que precise ter todos os premiados, mas é um indicador. E é como a biblioteca tivesse virado as costas a crítica nacional", analisa.



